Ciência e Saúde

Embrapa lança primeira planta geneticamente modificada produzida no país

Aprovada no mercado internacional, a tecnologia começa a ser usada este ano em oito estados e no Distrito Federal

Vilhena Soares
postado em 26/08/2015 06:05

Maior produtor de soja do mundo, ao lado dos Estados Unidos, o Brasil conta agora com uma versão geneticamente modificada do grão totalmente desenvolvida no país. Apresentada ontem pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a variante deve ser aplicada em conjunto com um herbicida ao qual ela é resistente, favorecendo assim o controle de pragas que ameaçam a lavoura. A nova tecnologia, chamada de Cultivance, foi testada, patenteada ; estando pronta para ser comercializada internacionalmente ; e começará a ser usada ainda este ano por produtores brasileiros em áreas mais atingidas por plantas daninhas.

O trabalho da Embrapa teve como início a modificação de um gene chamado ahas (aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana pela empresa de biotecnologia Basf, parceira da empresa brasileira no projeto, iniciado em 1997. ;A Basf isolou o ahas para saber como ele funciona e encontrou um potencial para seu uso na área agrícola. Já a Embrapa tinha a tecnologia de transformação. Trabalhamos com o gene até chegar a uma linhagem mais completa, e o introduzimos no genoma da soja, com uma melhor expressão e com tolerância ao herbicida, chamado Soyvance Pré, que estava sendo desenvolvido em paralelo;, explica Carlos Arrabal Arias, pesquisador da Embrapa Soja.

Arias afirma que a nova soja deve ser utilizada sempre com o herbicida e também em um sistema de rodízio com outros tipos de soja, para evitar que as ervas daninhas que ameaçam a lavoura também se tornem resistentes ao veneno. ;É muito importante que o agricultor tenha outra opção de herbicida para fazer o controle dessas pragas, para que elas não tomem conta da plantação. Você utiliza o Cultivance ; a soja e o herbicida ; em um ano e, no período seguinte, utiliza outro tipo de grão e herbicida, já que a soja convencional e outros gêneros modificados não possuem resistência a esse produto. Essa rotatividade evita que se crie mais resistência das plantas daninhas;, ensina o especialista.

Uma importante vantagem da nova tecnologia é a redução do uso de inseticida, que só precisa ser empregado uma vez por ano, diferentemente dos usados atualmente, que exigem duas ou três aplicações. ;O novo herbicida vai fazer o controle das ervas daninhas que estão nascendo ali com a soja e também combater as que vão nascer depois. A aplicação única diminui a necessidade de entrar com o pulverizador, gastar água, combustível. O custo de produção é reduzido com isso. São muitos ganhos em um único pacote;, detalha Arias.

Autorizações

Após a modificação genética, a Embrapa realizou testes em três safras, de sete regiões brasileiras, para analisar se a soja teria o mesmo comportamento da utilizada atualmente. Ao observar dados como rendimento, altura das plantas, qualidade das sementes e de óleo e teor de proteína em laboratório, o grão e o herbicida mostraram-se bem-sucedidos. Em 2009, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a comercialização da tecnologia no mercado brasileiro.

As duas empresas produtoras seguiram, então, em busca da autorização de venda do produto em países compradores da soja. Ela foi aceita para importação em 17 países, incluindo a China, além da União Europeia. ;Decidimos esperar o sim dos outros países para introduzi-la no Brasil. Foi por conta disso que tivemos esse intervalo grande para o lançamento, de 2009 até hoje;, justifica o cientista.

O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, comemora o sucesso da empreitada. ;É a primeira vez que uma planta de soja geneticamente modificada completamente desenvolvida no Brasil, desde o laboratório até a comercialização, entra no mercado, e com aprovação dos principais países importadores;, frisou. ;Essa é mais uma pesquisa de grande valor da Embrapa, uma nova alternativa para que os produtores possam controlar essas plantas daninhas, fazendo com que tenham mais ganhos, conseguindo mais resultados;, disse a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, presente à cerimônia de lançamento, ontem em Brasília.

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