Ciência e Saúde

Cientistas holandeses sugerem vacina com químio para reduzir câncer

A combinação de uma substância contra o HPV e o tratamento anticancerígeno tradicional amenizou tumores no colo do útero de ratos e mulheres. A técnica criada por cientistas holandeses pode abrir nova frente de combate aos carcinomas

Vilhena Soares
postado em 14/04/2016 06:05


A vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) evita a contaminação pelo micro-organismo que causa 98% dos casos de câncer do colo do útero. Mas, além da proteção, ela pode ser usada no tratamento desse tumor. É o que sugerem cientistas da Holanda na edição desta semana da revista Science Translational Medicine. Ao unirem uma vacina experimental com a quimioterapia, eles conseguiram diminuir o tumor e aumentar a sobrevida em ratos. Testes com mulheres também mostraram redução de células cancerígenas.

Os cientistas acreditam que os resultados foram alcançados graças a um reforço do sistema imunológico proporcionado pela vacina. Eles também têm a esperança de que a estratégia possa ser usada no combate a outros tipos de cancros. Em 2009, a equipe desenvolveu uma vacina para o HPV que mostrou alto grau de proteção em testes iniciais com pessoas saudáveis. Em busca de mais ganhos, resolveram observar se o medicamento também mostrava benefícios em mulheres já diagnosticadas com tumores. ;Nós testamos essa vacina em pacientes com câncer e a resposta imunitária foi muito fraca;, contou Sjoerd Van Der Burg, um dos autores do estudo e pesquisador do Hospital Universitário Leids Universitair Medisch Centrum.

Após a tentativa frustrada, a equipe resolveu investigar se a vacina combinada com o medicamento padrão da quimioterapia traria melhores resultados. A união de procedimentos surpreendeu: a redução do tumor e a sobrevida das cobaias foram maiores se comparados aos efeitos da químio isolada. Um segundo teste foi feito com 19 pacientes que sofriam de câncer do colo do útero em estado avançado. Duas semanas depois da quimioterapia, elas receberam o tratamento conjunto e também constatou-se redução dos tumores. ;A vacina estimula os linfócitos (células brancas do sistema imune) do paciente para se tornarem ativos e reconhecerem o tumor. Desse modo, o sistema imunitário começa a lutar contra o câncer mesmo quando a quimioterapia não é mais ministrada;, explicou Van Der Burg.

João Serafim da Cruz Neto, coordenador do Ambulatório de Obstetrícia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, explica que os ganhos relatados no estudo podem ser atribuídos principalmente à ação de duas substâncias importantes do sistema imunológico. ;Durante a quimioterapia, os linfócitos diminuem e os mielócitos, outra linhagem de células de defesa, ficam em nível normal. Com a associação da vacina, os pesquisadores viram que a resposta das células de defesa era melhor, já que os mielócitos voltavam ao nível padrão e os linfócitos davam respostas mais exacerbadas. Isso interfere no tamanho dos tumores, já que essas substâncias inibem o crescimento tumoral;, detalhou.

Neto também destaca que o experimento holandês mostra que a vacina pode assumir um papel diferente do original, apenas protetivo, mas ressalta que outras análises devem ser feitas para confirmar se os ganhos observados nos experimentos iniciais podem ser considerados como um novo tratamento. ;Nesse estudo, a vacina age como um adjuvante à quimioterapia. Os resultados são importantes, mas é preciso destacar também que os pacientes testados se encontravam no estágio avançado do câncer, uma situação em que nem a cirurgia pode ser feita. É necessário uma avaliação maior, em outros cenários e com um número maior de participantes;, opinou.

Mais testes

Os cientistas holandeses farão novos testes com o objetivo principal de aumentar a eficácia do tratamento combinado. ;Prevemos que haverá ainda outros obstáculos. Queremos, por exemplo, que os linfócitos ativados tornem-se regulares e também pretendemos combiná-los com outros tipos de anticorpos;, disse Van Der Burg. O médico exemplifica que o câncer de ovário se comporta de forma semelhante ao do útero. ;Isso sugere que, se futuramente tivermos disponível uma vacina para esse tipo de tumor, essa terapia também pode funcionar na luta contra esse câncer.;

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