Ciência e Saúde

Médicos analisam uso de apps para tratamento de distúrbios psiquiátricos

A maioria dos apps não tem fundamento científico, mas, segundo especialistas, há opções promissoras e acessíveis

Paloma Oliveto
postado em 22/05/2016 08:05

A maioria dos apps não tem fundamento científico, mas, segundo especialistas, há opções promissoras e acessíveis


Ultimamente, passa-se mais tempo com eles do que com a própria família. Estão ali, a qualquer hora do dia, sempre disponíveis. Por isso, pesquisadores começam a investigar o potencial dos smartphones como ferramenta no tratamento de distúrbios comportamentais e psiquiátricos, como ansiedade e depressão. Em um mundo com mais de 1,6 bilhão de usuários de celulares que têm acesso à internet ; 76 milhões deles no Brasil ;, aplicativos desenvolvidos por especialistas podem ajudar os mais de 120 milhões de pacientes que sofrem desses problemas. Contudo, os cientistas também alertam que a qualidade da maioria dos apps ainda deixa a desejar.

De acordo com David Mohr, diretor do Centro de Intervenções Tecnológicas Comportamentais da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, diante do número crescente da incidência de transtornos mentais, é preciso tornar os tratamentos acessíveis. ;Essa é uma estratégia que pode ajudar milhões de pessoas que não têm os cuidados adequados para depressão e ansiedade por questões como falta de tempo, de dinheiro ou relutância de falar com um terapeuta;, afirma. ;Nos Estados Unidos, 20% da população sofrem sintomas significativos de ansiedade e depressão, mas só 20% estão recebendo tratamento adequado;, justifica.

O psiquiatra, especialista em medicina preventiva, conta que o campo da saúde mental móvel está crescendo bastante e entusiasmando profissionais da área. Na Universidade de Northwestern, Mohr ajudou a desenvolver um conjunto de 12 miniaplicativos interativos gratuitos, desenhados para diversas situações. Por exemplo, se o usuário está inseguro sobre um encontro profissional, há um app só para ajudá-lo a lidar com esse tipo de ansiedade. Se acha que a vida não faz sentido, acessa outro aplicativo do grupo. Com base nos acessos e nas informações repassadas pelo usuário, um algoritmo sugere, a cada semana, um novo aplicativo, estratégia que visa evitar que o tédio desestimule a continuidade no programa. Todos eles trazem textos, testes e exercícios práticos.

;Esse é o princípio do tratamento personalizado. O aplicativo é inteligente e detecta as necessidades do paciente, que vai receber exatamente o que precisa;, afirma Mohr. ;Todo esse trabalho foi desenhado por clínicos de Northwestern tendo por base técnicas terapêuticas validadas. Isso é muito importante. Nós testamos o que fizemos e podemos garantir que essa é uma estratégia que funciona;, destaca. De acordo com ele, a maioria dos aplicativos de saúde mental disponíveis para iOS e Android não tem fundamento científico nem oferece estratégias que tenham sido testadas em pesquisas. Nas versões brasileiras da loja da Apple e do Google, há poucos aplicativos em português ; nenhum deles desenvolvido aqui, mas traduzidos do inglês.

Confiança

Essa também é a preocupação de Steve Flatt, professor de psicologia da Unidade de Liverpool, no Reino Unido, que pesquisou a procedência e a validade dos aplicativos de saúde mental recomendados pela Associação Nacional de Saúde (NHS, sigla em inglês) da Inglaterra. Para a surpresa de Flatt, ele descobriu que não há provas de que 85% deles de fato funcionem. ;Isso é muito grave porque têm o selo de aprovação de um dos maiores sistemas de saúde do mundo. As pessoas acabam confiando e baixando esses aplicativos;, critica. ;Até serem validados por pesquisas clínicas, eles deveriam sair da lista de recomendação da NHS;, defende.


"Essa é uma estratégia que pode ajudar milhões de pessoas que não têm os cuidados adequados para depressão e ansiedade por questões como falta de tempo, de dinheiro ou relutância de falar com um terapeuta;

David Mohr, diretor do Centro de Intervenções Tecnológicas Comportamentais da Universidade de Northwestern (EUA)


Assim como David Mohr, o pesquisador inglês acredita que o smartphone será de grande valia para o manejo de transtornos mentais. ;Na Inglaterra, um em cada 10 pacientes com problemas mentais espera mais de um ano antes de conseguir tratamento. Um em cada três espera mais de três meses. O mais grave disso é que um em cada seis que estão nesse aguardo comete suicídio e quatro em 10 vão tentar se ferir;, enumera. ;Por isso, tratamentos interativos on-line ou por meio de aplicativos são tão importantes. Contudo, perdem a validade caso não tenham credibilidade científica, não sejam descritos em estudos revisados pelos pares nem testados clinicamente;, insiste.

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