Ciência e Saúde

Técnica de eletroestimulação ajuda deficientes a retomar movimentos

Pacientes com lesão na coluna há dois anos têm alguns dos movimentos perdidos restabelecidos após a aplicação de um método que pode ser adotado facilmente por hospitais de todo o mundo

Vilhena Soares
postado em 16/07/2016 08:00

Pesquisadores finlandeses apresentaram ontem uma técnica que pode facilitar a vida de pessoas que perderam o movimento dos membros devido a uma lesão na medula espinhal. Com a ajuda de uma técnica de eletroestimulação, os cientistas conseguiram restabelecer alguns obtiveram em um paciente tetraplégico (que sofreu lesão a uma altura da coluna que afeta o movimento dos quatro membros) e em um paraplégico (apenas os membros inferiores são prejudicados). Embora digam que a metodologia ainda precise passar por outros testes, os autores acreditam que ela possa estar disponível em qualquer hospital.

A técnica utilizada foi desenvolvida pelo alemão Joseph Classen em 2000. Desde então, tem sido extensivamente estudada em indivíduos saudáveis e também para induzir mudanças plásticas no trato córtico (região que une o córtex cerebral aos neurônios da medula). No entanto, ela nunca havia sido usada em pacientes com lesões medulares. ;As definições usadas nesse estudo diferem das experiências de estimulação tradicionais. No entanto, o equipamento utilizado nesse projeto está prontamente disponível em muitos hospitais em todo o mundo, e, portanto, pode ser usado em muitos lugares;, explica ao Correio Anastasia Shulga, neurologista do Laboratório BioMag no Hospital Universitário de Helsinki e uma das autoras do estudo.

O tratamento consistiu em realizar uma estimulação magnética repetitiva durante seis meses no cérebro e em nervos espalhados pelo corpo dos pacientes, que tinham sofrido a lesão medular havia dois anos e tinham passado por uma reabilitação convencional. Ambos tinham perdido o movimento completo das pernas, e o participante tetraplégico realizava apenas poucos movimentos com as mãos. A estimulação se concentrou no crânio e nos nervos periféricos, estruturas responsáveis por levar e trazer informação ao cérebro espalhados por todo o corpo.

Após o semestre de tratamento, o voluntário paraplégico conseguiu dobrar os tornozelos, e o tetraplégico, segurar um objeto com as mãos, um grande avanço para sua autonomia cotidiana. Observou-se ainda um reforço nas conexões neurais, que, segundo os pesquisadores, foram a chave para a restauração dos movimentos. ;O mecanismo mais provável para que essa recuperação tenha ocorrido foi o fortalecimento das conexões neurais residuais. Assim, apenas aqueles pacientes que têm fibras neurais ainda preservadas se beneficiariam desse tratamento;, detalhou a autora.

Mesmo passado um mês do fim do tratamento, o movimento restaurado se manteve. Os pesquisadores ficaram satisfeitos com os resultados, mas acreditam ser necessária a realização de testes em outros pacientes. ;Mais estudos são necessários para confirmar se, a longo prazo, essa estimulação associativa emparelhada pode ser utilizada na reabilitação após a lesão medular por si só ou, possivelmente, em combinação com outras estratégias terapêuticas;, detalha, em comunicado, Jyrki Makela, chefe do laboratório BioMag e um dos autores do estudo.

Animador

Para João Vitor Leme, fisioterapeuta da clínica Ibphysical, em Brasília, o trabalho mostra resultados animadores. ;O que há de melhor para se destacar são os resultados positivos encontrados em ambos participantes, demostrando uma melhora nos aspectos funcionais motores. Esse é um assunto pouco abordado pela literatura. Até então, o uso da eletroestimulação transcraniana foi descrito mais no tratamento de transtornos depressivos de forma não invasiva. Agora, ela passou a ser pesquisada no tratamento de indivíduos com distúrbios motores;, analisa o profissional, que não participou do estudo.

O especialista ressalta que a estimulação cortical não invasiva foi desenvolvida para aplicação de dores crônicas e, com a evolução científica, passou a ser aplicada em outras patologias, como: AVC, Parkinson, Alzheimer, transtorno depressivo e ansiedade. ;O princípio fisiológico da ativação cortical ocorre de maneira positiva por meio da reativação de estruturas neurais hipoativas, ou seja, de baixa ativação, ou pela inibição de estruturas hiperativas, afetando a excitabilidade neural a partir de pulsos magnéticos únicos e pareados;, detalha, ressaltando que concorda com a necessidade de mais testes. ;Temos vários estudos de reabilitação que, muitas vezes, são apenas estudos de caso, como nesse artigo. É preciso ter amostras maiores para comprovar que a intervenção é realmente eficaz.;

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