Ciência e Saúde

Especialistas defendem medidas mais agressivas contra o cigarro

Campanha antitabagismo em Montevidéu: país reduziu o número de fumantes adultos em 23% em menos de 10 anos

Paloma Oliveto - Enviada Especial
postado em 05/12/2016 23:07
Doha ; Sobretaxar cigarros, endurecer a legislação sobre o fumo e criar campanhas de massa a respeito dos malefícios do tabagismo são medidas urgentes para que o mundo consiga reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares em 25% nos próximos 10 anos. O alerta é de um relatório apresentado na Cúpula Mundial de Inovação para a Saúde (Wish, conforme sigla em inglês), encerrada no dia 30, na capital do Catar. Todos os anos, 17,5 milhões de pessoas morrem em decorrência de infartos e derrames, e boa parte desses óbitos é prematura, diz o documento.

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Nos últimos 25 anos, a mortalidade por doenças cardiovasculares aumentou 40% globalmente, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as Federações Mundiais do Coração a lançar a ousada meta de reverter esse quadro, reduzindo os óbitos em um quarto até 2025, tendo 1990 como base. Mas o coautor do relatório, Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, diz que, apesar de ;progressos significativos; nesse sentido, incluindo iniciativas regionais, como a estratégia brasileira Saúde da Família, o objetivo dificilmente será alcançado, a não ser que se adotem medidas mais agressivas.

Entre elas, Reddy destaca as que visam combater o tabagismo, hábito que contribui para aproximadamente 10% de todas as mortes por doenças cardiovasculares. Globalmente, o cigarro mata pelo menos 6 milhões de pessoas por ano ; especialmente por ataque cardíaco e derrames. ;Além disso, embora o tabagismo esteja decrescendo pelo mundo, o número de fumantes continua crescendo, a medida que a população aumenta;, afirma.

Em 1980, havia 721 milhões de fumantes no planeta. Em 2012, eles eram 967 milhões. O Brasil está em décimo lugar no ranking dos países que registraram maior aumento de tabagistas em três décadas: 5,8 milhões ; é a única nação fora da Ásia, além da Turquia, a aparecer na lista. A China aparece no topo. Entre 1980 e 2012, o país ganhou mais 99,6 milhões de fumantes.

Exemplo uruguaio


Os números alarmantes poderiam ser reduzidos, de acordo com Reddy, caso medidas mais duras contra o cigarro fossem adotadas. Embora 80% do globo tenha ratificado a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, organizada pela OMS, o autor do relatório ressalta que nem todos os países colocaram em prática ações avançadas de controle do tabagismo. Alguns, porém, são citados como exemplo. Caso do Uruguai, primeira nação da América Latina a banir o fumo de locais fechados, em 2006.

O cardiologista uruguaio Eduardo Bianco, presidente do Centro de Pesquisa Epidemiológicas sobre Tabaco, disse ontem que as medidas agressivas surtiram efeitos significativos. ;Nos levamos essa batalha muito a sério no Uruguai e fico muito contente em dizer que, como resultado direto, reduzimos o consumo entre jovens de 22,8% para 8,2% em menos de uma década;, afirmou, durante um painel sobre doenças cardiovasculares.

Na população adulta, o número de fumantes caiu 23%, o que levou a redução de 22% das hospitalizações associadas a infarto agudo do miocárdio. Além de proibir o fumo em locais fechados, o Uruguai aumentou os impostos, promoveu campanhas e, entre outras medidas, exigiu que 80% das embalagens (frente e verso) de cigarro exibissem mensagens sobre os malefícios do produto.

;Acho absolutamente importante prevenir mortes e doenças eminentemente evitáveis;, destacou Srinath Reddy. ;Sabemos o que causa essas doenças e sabemos o quão efetivas podem ser as intervenções se aplicadas apropriadamente. Precisamos garantir que esse conhecimento seja traduzido em ações, que as ações resultem em impactos e que esses impactos reflitam a equidade na saúde.;


*A repórter viajou a convite da Qatar Foundation

;Sabemos o quão efetivas podem ser as intervenções se aplicadas apropriadamente. Precisamos garantir que esse conhecimento seja traduzido em ações, que as ações resultem em impactos e que esses impactos reflitam a equidade na saúde;
Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia

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