Ciência e Saúde

Casamentos estáveis são capazes de reduzir efeitos do AVC, diz estudo

Segundo uma pesquisa da Carolina do Norte, o risco de morte após um derrame pode ser até 71% maior para adultos que nunca se casaram, em comparação àqueles em casamentos estáveis

Victor Correia*
postado em 04/04/2017 06:00
O histórico das relações foi medido a partir de perguntas detalhadas sobre as datas de início e fim do casamento presentes em questionários respondidos a cada dois anosSegundo a Federação Mundial do Coração (WHF), cerca de 15 milhões de pessoas sofrem acidente vascular cerebral (AVC), conhecido também como derrame, a cada ano. Dessas, 5 milhões acabam com sequelas permanentes e 6 milhões morrem. Alguns dos fatores de risco podem ser eliminados ou monitorados, como o tabagismo e a pressão alta. Outros, contudo, não são controláveis, como a idade avançada e o histórico familiar. Agora, um estudo norte-americano aponta mais um possível influenciador: o casamento.

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[SAIBAMAIS]A pesquisa ; publicada no Journal of the American Heart Association e liderada pelo professor de medicina Matthew Dupre, da Duke University, na Carolina do Norte ; sugere que o risco de morte após um derrame pode ser até 71% maior para adultos que nunca se casaram, em comparação àqueles em casamentos estáveis. Para pacientes que passaram por um divórcio ou que ficaram viúvos, o risco de morrer devido a um derrame é 23% e 25% maior, respectivamente. O número de interrupções no estado civil também é fator importante, aumentando a vulnerabilidade. Aqueles que se divorciaram ou ficaram viúvos mais de uma vez têm 39% e 40% mais chances de morte após um derrame, em relação aos adultos continuamente casados.

O estudo envolveu 2.351 pacientes que tiveram AVC entre 1992 e 2010. O histórico das relações foi medido a partir de perguntas detalhadas sobre as datas de início e fim do casamento presentes em questionários respondidos a cada dois anos. Os pesquisadores definiram o estado civil dos participantes como nunca casado, continuamente casado, casado novamente, divorciado ou viúvo. O grupo de controle foram os adultos em matrimônio estável.

Mais da metade dos participantes ; 1.382 pessoas, 58% do total ; morreu durante o período do estudo. Todas as causas de morte foram consideradas relacionadas ou não à doença. Além do estado civil, os pacientes que morreram eram, em geral, mais velhos, menos educados e com renda menor do que os sobreviventes. Eles também apresentaram maior probabilidade de não ter filhos, apresentar sintomas depressivos, fazer menos exercícios físicos e tomar remédios para hipertensão.

Os pesquisadores descobriram também que, em caso de divórcio ou morte, um novo casamento não diminuiu o risco de óbito. ;Pode ser que o estresse agudo e crônico causado pela perda de um parceiro tenha um papel importante na mortalidade;, diz Matthew Dupre ao Correio. ;Suspeitamos também que a instabilidade matrimonial pode ter consequências negativas na regularidade ao tomar medicamentos, procurar serviços de saúde e outros comportamentos essenciais à recuperação.;


Silencioso

O derrame acontece quando há uma interrupção no fluxo de sangue no cérebro. Apesar do nome, a doença é mais comumente causada por um coágulo, que obstrui um vaso sanguíneo no órgão. Nesse caso, ocorre o chamado AVC isquêmico. Porém, em 20% dos casos, há rompimento de um vaso, causando uma hemorragia que destrói os tecidos ao redor do local. As duas variedades da doença são perigosas e podem causar perda de funções cerebrais e até levar à morte.

;O derrame mata cerca de 100 mil pessoas por ano no Brasil e fica em primeiro ou segundo lugar entre as causas de morte no país, dependendo do sexo;, ressalta Fausto Stauffer, diretor de pesquisas da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Segundo o médico, a prevenção da doença ; que acontece subitamente e sem aviso ; é feita com o controle dos fatores de risco. ;O principal é a hipertensão. O risco de um hipertenso sofrer um AVC é cinco vezes maior do que uma pessoa com pressão controlada;, afirma. ;Também são fatores diabetes, sedentarismo, tabagismo e colesterol alto, que aumentam a chance de formação de placas de gordura no sangue.; Todas essas condições podem ser controladas, diferentemente de questões como o histórico da doença na família, a idade avançada e até o sexo ; mulheres sofrem mais derrames do que os homens.

Segundo Matthew Dupre, o casamento entra na categoria de fatores não modificáveis. ;Não é como dietas ou exercícios, mas é importante que as pessoas entendam como ele pode influenciar a recuperação após uma doença séria como o derrame;, reforça. ;Em particular, os pacientes divorciados ou viúvos mais de uma vez devem considerar uma conversa com seu médico sobre maneiras de reduzir os riscos e tomar medidas para aumentar as chances de sobrevivência a longo prazo.;

Fausto Stauffer observa que não há resultados conclusivos sobre o efeito protetivo do casamento. ;A pessoa casada acaba tendo uma preocupação maior com a saúde. Além disso, ela tende a ser mais feliz, o que comprovadamente traz benefícios cardiovasculares. Nós não temos ainda resultados especificamente sobre o casamento, mas há estudos bem fortes que mostram que pessoas felizes, sem depressão e menos isoladas são mais saudáveis e se recuperam mais rápido após uma doença.;

O estudo foi realizado com base em observações, e, de acordo com os investigadores, são necessárias pesquisas direcionadas para confirmar os resultados. ;Precisamos de mais estudos para saber todas as implicações clínicas das descobertas atuais;, diz Matthew Dupre. ;Até lá, esperamos que nossa pesquisa traga maior consciência sobre essas associações e ajude médicos a reconhecer e tratar melhor pacientes que podem estar sob maior risco de morrer após um derrame.;

*Estagiário sob a supervisão de Carmen Souza.



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