Ciência e Saúde

Cientistas buscam detalhes sobre o gelo encontrado na superfície de Marte

Novos detalhes sobre as condições marcianas poderão facilitar a realização de missões tripuladas

Vilhena Soares
postado em 12/01/2018 06:00

Gelo no polo norte de Marte: a análise de registros feitos pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter permite traçar uma história do clima da região


Para que um planeta seja considerado habitável, ele precisa preencher alguns requisitos, como ter temperaturas estáveis e água na superfície. Buscar e decifrar essas particularidades é uma das tarefas de astrônomos e outros cientistas dedicados a explorar o espaço. Esses trabalhos resultaram na descoberta, por exemplo, da presença de gelo em Marte. Agora, com a ajuda de dados coletados pela espaçonave Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), um grupo de pesquisadores americanos chegou a detalhes da água sólida do planeta vermelho. A equipe conseguiu observar traços importantes de oito depósitos de gelo e detalhou o trabalho na última edição da revista Science.


;A extensão de gelo marciano e a profundidade foram previstas, em teoria, em pesquisas passadas. No entanto, a estrutura vertical (subterrânea) do gelo permanecia desconhecida, incluindo camadas, espessura e pureza;, conta ao Correio Colin Dundas, geólogo, pesquisador do Centro de Pesquisa Científica USGS, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo científico. A presença do gelo em um planeta pode afetar a sua geomorfologia, além de carregar consigo um registro da história do clima da região, característica que pode ajudar em previsões de transformações locais.

Dundas e sua equipe analisaram oito crateras da superfície de Marte com quantidades substanciais de gelo e condições íngremes, criadas por erosões. ;Sete estão localizados no hemisfério sul e o oitavo lugar é localizado no norte;, diz Dundas. Os cientistas analisaram imagens das regiões que foram coletadas ao longo de três anos pela sonda MRO. ;Mars Reconnaissance Orbiter é uma espaçonave lançada em 2005 pela Nasa com colaboração internacional. Ela nos ajudou a encontrar esses declives íngremes que expõem o gelo presente na região;, complementa o cientista.

Por meio da observação de rachaduras e ângulos inclinados, chegou-se à conclusão que as erosões analisadas são rasas ; com um a dois metros abaixo da superfície ; e que o gelo é consistente e forte. Os autores do estudo também destacam que existem poucas rachaduras na superfície das regiões analisadas, o que sugere uma formação não muito antiga. ;O gelo, em nossos locais de estudo, provavelmente foi depositado como neve em tempos geologicamente recentes;, ressalta Dundas.

As imagens também mostram pedaços maciços de rocha que caíram à medida que as erosões ocorreram, levando os pesquisadores a estimar que o gelo está se retraindo alguns milímetros a cada verão de Marte. Além disso, variações de cor sugerem a existência de camadas distintas. Para os cientistas, as ;folhas de gelo; provavelmente se formaram com a neve acumulada ao longo do tempo. ;Essas camadas nos ajudam a entender a estrutura vertical do gelo, como ele foi montado, e, no futuro, poderiam levar a informações sobre a história da queda de neve nessas regiões;, diz o autor.

A explorar

Mas há muito a explorar no planeta vermelho. A equipe ressalta, por exemplo, que os dados da sonda não permitem a identificação da estrutura das folhas de gelo e da cobertura rochosa. ;Continua desconhecido se o gelo a poucos metros da superfície tem as mesmas origem e idade que o mais profundo, porque o gelo superior é mais facilmente modificável e melhor adaptado ao clima recente;, pontua o artigo divulgado.

Como o gelo só é visível onde o solo superficial foi removido, Dundas e sua equipe acreditam que é provável que a quantidade de água em forma sólida presente na superfície de Marte seja ainda mais extensa do que a que foi detectada por eles. Ainda assim, reforçam que os resultados do trabalho poderão ajudar na missão de levar astronautas ao planeta vermelho. ;Essas profundidades rasas tornam as folhas de gelo potencialmente acessíveis para exploração futura;, escreveram.

Sonda da água

Foi lançada no dia 12 de agosto de 2005, na base de Cabo Canaveral, no estado da Flórida. Foi o quarto satélite artificial enviado para Marte. Diferentemente da aparelhagem anterior, que tinha como objetivo identificar locais de pouso futuro, a MRO procura água na região. A sonda possui 6,50m e conta com 12 instrumentos em sua mecânica, que garantem sua comunicação com a Terra. Para conseguir orbitar o planeta vermelho, viajou 500 mil quilômetros durante sete meses.

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