Desafios 2018

Brasileiro perde até R$ 7 mil sem a reforma, diz ministro do Planejamento

Ministro do Planejamento estima que, em cenário de estresse do mercado, elevação do risco-país terá impacto na renda per capita e na dívida do país

postado em 26/12/2017 06:00
Ministro do Planejamento estima que, em cenário de estresse do mercado, elevação do risco-país terá impacto na renda per capita e na dívida do país
Um estresse no mercado financeiro, gerado por incertezas na economia brasileira, poderá levar a perdas entre R$ 4,5 mil e R$ 7 mil para cada brasileiro. A estimativa, do ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, é baseada em cenários que indicariam uma alta no contrato de swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês), indicador que mede o risco-país, no caso de não aprovação da reforma da Previdência.

;Mais risco-país significa alta no dólar, taxas de juros mais elevadas, custo financeiro das empresas maior, custo de crédito aos consumidores mais alto e isso reduz a renda disponível das pessoas, derruba o consumo e o crescimento;, explica o ministro. Segundo ele, se o CDS, que atualmente está em cerca de 170 pontos, subisse para 300 pontos, o impacto no crescimento seria perda de 1,3 ponto percentual. ;Se estamos falando de um crescimento de 3%, ele cairia para 1,7%;, estima.

Nesse cenário, de um CDS de 300 pontos cada brasileiro perderia em termos de renda per capita R$ 2,7 mil. Além disso, a dívida aumentaria R$ 1,7 mil para cada cidadão. Mas, frisa o ministro, não se sabe que nível esse indicador poderia alcançar em um cenário de maior deterioração das expectativas. ;O risco-país a gente não sabe para onde vai. Já esteve em 500. E pode voltar paraos 500? Não sabemos;, frisa. Portanto, cada brasileiro pode perder de
R$ 4,5 mil a R$ 7 mil pela não aprovação da reforma;, calcula.

O Brasil conta hoje com o que o ministro classifica como ;prêmio da credibilidade fiscal;, em que algumas variáveis da economia brasileira estão descoladas dos seus fundamentos principais. ;Desde o fim do ano passado, houve um descolamento completo. O nosso nível de endividamento continuou crescendo em virtude dos próprios deficits, das dificuldades que ainda temos, e os juros futuros vêm caindo. A mesma coisa aconteceu com o risco país. O nosso deficit nominal, que se correlaciona muito bem com o risco-país, foi mantido em um nível elevado. Já o risco-país começou a cair a partir de meados do ano passado. A mesma coisa se vê na relação do CDS com a inclinação da curva pré (de juros futuros prefixados) do Brasil;, analisa.

Ativos


Segundo Oliveira, as pessoas estão acreditando na política econômica e no governo, e isso está afetando os preços dos ativos no mercado financeiro. ;Isso é bom, muito positivo e é o resultado de todo um trabalho de coordenação da política econômica, de ações efetivas, de recuperação da economia e de criação de credibilidade;, destaca.

Na avaliação dele, o risco é de que a não aprovação da Reforma da Previdência possa reverter as expectativas de forma muito rápida. Com a reforma, o nível de dívida do país estacionaria em torno de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos, o que não seria um cenário confortável em relação ao de outros países, mas não se pode comparar a situação brasileira a de países desenvolvidos. ;Japão, Itália, outros países que já têm renda per capita elevada, podem carregar um nível de dívida mais elevado, porque têm custos baixos dessa dívida;, avalia.

Apesar dos riscos, Oliveira considera que o crescimento para 2018 está basicamente definido. ;Agora, se a Previdência e as outras reformas avançarem, nós vamos ter um crescimento adicional. Nós temos a opção de sancionar o incremento maior ou de termos um ciclo curto de avanço na atividade e um cenário para 2018 menos brilhante do que podemos de fato ter;, avisa.

Dinheiro na mão

Em 2018, continuará aumentando o volume de recursos na mão do consumidor, o que foi o principal motor da economia em 2017, segundo o ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira. Para ele, a redução da taxa de juros, o crescimento da renda real e medidas adotadas pelo governo, como a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), disponibilizaram dinheiro aos consumidores, exercendo impacto positivo na economia do país.

;Se a taxa de juros cai, se o custo da dívida das famílias diminui, sobra, portanto, mais dinheiro na mão do consumidor. O que ele faz com isso? Ele coloca esse recurso para girar na economia, e é isso que está provocando o processo de recuperação da atividade produtiva brasileira;, afirma Oliveira.

De acordo com o ministro, a disponibilidade de recursos está aumentando a cada trimestre. ;Isso vai perdurar no ano de 2018 e esse é o principal drive (condutor) da economia no momento. A redução dos juros, dos custos financeiros para as empresas e para as famílias, a recuperação da saúde financeira das companhias e dos trabalhadores e o fim do processo de desalavancagem que nós passamos nos últimos dois anos vão colocar as todos em condições de retomarem as atividades de consumo e de investimento;, projeta.

Na avaliação do ministro, o custo menor do dinheiro às famílias possibilitará a reativação da economia em 2018: ;É um cenário básico de crescimento na casa de 3%, de recuperação do mercado de trabalho, de aumento do consumo, de inflação controlada e de redução dos custos financeiros das famílias;, conclui.

2019 será o ano da verdade


Em 2018, o Brasil deve sentir os efeitos da inflação baixa, colher os frutos da recuperação da economia e ter a percepção clara do novo ciclo de crescimento. Depois das eleições, no entanto, em 2019, é que o brasileiro viverá o ;ano da verdade;. Nele, para continuar o movimento de consolidação da economia e sanar a crise fiscal, a nova equipe do governo eleito terá de negociar os cortes de gastos. ;O Brasil não pode se dar ao luxo de ter um presidente medíocre, pois o desafio fiscal é enorme e ele precisará fazer pontes políticas, negociar e negociar;, afirma a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

Em 2017, houve muitas surpresas, tais como a queda da inflação e da taxa Selic e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). ;Isso não ocorreu porque saímos de uma recessão tão grande que o natural seria cair. São frutos da queda dos juros e de acertos na política econômica. Quando a gente segue o manual, segue políticas racionais e não inventa muito, a capacidade de reação da economia é muito forte;, enfatiza Zeina.

A crise chegou a um patamar profundo porque houve uma negação coletiva dos problemas fiscais e houve desconhecimento disso no processo eleitoral de 2014. ;Quando 2015 chegou, veio com uma grande volatilidade, porque se identificou que o ajuste fiscal era fictício. O país perdeu o grau de investimento e houve o contágio financeiro;, lembra a economista. Só quando ocorreu o enfrentamento da crise fiscal, com reformas, cortes e limites de gastos, é que o país recobrou a confiança.;

Para Zeina, o Brasil sai de sua mais grave crise econômica envelhecido e ainda pobre, com uma sociedade cansada, cujos chefes de família perderam o emprego, e com aumento no número de pobres. ;Como o dinheiro acabou, não há alternativa;, aponta Zeina. ;Ou a gente enfrenta a reforma previdenciária em 2018 ou encara a crise fiscal nos anos seguintes;, sentencia. ;Nossos vizinhos da América Latina estabeleceram a idade mínima na década de 1990. Estamos 20 anos atrasados. Eles também estão envelhecendo, mas não têm a mesma preocupação com o deficit previdenciário;, diz.

O positivo para as reformas e o novo ciclo de crescimento é que o cenário internacional é benigno. ;Há um novo ciclo de crescimento mundial, sem grandes pressões inflacionárias que obriguem apertos monetários. Isso contém a volatilidade do dólar, e a estabilidade da taxa de câmbio nos ajuda;, explica.

Sem lua de mel


Para a economista-chefe
da XP Investimentos, Zeina
Latif, o próximo presidente
não terá lua de mel com o mercado. ;Ele terá uma
agenda de corte de gastos
que vai desagradar um
pouco a todo mundo;, preconiza. ;O próximo
presidente terá que dizer, rapidinho, a que veio.
Tomou posse? Vai ter
que agir em seguida;, alerta.
Tags: reforma

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