Diversão e Arte

Chico Buarque agita a noite da Flip

Nahima Maciel
postado em 03/07/2009 22:32

Chico levou quase mil pessoas ao auditório montado à beira do rio
Paraty (RJ) ;
Chico Buarque fez o público se amontoar em frente à Tenda dos Autores da 7; Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Marcado para começar às 19h, o encontro entre o compositor e o escritor manauara Milton Hatoum reuniu mais de 850 pessoas no auditório montado à beira do rio que corta a cidade.

Quando as portas do local finalmente foram liberadas para o público que pagou R$ 30 para ver Chico falar sobre o romance Leite derramado, teve início a correria em direção às cadeiras mais próximas ao palco. O encontro intermediado pelo crítico Samuel Titan Jr. trouxe revelações.

Em Leite derramado, Chico narra a história de um velho centenário que repassa suas memórias e perpassa quase um século de história do Brasil. O personagem do romance mais recente de Hatoum, Órfãos do Eldorado, também é um velho que revive suas lembranças e atravessa a história do país.

Chico contou que, quando leu o livro de Hatoum, achou a história muito semelhante. "Pensei: ;Esse cara copiou meu livro;". Mas quando verificou a data de publicação do romance, percebeu que Hatoum escrevera a história pelo menos três anos antes de Leite derramado surgir. "Na verdade, ele escreveu mais rápido. Acho que fui eu quem copiei você, Milton", brincou. "Mas eu sou inocente."

Chico apontou que há mesmo muitas coincidências nos dois livros, assim como na vida dos dois autores. Tanto Hatoum quanto o compositor publicaram quatro romances e são formados em arquitetura. Os dois também exercitam a concisão na escrita.

Encomenda

Hatoum contou que, quando começou a escrever Órfãos do Eldorado, percebeu que tinha em mãos um romance, mas precisava reduzi-lo a uma novela. O livro fora encomendado por uma editora escocesa para uma coleção dedicada aos mitos e não podia ter mais de 150 páginas. "Nunca mais faço nada sob encomenda. Nem bilhete", garantiu.

Já Chico arrancou gargalhadas da platéia quando concluiu que as histórias de seus personagens são tão obsessivas e repetitivas que, se fossem descontadas, seu livro teria apenas 20 páginas. O compositor também não disfarçou sua própria obsessão com o personagem e confessou dificuldade em se livrar das figuras dos livros que escreve. "Tenho que sair fora desse personagem. Já até quebrei uma perna, como ele", revelou.

A Flip termina no domingo e ainda será palco de encontros entre o público e convidados como o norte-americano Gay Talese, os franceses Sophie Calle, Grégoire Bouiller e Catherine Millet e o brasileiro Zuenir Ventura.

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