Diversão e Arte

Documentário sobre o artista plástico Cildo e homenagem a Xuxa são atrações do Festival de Gramado

Ricardo Daehn
postado em 08/08/2009 08:30
Cena de Canção de Baal: Carlos Careqa e Simone Spoladore em produção com o espírito independente;O risco da gripe suína é o mesmo em qualquer lugar. Depois de passarmos pela seleção do festival, estamos preparados para qualquer coisa;, brinca o cineasta Paulo Nascimento, ao confirmar a presença na 37; edição do Festival de Cinema de Gramado, que começa amanhã. Com 11 filmes no páreo pelos troféus Kikito, inclusive Em teu nome (de Paulo Nascimento), o evento se estende até o próximo sábado, marcado pela solenidade de premiação. Com homenagens a figuras populares como Dira Paes e a apresentadora Xuxa, o festival prestigiará a obra do cultuado Ruy Guerra (de Os fuzis) com entrega de um Kikito de Cristal.

Com sessões competitivas no Palácio dos Festivais, o certame será aberto pelo politizado Memória do subdesenvolvimento (produção que não compete, dirigida pelo cubano Tomás Gutiérrez Alea). Entre os longas em competição estão Quase um tango; (de Sérgio Silva), a atração nacional de amanhã, e o argentino La próxima estación (de Fernando Solanas).

Atriz consagrada e diretora estreante, Helena Ignez maturou por um ano e meio o projeto de Canção de Baal, um dos seis filmes brasileiros selecionados. ;A concorrência no evento é adorável e eu vou com o espírito irmanado. O maior desafio é fazer um bom filme, sempre com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Canção de Baal dá cotinuidade ao Cinema Novo;, comenta.

Com o estresse emocional assumido, ela chega ao festival com fita ;completamente independente;, orçada em R$ 180 mil. Previsto para ser lançado em abril de 2010, o filme já foi exibido no Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo, além de ter recebido homenagens em Portugal e na Paraíba (Cineport). No filme, protagonizado por Carlos Careqa, Beth Goulart e Simone Spoladore, um poeta renega a possibilidade de ascensão social, optando por trajetória marginal, mas feliz.

Outro estreante na concorrência em Gramado, Gustavo Moura (do documentário Cildo) endossa a nova configuração do tradicional evento que ;tem apostado em filmes fora dos grandes circuitos, com algo a dizer;. Exaltando o caráter de boa vitrine do festival, ele conta que, para a produção centrada na trajetória do artista plástico Cildo Meireles, pegou até equipamento emprestado. ;As filmagens começaram em 2005, mas o filme só foi finalizado em 2009. Nosso trabalho não foi contínuo, pela falta de dinheiro. Mas o tempo de feitura do longa também se deve ao Cildo, que possui um ritmo próprio. Foi bom, para conhecer melhor tanto ele quanto o trabalho que desenvolve;, explica.

Pronto para prestigiar o Festival de Cinema de Gramado, Gustavo Moura estranha ;o alarde; feito em torno da gripe suína. Tendo integrado o É Tudo Verdade (no circuito Rio-São Paulo e Brasília), Cildo propôs enormes desafios ao diretor, que analisa: ;Quisemos fazer o melhor, mas não há fórmula pronta. Há o risco de acertar e de errar. Durante a montagem e a edição, a angústia aumenta;.

Experimentado
A expectativa da primeira sessão pública também é combustível para Paulo Nascimento, na terceira presença dele em Gramado, selecionado com o recém-concluído Em teu nome, na sequência de Diário de um novo mundo (premiado, em 2005, pelo público e pelo melhor roteiro) e Valsa para Bruno Stein (que, em 2007, rendeu Kikito à atriz Ingra Liberato). ;Entre quase 90 filmes concorrendo, ficamos no grupo dos seis selecionados. Disse para a turma: não quero ninguém esperando prêmio. Gramado chegou a esse ponto: só a oportunidade de mostrar o filme já me deixa feliz e tranquilo;, comenta.

Longe da placidez, a trama da fita (orçada em R$ 3,5 milhões e prevista para o circuito exibidor em junho de 2010) expõe parte da dura situação política brasileira nos anos 1970. Mais da metade do enredo se concentra no exterior, o que exigiu uma semana de filmagens em cada país da lista, incluindo França, Argélia (;dublada; pelo Marrocos), Brasil e Chile. A busca foi por um filme popular, com uso de jovens atores que nunca foram protagonistas e que receberam treinamento por três meses para os papéis. ;Nós mostramos um lado mais humano dos anos de 1970: a solidão, a saudade de quem foi exilado. Tentamos dosar mais disso do que concentrar no lado político;, conclui o cineasta.



; Outros filmes nacionais na disputa

Corpos celestes (de Marcos Jorge e Fernando Severo) (foto). Com Dalton Vigh e Carolina Holanda. No Paraná de 1969, o pequeno Francisco muda paradigmas, pela intervenção do piloto norte-americano Richard. Passados vários anos, Francisco, já astrônomo, é tocado por eventos do passado.

Corumbiara (de Vincet Carelli). Documentário retoma o registro de massacre indígena ocorrido em 1985, numa gleba de Rondônia, que, à época, foi denunciado pelo indigenista Marcelo Santos.

Quase um tango; (de Sérgio Silva). Com Marcos Palmeira e Vivianne Pasmanter. O diretor dos filmes de época Anahy de las Missiones e Noite de São João recorre à trama contemporânea em que um mulherengo incorrigível é pego de surpresa pela traição da conservadora mulher.

; Concorrentes estrangeiros
A teta assustada, de Claudia Llosa
Gigante, de Adrián Biniez
Nochebuena, de Maria Camila Loboguerrero
Lluvia, de Paula Hernández
La próxima estación, de Fernando Solanas

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