Diversão e Arte

Mesmo referência ao estilo Alcione, Dhi Ribeiro marca personalidade no primeiro disco solo em 20 anos de carreira

postado em 09/08/2009 09:59
Radicada em Brasília, sambista Dhi Ribeiro é revelação nacionalDhi Ribeiro está em estado de graça. O disco que acaba de sair pela Universal Music tem cheiro de sucesso. A música de trabalho, Para uso exclusivo da casa, já está nas "bocas de matildes", caiu nas graças dos internautas do Youtube, passou pelo massivo Domingão do Faustão e ganhou o elogio profético do apresentador. - Atenção, marquem este nome. Dizem que é a nova Alcione. Ela veio pra ficar. A nova estrela, de lá de Nilopólis (Baixada Fluminense). Foi estrela de circo na Itália, mora em Brasília e foi descoberta na noite pelos executivos da Universal. Visivelmente encantado, Faustão, conhecido por derramar facilmente adjetivos, não exagerou. Dhi Ribeiro está com um senhor álbum na praça, de audição que escoa faixa a faixa numa produção digna do seu valor, conduzida pelo mestre Rildo Hora. Tem tudo para ser a revelação do samba brasileiro em 2009. Em Brasília, ela já é rainha dos redutos de samba, como o Bar do Calaf. Desde que se encontrou na batida da cuíca e do pandeiro, angariou fãs brasilienses e seguiu o caminho de pesquisa firme no samba. O disco Manual da mulher, primeiro da carreira de 20 anos que flertou até com a axé music, foi feito para fincar a cantora nesse fértil universo em que se tornou o samba no mercado fonográfico brasileiro. Há uma estratégia clara da gravadora em compará-la à legítima referência de Alcione. Em 2004, Dhi fez um show com sucessos da maranhense. A faixa que abre o CD apresenta Dhi Ribeiro nessa dualidade. Bem-humorada, a canção Para uso exclusivo da casa é dos mesmos autores de grandes sucessos de Marrom. Paulinho Resende e Juninho Peralva estão no repertório de Alcione como A loba e Meu ébano (esta de Paulinho em parceria com Neneu). Paulinho aparece duas vezes no disco de Dhi. Em Manual da mulher (parceria com Frank Daiello), aproxima o álbum do samba romântico, que se impõe nesse trabalho. Arsenal das ilusões (Beto Filho e Carlos Colla) aponta para a tendência apressada de compará-la com "a nova Alcione", como diz Faustão. O que se desfaz ao entender o casamento da voz potente de Dhi Ribeiro com a melodia do pagode pobre de cadência. Aí, a personalidade da voz se estabelece e se diferencia. O que dimensiona Dhi Ribeiro para além de uma comparação inicial. Basta seguir em canções como Doidice, a segunda faixa, para entender que Alcione é só uma estratégia midiática na trajetória de Dhi Ribeiro. A música de Darcy Maravilha e Noca Portela é um sambão que ganha projeção vibrante na voz da cantora, um dos pontos altos do disco, daquelas de abrir na caixa de som, num domingo de churrasco e cerveja. É letra tão romântica quanto as dos pagodes de rádio, mas a melodia é de quebrar o corpo. "Louco, nosso amor é tão louco/ Apesar do sufoco/ As intrigas são tão banais/ Louco e nesse corpo a corpo/ que eu fico mais louco/ E te quero bem mais." Dhi Ribeiro cresce nesse samba instrumentado, de ginga e palmas como no samba de roda Marujada (de Noca Portela e Toninho Nascimento). Ou ainda no delicioso pagode de mesa Dança de mãos, de Jorge Aragão, e em Benza a Deus (Luiz Carlos da Vila e Moacyr Luz). O álbum se diversifica com a belíssima composição de Rildo da Hora e Luciana Cardoso, Aqui do seu lado: "Vou me entregar/ Mergulhar a cabeça nessa paixão/Te peço uma chance que eu vou te mostrar/ Você é o dono do meu coração". O disco termina pra cima. E aponta para uma Dhi Ribeiro que não cabe em rótulos ou impressões de primeira vista. É uma sambista de mão cheia, que canta com vontade os versos "Caí, levantei, sacudi a poeira. Na terra do samba finquei a bandeira". Vale ouvir e vê-la, por enquanto sempre aqui tão pertinho.

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