Diversão e Arte

Renato Matos é o alquimista do Cerrado

postado em 20/08/2009 09:11

Quem conhece Renato Matos sabe que o Conic é a cara do baiano, que injetou no sangue o gosto pelas coisas do Planalto Central. Claro, ali, no Setor de Diversões Sul, toda a convivência é possível. Casa de produtos de umbanda igreja evangélica faculdade de teatro cinema pornô lojas de quadrinhos camisetas descoladas roupas populares skate hip hop cabines eróticas sauna gay. A arte de Renato Matos é também assim, somada por elementos que não parecem combinar. No entanto, depois de costurados uns aos outros, fica uma impecável colcha de retalhos.

; Se vocês querem falar de mim, temos que ir para a livraria de Ivan Presença. Lá é o lugar ideal, o coração e a cara do Conic, avisa Renato.

Falar da trajetória de Renato Matos implica ouvir a canção Um telefone é muito poucoUm pedido de Renato é uma ordem. Caminhamos então para esse patrimônio da cultura de Brasília, símbolo de resistência. Lá está Ivan, atendendo pessoalmente os clientes, de forma única e atenta. Como se tivesse em casa, Renato puxa as cadeiras para a entrevista. Alguns passantes param para assistir à gravação. Algodão, bonequeiro de Taguatinga, é um deles.

Não é difícil ficar atento às histórias de Renato Matos. Ele está por trás de grandes manifestações culturais e históricas iniciadas no tempo em que o Brasil e o DF estavam vigiados por armas e botinas da ditadura militar. É com gosto que ele lembra do projeto Cabeças e da participação como ator no Grupo Pitú, comandado por Hugo Rodas. Eram urgentes dias de contracultura e porralouquice.

; Tudo isso foi muito importante para a formação da cidade. Brasília é como se fosse uma árvore que dá bons frutos. Mas não se pode exigir uma colheita farta, é uma árvore nova, ensina.

Falar da trajetória de Renato Matos implica ouvir a canção Um telefone é muito pouco, um dos sucessos do cancioneiro da terra. Há uma certa ansiedade em registrar esse momento. Um orelhão próximo ao quiosque de Ivan Presença é o cenário óbvio e perfeito. Há uma pequena fila. Ele se coloca ao fim e dedilha o violão. Depois, avisa que vai cantar a primeira música sertaneja feita no DF. Humorada e gostosa, a canção de amor é prova de que cabem muitos Renatos nesse Renato Matos.

; Aqui é a terra onde desenvolvi a minha arte. Tentei, um dia, voltar pra Bahia. Mas lá tenho que começar do zero. Voltei correndo.

Sorte do DF, pátria de gente de todas as pátrias, em ter esse alquimista criando e recriando modos de fazer arte.

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