Diversão e Arte

Universos paralelos

Mariana Trigo
postado em 20/08/2009 10:12
Caminho das Índias é uma espécie de trama gangorra. São duas histórias quase sem links que tentam se entrelaçar com dificuldades desde o início da produção. De um lado, o núcleo da Índia, com sua exímia produção de arte, coloridos e jargões hindi que já viraram populares. Do outro, conflitos interessantes, atuações mais naturalistas e o ingrediente inexorável das tramas de Gloria Perez: o apelo social, presente por meio da abordagem da loucura e da psicopatia. No meio desses novelos de histórias e personagens, a autora tem conseguido coser com maestria, mas sem unir os dois lados dessa balança numa coerente interseção.

No início da história, toda a cultura indiana exaltava os novos costumes, as tradições que saltaram diante dos olhos atônitos de um público maravilhado com a diversidade de novidades. Mas o excesso de jargões, de frases feitas, como ;are babas; e ;tikes; começaram a dar sinais de um princípio de overdose. Os excessos não foram aparados e muitos personagens que pareciam interessantes no início, como Pandit (José de Abreu) ou mesmo Indira (Eliane Giardini) quase beiram caricaturas.

Entre eles, as dancinhas indianas puxadas pelas crianças a cada bloco da trama começaram a desgastar o interesse por uma cultura farta, mas que ainda tem sido abordada superficialmente, maquiada pelos excessos folclóricos e distante da dúbia realidade que se encontra no país: progresso acelerado em meio a uma miséria avassaladora. Mesmo assim, o diretor Marcos Schechtman tem o mérito de escolher a dedo imagens inovadoras e consegue dar seu recado numa edição cuidadosa.

Já no lado do Brasil, a história começou tímida, com personagens aparentemente pouco embasados, mas que foram ganhando consistência ao longo da trama. Recentemente, Melissa (Christiane Torloni), que iniciou a história como uma personagem demasiadamente exagerada, foi encontrando o tom e teve seu ápice recentemente: a antológica surra em Yvone (Letícia Sabatella).

Dentro de todo o cuidado que exige a abordagem da psicopatia numa história com esse alcance, Letícia tem colocado um tempero ainda mais cruel em sua bem-sucedida atuação. No entanto, o didatismo com que a psicopatia e a loucura têm sido abordados na história chega a ser enfadonho. Os textos são quase tatibitates. Sempre após alguma cena de Tarso (Bruno Gagliasso) ou de Yvone, a edição emenda com explicações plausíveis sobre os distúrbios de forma tão didática, esmiuçada e repetitiva que sempre desmorona para a monotonia. Serve como repelente da história e estímulo para mudar de canal para quem está com o controle remoto nas mãos.

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