Diversão e Arte

Herta Müller, uma mulher marcada por uma vida sob a ditadura

postado em 08/10/2009 12:28
Berlim - A escritora alemã Herta Müller, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2009, nasceu na Romênia como parte da minoria de língua germânica no país, onde viveu até os 34 anos e sofreu a censura do regime comunista.

Ela se baseou nesta experiência para contar em seus livros a vida cotidiana em uma "ditadura petrificada", nas palavras da Academia Sueca.

Autora de romances, contos, ensaio e poesia, a escritora, de 56 anos, goza de grande notoriedade entre os escritores de língua alemã e na elite intelectual de seu país natal.

A qualidade de su escrita e a coragem de suas metáforas já renderam vários prêmios literários, incluindo o Kleist, uma das maiores recompensas alemãs, em 1994, e o Prêmio Würth de literatura europeia em 2006.

"Na cidade em que cresci, não havia romenos. Aprendi o romeno no colégio como se fosse uma língua estrangeira", explicou uma vez a escritora.

Nascida em 17 de agosto de 1953 em Nitchidorf, perto de Timisoara, em uma região de tradição de língua germânica, Banat, Herta Müller é neta de um agricultor e comerciante acomodado que perdeu as propriedades com o comunismo. Sua mãe foi deportada para um campo de trabalho da União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial. Seu pai foi membro das Waffen SS (corpo militar das SS) durante a guerra.

Entre 1973 e 1976, estudou alemão e literatura romena na Universidade de Timisoara. Ao fim dos estudos, integrou uma associação de escritores de língua germânica, o "Aktionsgruppe Banat" (grupo de ação de Banat) e trabalhou como tradutora em uma fábrica.

Em 1979 perdeu o emprego de tradutora por ter se recusado a colaborar com a Secumritate, a polícia política do regime comunista, que nunca deixou de perseguir a escritora.

Depois de ser demitida, passou a dar aulas particulares de alemão e se dedicar à literatura.

Em 1987 se exilou na Alemanha Ocidental. Atualmente mora em Berlim.

Pouco conhecida do grande público até o início dos anos 2000, Herta Müller foi descoberta pela crítica alemã em 1984, com a publicação do livro de contos "Niederungen" ("Em Terras Baixas"), que saiu clandestinamente da Romênia.

Entre suas obras se destacam "Der Mensch ist ein gro;er Fasan auf der Welt" ("O Homem é um grande faisão no mundo") e "Der Fuchs war damals schon der J;ger", nas quais descreve a vida cotidiana em um Estado totalitário.

Em "Herztier" pinta o mundo dos dissidentes romenos. Em "Heute w;r ich mir lieber nicht begegnet" mostra a angústia de uma mulher convocada pela polícia política de Ceaucescu.

Seu último romance, "Atemschaukel", que trata do exílio dos alemães da Romênia para a URSS en 1945, foi aclamado pela crítica alemã ao ser publicada em agosto.

Herta Müller gosta de recortar palavras nos jornais e revistas. Ela as classifica para depois utilizar ou deixar que envelheçam em um canto de seu escritório, já que considera as mesmas uma metáfora da vida.

Antes de Müller, o último alemão a vencer o Nobel de Literatura foi Günter Grass, em 1999. Herta Müller é a 12; mulher a conquistar o prêmio.

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