Diversão e Arte

Amor de sessão da tarde na minissérie Aline

postado em 22/10/2009 10:48

Mauro Trindade

Chega a ser difícil imaginar como uma história centrada em um ménage à trois possa ser quase infantil. Mas Aline é assim. Exibida pela Globo às quintas, logo após A grande família, a série é leve e docinha. Qualquer beijo técnico ; aquele com a boca bem aberta e longos passeios sublinguais ; em novelas é bem mais quente que as falsas bitocas trocadas entre Aline (Maria Flor) e seus namorados Pedro (Pedro Neschling) e Otto (Bernardo Marinho). Aline (Maria Flor) entre os dois namorados (Pedro Neschling e Bernardo Marinho): bitocas inocentes e relação idílicaNão há nada que torne visível que os dois são seus amantes. São amiguinhos que dividem o mesmo apartamento e a mesma cama. E, para evitar qualquer aspecto sexual de uma relação a três, tudo se tornou graciosamente idílico. Por isso mesmo, Aline, a série, poderia ser facilmente exibida em algum horário vespertino, entre os filmes de bruxinhas ou de cachorrinhos com que a Globo ocupa as tardes e Malhação. Claro que seria difícil levar integralmente para a tevê a verve iconoclasta de Adão Iturrusgarai, criador da personagem nas histórias em quadrinhos. Mais ainda as cenas amorosas da trinca com um queijo provolone ou com os amantes e subamantes de Aline. Isso sem falar no sexo com extraterrestres e no período no qual ela se torna garota de programa. Outros personagens do desenhista são ainda mais permissivos. Entre eles, o casal de caubóis gays Rock e Hudson. De qualquer forma, muitas das piadas dos quadrinhos sobreviveram ao transplante. A série é inteligente, original e sem ranços de bom-mocismo e de mensagens edificantes que se tornaram onipresentes nas novelas globais. E, mesmo sem o narigão e o rabo-de-cavalo que ostenta nas tirinhas, a Aline de Maria Flor tem um humor bastante próximo do original. Criou uma personagem jovem, bonita e com um humor sarcástico e debochado bastante convincente, inclusive com seu jeito meio bobalhão e cabeça fresca. Pedro e Otto ganharam personalidades ingênuas e sonhadoras, respectivamente, com Pedro Neschling e Bernardo Marinho. Os coadjuvantes defendem ótimos personagens secundários. O traço tosco do artista no papel foi transformado na série em uma visualidade psicodélica, com uma edição ágil que poupa o espectador de muita conversa e resolve os conflitos em narrativas breves e sem a enrolação e a ;psicologia; das telenovelas. Há ainda um bocado de computação gráfica aplicada às imagens, o que ajuda a remeter a série aos quadrinhos. Aline ainda tem uma direção ; assinada por Maurício Farias ; que sustenta o clima despreocupado e galhofeiro, sem se prender ao naturalismo da teledramaturgia. Apenas merecia um horário mais esperto. Grades televisivas não têm o menor senso de humor.

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