Diversão e Arte

Festival de Cinema: Gullane defende pluralidade

postado em 29/11/2009 08:00

O paulista Caio Gullane começou a carreira no cinema em 1994 como diretor de produção do curta-metragem Cartão vermelho, de Laís Bodanzky. De lá para cá, não parou mais, desenvolvendo as mais diversas funções até chegar à condição de um dos mais ativos produtores de cinema ao lado do irmão Fabiano Gullane.

À frente de sucessos como Bicho de sete cabeças, Cafundó, O ano em que meus pais saíram de casa, Querô e Chega de saudade, o jovem produtor de 36 anos foi um dos destaques da 42; edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro como júri da principal categoria da mostra.

Atento às mudanças de mercado e ao gosto do público, Gullane acredita que o setor cinematográfico no Brasil tem que ser plural, atendendo a todos os públicos e conceitos. ;O cinema precisa ter pluralidade, tem que ter vários tipos de cinema e janelas para exibir essa diversidade;, defende. ;O cinema que procuramos é aquele que tem conteúdo, qualidade, que agregue ao espectador, mas que também consiga atraí-lo para as salas de cinema, que é onde se fecha o ciclo de um filme;, emenda.

Documentários
Atento à proliferação de documentários que a cada ano invadem os cinemas da cidade, encontra na evolução técnica explicação para o surgimento de vários tipos de filmes e temas nas telonas do país. ;Os formatos estão se alternando muito, há vários tipos de filmes hoje em dia e isso se deve à evolução e ao acesso aos equipamentos;, destaca. ;O documentário sempre foi um gênero bacana e deve existir sempre. Assim como acontece com a ficção, que é um gênero que tem que ser observado por um outro olhar;, analisa.

Quanto ao fato de cada vez mais o cinema verdade invadir as mostras competitivas de importantes festivais do país ; como tem ocorrido nos últimos anos no Festival de Brasília ;, disputando, palmo a palmo, prêmios com o gênero ficcional, ele opina: ;Confesso que seria mais apropriado se conseguissem julgar documentários separadamente da ficção. Acho que as categorias são diferentes quando eles analisam um filme entre documentário e ficção. De qualquer forma, o filme tem que ser bom, independentemente de ser ficção ou documentário;, aponta.

Comédia
Quando o assunto é comédia, Gullane é bastante pragmático, legitimando desde as mais ousadas a grandes recordes de bilheteria, como Se eu fosse você. Na opinião do produtor, o gênero que consagrou nomes como Grande Otelo e Os Trapalhões no cinema é paixão nacional. ;A comédia historicamente deu certo e brasileiro gosta bastante. Não é por ser comédia que vai diminuir a qualidade;, avalia.

ARTIGO // Perdão, mister fiel reabre as feridas da ditadura


Jorge Oliveira*

O prêmio de melhor filme da Câmara Legislativa do Distrito Federal, no 42; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro para o Perdão, Mister Fiel, silenciou profundamente aqueles que até hoje teimam em não conhecer melhor a história do Brasil. O documentário conta a história do operário Manoel Fiel Filho, morto em 1976 nos porões ditadura do DOI-Codi de São Paulo.

O filme, aplaudido de pé pelo público que lotou o Cine Brasília, causou uma reação comovente, levando pessoas às lágrimas. A reação do público deu-me a aprovação do dever cumprido.

As críticas ao documentário basearam-se na dramatização ou na estética que adotei no filme. A jornalista Maria do Rosário Caetano, crítica de cinema, chegou a comentar durante o debate que o filme não tem humor, como se uma sala de tortura fosse local de recreação de comediantes.

Outro, o Marcos Petrucelli, radialista da rádio CBN, informou aos seus ouvintes que os depoimentos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e do presidente Lula eram "dispensáveis e inválidos", o que nos faz lembrar um pouco de Bertolt Brecht no seu "O analfabeto político".

No debate, não se discutiu o conteúdo político do filme nem as revelações dos entrevistados. Falaram trinta personalidades brasileiras e estrangeiras. Do ex-presidente Ernesto Geisel, por exemplo, mostramos um diálogo inédito dele com o ex- governador de São Paulo Paulo Egydio Martins. O general conta como demitiu Ednardo D;Avila Mello, seu colega de farda, do comando do Segundo Exército, ao saber da morte de Fiel.

Acostumado às discussões acaloradas e politizadas nas diversas entidades de classe que participei, causou-me espanto a fixação dos críticos em firulas e perfumarias estéticas, além do preconceito contra a utilização do cinema com formatos menos tradicionais. Fiz sim uma opção estética para o filme que não foi alcançada pelos chamados especialistas, mas do agrado do público: as cenas em preto em branco e os depoimentos com fundo preto remetem ao negro período histórico que o filme retrata.

Perdão, Mister Fiel, em apenas uma exibição, já provocou reações políticas contundentes, convocações de audiências públicas e de reabertura de processos. Até entendo a reação dos puristas do cinema porque meu filme é um incômodo para os que se negam a enxergar a história.

Perdão, Mister Fiel é um filme que chega com o propósito real de reabrir as feridas ainda não cicatrizadas, de realimentar o debate sobre o paradeiro dos mortos e desaparecidos do Brasil, de contribuir para que as famílias possam enfim sepultar os corpos dos parentes que sucumbiram pelas mãos dos torturadores. O ex-agente do DOI-Codi Marival Chaves cumpre esse papel no filme com coragem, quando aponta os principais responsáveis pelas mortes e torturas no Brasil.

*Jorge Oliveira, jornalista e cineasta, é diretor do Perdão, Mister Fiel.

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