Diversão e Arte

Entrevista com Ingo Schulze

Nahima Maciel
postado em 03/12/2009 12:40
Como você conecta as mudanças na vida do seu personagem após a queda do muro e os cidadãos da então Alemanha Oriental? Todas esas cartas são escritas nos primeiros seis meses de 1990, do ponto de vista de um homem de sucesso que escreve sobre o passado. Para mim, não era tão fácil escrever sobre a RDA, sobre os tempos antes de 1989. Eu odeio os pontos de vista de hoje sobre os tempos de antes de 1989. Eu queria falar sobre essa mudança de forças e dependências e não podia falar do Oriente sem falar do resto. E, claro, não se pode falar do Ocidente sem falar do Oriente. Eu estou muito feliz que o tempo da RDA tenha acabado, mas tenho muitas críticas sobre os tempos de hoje porque meu problema não é o desaparecimento do Oriente, mas o desaparecimento do Ocidente. E como a reunificação mudou sua literatura? Talvez a maior mudança foi que me tornei escritor em 1989, porque antes eu não era. Meu primeiro livro foi publicado em 1995. 1989 fez de mim um escritor. O que mais mudou para você desde a queda do muro? Nos últimos 20 anos houve uma economicização de todas as partes da sociedade. A ideologia da privatização, a comunidade e o estado têm muito poder na economicização da sociedade. Às vezes tenho a sensação de que os políticos não são mais políticos, são apenas administradores. Só pensam em como crescer e acho que temos que falar mais em como compartilhar. Antes de 1989 você podia dizer qualquer coisa sobre seu chefe, mas nada sobre o líder supremos do comunismo. E depois de 1989 você pode dizer qualquer coisa sobre o chefe de governo, mas nada sobre seu chefe. Como avalia a maneira como os 20 anos da queda do muro foram tratados na mídia? Por uma lado fiquei, claro, muito feliz com a queda. Fazer parte deste movimento foi um dos melhores momentos de minha vida. Mas agora, quando celebram a queda é para celebrar a Alemanha de hoje e à Alemanha de hoje tenho várias críticas. Às vezes tenho sentimentos ruins em relação a isso. A queda do muro foi o topo de um iceberg. Coisas muito importantes aconteceram antes para que a queda fosse possível. Onde localiza sua literatura no mundo de hoje? Escrevo sobre o tempo que conheço. Se alguém me pergunta o que estou escrevendo digo que literatura é sempre escrever sobre todas as coisas.Você tem que escrever sobre tudo. Escrevo em alemão e sou parte da literatura alemã, mas hoje não dá para explicar como uma literatura nacionalista só porque ela fala de um contexto nacional. Escrevo sobre o tempo que conheço, mas espero que isso interesse a todo o mundo.

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