Diversão e Arte

Brasília é uma das cidades que melhor acolhe o reggae

postado em 12/12/2009 11:16 / atualizado em 29/09/2020 10:57

O reggae no Brasil encontrou terreno fértil em diversas cidades. No solo do Planalto Central, a semente da música jamaicana foi germinada e floresceu na década de 1980 (com os pioneiros Sinal de Fumaça, Obina Shok e Renato Mattos & Banda Grande Circular), deu mais frutos nos anos 1990 e, hoje em dia, encontra um cenário (com festas, shows e bandas) em plena atividade, ainda que diferente daquele vivido em seu período de maior efervescência. Dizem os especialistas - músicos, DJs e radialistas - que Brasília continua uma capital com grande interesse no reggae, ainda que atualmente, a produção local tenha mais dificuldade para se fazer ouvir do que há 10 anos. Ouça a música Liberdade pra dentro da cabeça, com a banda brasiliense Natiruts "No geral, vejo uma grande evolução no cenário musical em Brasília, não só no reggae, mas em outros estilos também. Temos recebido cada vez mais atrações internacionais, algo que nem imaginávamos antes", avalia Rogério Fagundes, vocalista do Tijolada Reggae. "Por outro lado, os shows das bandas locais diminuíram", lamenta. "Não temos muitos produtores de reggae e os que existem abrem pouco espaço para as bandas locais", reclama Beto Bass, baixista do Mente Sã, quarteto que acabou de lançar seu primeiro disco. "Hoje, o movimento na cidade está mais underground", analisa o jornalista Hélio Franco, apresentador do Radiola Reggae, único programa de rádio dedicado ao gênero no dial brasiliense (aos domingos, das 16h às 18h, pela Rádio Cultura). "Temos um cenário consolidado, mas irregular, fazendo com que Brasília fique de fora da rota de alguns shows internacionais. Por exemplo: o grupo jamaicano The Congos, um nome veterano do reggae, estará em turnê pelo país em dezembro, mas não passará por aqui. Os produtores locais temem trazer a banda para cá e terem prejuízo", argumenta. Ouça a música Africaner Brother Bound, com Obina Shok Segundo o produtor Martin Barreiro, ex-baterista do Jah Live, realizar um evento de sucesso, de qualquer estilo, depende de fatores como data, local e, principalmente, a atração: "Brasília é muito movida pelo que está na moda. Com o reggae não é diferente. A banda americana Soja (Soldiers of Jah Army) tocou aqui em novembro e foi muito bacana, conseguimos um público grande, uma galera mais nova, de 14, 15 anos. O Steel Pulse, por mais que seja um dos mais renomados grupos de reggae do mundo, levou menos de 2 mil pessoas para o show deles, há três semanas. Um número bom, mas pequeno diante do nome que a banda carrega". Ouça a música Conquer, com a a banda brasiliense Brasucas Ft. Mykal Rose Ou seja, o som mais "roots" - mais próximo ao reggae "das antigas", feito nos anos 1960, 1970 - tem seu público, mas é formado principalmente por iniciados. "Sem dúvida, o reggae mais pop chama mais atenção do que o de raiz. Mas ganhar dinheiro com o reggae hoje em dia é bem complicado", afirma o DJ Hugo Drop, integrante do Percussion Brothers e dono da comunidade do Orkut Regueiros do Cerrado (com mais de 5 mil membros, a maior dedicada ao assunto no Centro-Oeste). "O público do reggae é o mais exigente, o mais chato. Querem os preços mais baixos nos ingressos - R$ 10, no máximo - e consomem pouco no bar. Não à toa, os eventos menores, voltados para a cena local, diminuíram, pois não compensam financeiramente para a produção", continua. As coisas mudaram Para compreender melhor a situação vivida em 2009, é necessário lembrar do contexto do reggae em Brasília nos anos 1990. Ao longo da década, surgiram vários grupos do gênero musical na cidade. Ao mesmo tempo, as grandes gravadoras colocavam no mercado diversos discos de artistas do estilo até então inéditos no país (o que praticamente não acontece mais). A MTV tinha um horário dedicado ao som jamaicano. Dois programas brasilienses de rádio (o extinto Conexão Jamaica e a primeira versão do Radiola) disseminavam positive vibrations para os ouvintes. Em resumo, o momento era propício para a popularização do reggae no Brasil. Ouça a música Se curvar jamais, com Jah Live "As bandas da cidade começaram a se articular, fazer shows, organizar seus festivais. O pessoal era muito unido, uma turma mesmo", lembra Hélio Franco, na época, percussionista do Tijolada Reggae. Além deles, grupos como Jah Live, Lilah Roots, Jacareggae, Mira Reggae, Liberdade Plena e Nativus (o atual Natiruts) faziam a cabeça dos regueiros locais. "Naqueles tempos, ver uma grande banda nacional, como Cidade Negra e Tribo de Jah, era para o público como é hoje ver uma atração estrangeira. Assistir ao show de um artista jamaicano era impensável", acrescenta Martin Barreiro. As coisas começaram a mudar na segunda metade da década. Os festivais Brasília Reggae Beat e Ruffles Reggae trouxeram para a cidade atrações locais, nacionais e internacionais. Outro acontecimento marcante foi o lançamento do disco de estreia do Nativus, que venderia cerca de 40 mil cópias antes de ser relançado pela EMI e quintuplicar essa quantidade. O sucesso da banda apresentaria ao Brasil a cena regueira da capital do país. "O que nos destacou das outras bandas foi o fato de não nos preocuparmos só com a questão musical, mas também com as estratégias de divulgação. Também não dependíamos de ninguém para fazer os nossos eventos, os nosso shows e festas. Nossa política sempre foi a do faça-você-mesmo", comenta Bruno Dourado, ex-percussionista do Natiruts, hoje no InNatura. Ouça a música Reggae do jacaré, com Renato Matos Com o tempo, foi natural que parte do público dispersasse, bandas sumissem ou mesmo encerrassem suas carreiras. Hoje, o reggae e outras vertentes da música jamaicana encontram espaço em Brasília, cada uma com o seu público específico que não necessariamente se mistura %u2014 caso das festas de aparelhagem (à moda maranhense), as festas com discotecagem e os sound system ao ar livre (que depois de dois anos "bombando" deram uma sumida). "Posso afirmar que o cenário não está bom para as bandas da cidade, mas com certeza está bom para o estilo. Mesmo com dificuldades, Brasília ainda é uma das cidades que melhor acolhe o reggae", conclui Martin Barreiro. Discoteca básica do reggae brasiliense - Obina Shok Obina Shok (1986) - Renato Matos & Banda Acarajazz Reggadô (1993) - Nativus Nativus (1996) - Tijolada Reggae Tempo (1999) - Jah Live Se curvar jamais (2006) - Brasucas Armadura do leão (2009) * Discos selecionados pelo radialista Hélio Franco

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