Diversão e Arte

Correio acompanha ensaio e apresentação do Madrigal de Brasília, grupo de 46 anos, que corta o DF no mês de dezembro com o projeto Cantata de Natal

postado em 20/12/2009 09:08
Aquecimento, exercícios vocais e respiração. Lê-se uma partitura aqui, outra acolá. Pelo menos quatro vezes por semana, os 18 cantores do Coral Madrigal de Brasília se reúnem para os ensaios. As atividades ficam mais intensas com a aproximação do período de festas. Em novembro, o repertório natalino começa a ser preparado. O Correio acompanhou a preparação e a apresentação do Madrigal de Brasília, que surgiu em 1963, numa iniciativa do maestro Levino Ferreira de Alcântara. Neste mês, o coral faz série de concertos natalinos nas cidades do DF. A reportagem pegou carona no ônibus rumo ao Paranoá, em frente à Igreja de Santa Maria dos Pobres. Antes, conferiu o clima de descontração do ensaio. O primeiro ensaio Reunido na Escola de Música de Brasília (EMB), o Madrigal de Brasília já está previamente dividido em seus naipes de voz: contraltos (grave feminino), sopranos (agudo feminino), baixos (grave masculino) e tenores (agudo masculino). Logo que o maestro Éder Camúzis se posiciona, começa a cantoria. O clima, no entanto, é de descontração. As piadas e brincadeiras cabem nesses momentos. "Por que o maestro está sentado? Ele nunca rege assim%u2026", brinca o tenor Wellington Fagundes. Há 10 anos à frente do coro, Éder Camúzis responde em tom de gozação: "Ele não tinha nada pra falar, por isso questionou a minha posição." Durante o ensaio, se alguém errar uma letra ou entrada, o colega já está de prontidão para avisá-lo. "Coral por si tem essa coisa de agregar, reunir, socializar, proporcionar esse clima de amizade. É muito comum ter uma ajuda mútua porque, afinal, é um grupo", justifica o maestro. A caminho do Paranoá Coro afinado, letras na ponta da língua. O grupo ruma para o ônibus. O destino: Paranoá. O clima descontraído do coral se intensifica no ônibus. É claro que a cantoria se faz presente, mas, às vezes, não segue o repertório da programação de logo mais. Enquanto um arrisca versos de um sambinha, outro vai além: "Eu voltei, agora pra ficar%u2026" Sérgio Ricardo, um dos músicos mais compenetrados, ao revisar as peças natalinas, assusta-se: "O que essa partitura de Garota de Ipanema faz no meio do repertório do Natal?" De repente, ele se dá conta de que esqueceu a pasta com todas as músicas na sala de ensaio. "Vou ter que ficar de rabo de olho nas partituras dos colegas", conforma-se. Enquanto uns dão uma ajeitada no cabelo, outras retocam a maquiagem. O tenor Alan Moreira, que registra todos os passos do coral com a máquina fotográfica a tiracolo, grita, lá do fundo do busão: "Vai ter lanche? É que só almocei hoje?" "Deve ter aquelas bolachinhas de sempre", devolve o maestro. "A gente brinca bastante, mas na hora de subir ao palco, a coisa fica séria. Porque tem hora pra tudo", ressalta Éder Camúzis. Repertório de emoções Antes de subir ao palco, o Madrigal de Brasília se reúne para aquecer a voz e dar uma última conferida nas partituras. O maestro aproveita para contar os segredos do repertório que emociona. "Apesar de todo os anos cantarmos basicamente a mesma coisa, a gente sempre procura inovar a cada Natal. Ou resgato uma peça bem rara, já que tenho um acervo grande de músicas natalinas, especialmente europeias, ou a gente prepara uma nova versão de uma composição já batida. Neste ano, por exemplo, temos três opções diferentes para cantar Noite feliz", explica Éder Camúzis, que também é o regente do Coral da Universidade de Brasília. Os equipamentos do palco, como os microfones e o teclado, tocado pela também contralto Marília de Alexandria, são devidamente checados. Quando começa o espetáculo, o público fica meio acanhado. Aos poucos, aproxima-se e se encanta com as canções natalinas. Noite feliz, Boas festas, Adeste fideles e outras músicas típicas dessa época do ano chegam até a emocionar alguns presentes. "É uma época em que lembro da minha família, dos meus pais, que já se foram, dos que estão longe. Mas é um período especial também. Essas músicas deixam a gente bem emotivo e com vontade de chorar", comenta a dona de casa Madalena da Silva, 63 anos. Lembranças do pé d%u2019água Quem está no palco não escapa a emoção. Nilza Pinheiro, uma das mais antigas integrantes do Madrigal de Brasília, tem consciência da importância do trabalho. "Cantar faz bem para a alma. As canções de Natal são lindas e servem para a gente refletir sobre qual a verdadeira essência dessa data. É isso que importa", resume "Você percebe que o público gosta mesmo, interessa-se, ainda mais nas cidades mais carentes. Para a gente, é gratificante", revela a soprano Danielle Vaz. Sérgio Ricardo nunca vai esquecer da imagem que presenciou do palco armado no Varjão. "Caiu um pé d%u2019água e o pessoal ficou lá com sombrinha e até jornal na cabeça", acrescenta Sérgio Ricardo. CANTATA DE NATAL Hoje, às 21h e amanhã, às 20h, na Esplanada (próximo à árvore de Natal).

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