Diversão e Arte

Com Canibália, Daniela Mercury mostra versatilidade e resgata o mito de Carmem Miranda

postado em 03/01/2010 07:02
O ano de 2010 promete muito para a cantora Daniela Mercury: ela já está escalada para a festa do cinquentenário de Brasília, em 21 de abril, no grande show na Esplanada dos Ministérios. "Brasília é a capital do país, e é muito gratificante para qualquer artista fazer parte dessa grande festa", comemora. Daniela Mercury com o grupo Olodum em recente show na cidade: O entusiasmo da cantora com seu novo CD, Canibália, é visível. O disco, o 13º de sua carreira, é uma celebração de "nossa mestiçagem", como Daniela gosta de destacar. Há de tudo um pouco: samba-reggae, samba afro, axé, salsa, candomblé, batida eletrônica, pop e MPB. A maior parte são de músicas inéditas, mas há também releituras de clássicos como O que será ( À flor da Terra), de Chico Buarque, Tico-Tico no fubá, de Zequinha Abreu, e O que é que a baiana tem, de Dorival Caymmi. Aliás, essa é uma das faixas mais interessantes do disco e traz um dueto inédito entre Daniela e ninguém mais do que Carmen Miranda, ao utilizar um fonograma original de 1939, numa versão em twist com samba eletrônico. Essa composição surpreendente só foi possível porque a família de Carmen Miranda considera a cantora baiana uma legítima herdeira da pequena notável e autorizou que ela regravasse vários sucessos justamente no ano em que se celebra o centenário de nascimento da cantora e seus balangandãs. "Carmen representa muito bem essa coisa do canibalismo, então fiz questão de prestar uma homenagem a ela. A pequena notável tem uma influência muito grande no meu trabalho", diz. Multiplicidade Outro destaque é Oyá por nós, parceria com Margareth Menezes. A música traduz o sincretismo baiano e tem muitos traços do candomblé. Daniela diz que é difícil escolher qual a canção favorita desse trabalho, mas ressalta a faixa Dona desse lugar, composição dela com Marcelo Quintanilha e Paulo Daflin, que faz uma homenagem às comunidades indígenas. A música, dançante, utiliza um sampler (instrumento eletrônico que utiliza sons previamente gravados e armazenados digitalmente) do fonograma Wanãridobê, tradicional canto do povo xavante para fazer a homenagem e a conexão concreta entre a arte do passado e do presente. "Estávamos rodando o Brasil por meio de um projeto social que temos e aí fomos parar numa tribo xavante. E chegando lá, uma índia de 111 anos cantou pra mim. Fiquei extremamente emocionada e na mesma hora eu queria achar alguma coisa para cantar pra ela, retribuir de alguma forma aquele gesto. Mas não consegui. Foi aí que resolvi prestar uma homenagem a ela e compus essa canção", conta Daniela. Toda essa multiplicidade de estilos, ritmos, cores e culturas também pode ser conferida no projeto gráfico do CD. Por sugestão da própria Daniela, Canibália tem cinco opções de capas, além de cinco diferentes sequências musicais. "Essa ideia surgiu também para dar essa noção de mistura e para dar essa chance de fruição, de aproveitar mesmo da maneira que a pessoa quiser. Ela escolhe a capa que quer. É um disco que é bem a síntese do meu trabalho, dessa mistura que sempre faço", resume. » Três perguntas para Daniela Você já foi considerada a rainha do axé, do samba-reggae, mas passeia também por outras vertentes da Música Popular Brasileira. Como você se denomina? Sou uma artista de MPB, uma miscelânia e dentro do meu trabalho isso é bem perceptível. Tenho o axé bem forte, que é a parte mais dançante do meu trabalho, a influência do trio, o samba-reggae e afro, já gravei dezenas de artistas brasileiras dos mais diferentes estilos. Tem de tudo um pouco no meu repertório. E Canibália reforça muito bem isso. Falando em Canibália, o CD é parte de um projeto que inclui documentário, exposição. Fale um pouco sobre isso. O show e o CD fazem parte de um grande projeto homônimo, e nos próximos três anos, além do espetáculo, serão lançados dois álbuns; um DVD; dois documentários, sendo que um deles eu sou produtora; uma exposição de artes, com uma instalação musical e outras surpresas. E essa exposição vai ser a finalização do projeto Canibália. Estou gostando muito desse projeto porque mescla várias formas de expressão artística. Sou uma cantora, compositora, bailarina, adoro artes plásticas também. Enfim, sou uma mulher que adora enveredar por outros caminhos, outras artes. Sou uma provocadora mesmo e acho que essa é a grande graça da arte. Este ano marca os 60 anos de criação do trio elétrico, 25 do surgimento do axé e 15 do seu camarote. Como está a preparação para tudo isso? O tema do meu camarote vai justamente mesclar tudo isso e vai falar sobre o sonho do carnaval. Fiz uma música sobre os 60 anos do trio elétrico e a nossa música de trabalho ara o carnaval, Andarilho encantado, apesar de não estar no CD, já foi lançada na internet e está com tudo, é bem vibrante. Realmente vai ser um ano de muita festa.

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