Diversão e Arte

Ambientada na Nova York dos anos 1990, HQ de Alex Robinson chama a atenção pela naturalidade

postado em 31/01/2010 12:41

Alex Robinson é um nome pouco (para não dizer nada) conhecido do leitor brasileiro de quadrinhos alternativos. Mas se depender de Fracasso de público - Heróis mascarados e amigos fantasiados, isso pode mudar. Lançamento da Gal Editora, o título tem potencial para conquistar muitos fãs. A HQ não apresenta nada que já não tenha sido abordado antes, mas é a maneira como o autor narra a história que a diferencia de seus pares. Fracasso de público tem como protagonistas jovens adultos que vivem em Nova York na primeira metade da década de 1990 (período no qual Robinson desenvolveu o trabalho). Cada um deles tem seus problemas e ambições. Sherman, por exemplo, é formado em letras e trabalha numa livraria enquanto não consegue emprego como escritor. Depois de sete anos na loja, ele já não aguenta mais as perguntas estúpidas dos clientes, muito menos as puxadas de orelha de sua superiora. Ainda assim, não faz muita coisa para mudar de vida. Amigo de Sherman, Ed é um aspirante a autor de histórias em quadrinhos de ficção científica, que sonha em viver de sua arte e também conseguir uma namorada - talento com as HQs ele tem, agora para conseguir uma companheira%u2026 A rotina dos dois é o principal ingrediente da história, mas são as participações dos coadjuvantes que temperam a narrativa. Caso de Stephan e Jane. O casal - ele, professor de história e ela quadrinista (mas ao contrário de Ed, sem interesse algum por histórias de super-heróis) -, alugam um quarto para Sherman. Coincidentemente, o mesmo cômodo foi ocupado por Dorothy, escritora com quem Sherman começa a namorar sem saber do ódio que Stephan e Jane nutrem pela moça. Mas quem acaba roubando a cena é o amargo e ranzinza Irving Flavor, um veterano desenhista de HQ para quem Ed trabalha como assistente. O que chama a atenção em Fracasso de público é a naturalidade com a qual Alex Robinson introduz e relaciona os personagens dentro da trama. Nada soa forçado ou artificial. Talvez porque Ed, Sherman e seus amigos não são apresentados como simples arquétipos, mas dotados de personalidade e suscetíveis a mudanças de humor e opinião. Até o aspecto físico os aproxima da realidade. Além disso, muito dos episódios vividos por eles foram inspirados na vida de Robinson. E as incontáveis referências à cultura pop só ajudam a deixar tudo ainda mais cotidiano. Um detalhe, porém, pode levar muita gente a subestimar Fracasso de público. Os desenhos de Alex Robinson não são tão convidativos como o de outros autores das HQs alternativas. Seu traço fino e caricato às vezes parece pouco firme, sem precisão. Mas é inegável que ele possui marca autoral, inconfundível. E a história, o ponto forte do trabalho, é tão envolvente que o desenho acaba em segundo plano. A edição da Gal - que promete para breve a segunda parte da HQ - só peca por alguns erros de tradução e revisão. Detalhes que não comprometem a estreia de Alex Robinson no Brasil.

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Autor de iniciativa Nascido em 1969, o nova-iorquino Alex Robinson estudou HQ na faculdade (foi aluno de Will Eisner). Trabalhou em uma livraria, enquanto publicava por conta própria os episódios de Fracasso de público (Box office poison, no original), posteriormente reeditados pelas editoras Antarctic Press e Top Shelf. Há 15 anos, Robinson trabalha exclusivamente com quadrinhos. O autor mora em Nova York com mulher, um gato e um cão. FRACASSO DE PÚBLICO - HERÓIS MASCARADOS E AMIGOS FANTASIADOS De Alex Robinson. 240 páginas. Gal Editora. R$ 38.

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