Diversão e Arte

Para a criançada ler

Muitos começam contando histórias para os filhos, outros trabalham em educação e há aqueles que buscam um novo estilo literário. No fim da história, todos são escritores infanto juvenis de primeira

Nahima Maciel
postado em 12/02/2010 08:15
O livro infanto-juvenil foi o segmento mais produtivo no mercado de venda de livros no Brasil durante o ano de 2009. Uma pesquisa da Associação Nacional de Livrarias indica que a produção literária para crianças e adolescentes passou à frente da ficção e da religião. O segmento vende bem, mas também produz muito. A jornalista Alessandra Roscoe é um reflexo do fenômeno. Em 2006 publicou o primeiro livro e, desde então, assina cinco títulos disponíveis no mercado e tem mais seis para serem lançados este ano. Alessandra faz parte de um grupo de autores recém-chegados ao universo da literatura para jovens leitores. São escritores que descobriram o nicho nos últimos sete anos, gente que começou a escrever para o público mirim e não quer mais saber de outra coisa. Em Brasília, boa parte deles integra a Casa de Autores, instituição fundada pela livreira Íris Borges para reunir autores radicados na capital. A própria Íris, ao lado de cinco autores selecionados pelo Diversão & Arte, é estreante no mundo da literatura infanto juvenil. Veja abaixo o que há de novidade na produção brasiliense do gênero e quais são os novos nomes desse cenário. Parceria em família Foi a filha Beatriz quem motivou a jornalista Alessandra Roscoe a transpor para o papel as histórias contadas antes de dormir. A primeira, A menina que pescava estrelas, ganhou ilustrações da própria Bia, na época com 5 anos, e foi publicada em 2006. Pouco depois, a história da garota que roubava as estrelas do céu virou filme de animação e motivou a família a investir num segundo livro. O jardim encantado também nasceu da invenção de histórias que Alessandra conta todas as noites para Bia e os dois irmãos, Felipe e Luiza. "Minhas histórias partem do meu dia a dia com as crianças. Felipe estava estudando os bichos de jardim e em processo de alfabetização. Um dia, fazendo com ele a tarefa de casa, criei o texto que explora a musicalidade das palavras e trabalha a questão da diferença. Então fiz a história da joaninha que tem só uma pintinha." A fada emburrada, terceiro a ser publicado e campeão de vendas entre as histórias assinadas por Alessandra, começou a tomar forma quando Bia ficou emburrada durante um almoço de família e O jacaré de bilé, inspirado em Felipe, ganhou ilustrações de Ítalo Cajueiro. Este semestre será a vez de O menino que virou fantoche. "O escritor de literatura infanto-juvenil ainda é considerado um escritor menor e isso é uma briga grande porque temos literatura infanto juvenil de altíssima qualidade. E literatura não tem idade", avalia Alessandra. "Estou lançando seis livros em um ano e é absurda a quantidade de editoras especializadas em infanto juvenis no Brasil. É um bom produto, apesar de toda uma cultura da não leitura e de pai que compra brinquedo, celular e tênis mas acha caro dar R$ 30 em um livro." Para o aniversário de 50 anos da capital, Alessandra também lançou Brasília em figurinhas, álbum que conta a história da cidade com texto e autocolantes de fotografias. "Foi adotado em várias escolas e a primeira edição, de dois mil exemplares, está esgotada." Para Luiza, Alessandra já tem prontas outras histórias. Rato do acaso Maria Célia e Raquel vivem a dupla Racumim e RacutiaFoi na Biblioteca Livre da Escola Classe 18, em Taguatinga, que Racumim e Racutia ganharam corpo e história. A dupla de professoras Maria Célia Madureira e Raquel Gonçalves Ferreira inventou os personagens para facilitar a aproximação entre as crianças e os livros. O sucesso levou os bichos para o papel. Célia e Raquel publicaram a primeira história de Racumim em 2005 com o título de Deu rato na biblioteca. Em seguida vieram Os amores de Racutia e O rato adormecido. "Na verdade a gente nem tinha a intenção de escrever livros, começamos a montar histórias para poder apresentar na escola e incentivar as crianças a irem à biblioteca, porque biblioteca em escola pública não é biblioteca, é puxadinho", lembra Célia. "Lançamos três livros, mas temos uns nove na gaveta." Enquanto as histórias não saem da gaveta, vestidas de Racumim e Racutia, Célia e Raquel encenam as narrativas inéditas na entrada da biblioteca e em outras escolas. Inspiração escatológica As histórias inventadas por Eduardo Loureiro não têm bailarinas, príncipes e princesas. Pode até ter gente de contos de fadas, mas eles nunca serão tão certinhos, limpinhos e organizados como os personagens clássicos. Os heróis de Loureiro falam de pum, meleca, morte e depressão. "Várias das minhas histórias tratam de questões mais delicadas. São assuntos que vêm de uma forma natural, penso que a gente não deve criar um mundo cor de rosa para criança, a criança tem habilidade de lidar com tudo", acredita o autor, que publicou o primeiro livro, A concha e a borboleta, em 2000. "Gosto de pensar que escrevo para a criança interna de todo mundo. Comecei fazendo textos que eram para adultos, mas com formatação infantil", avisa o professor de pedagogia e cronista cearense que veio morar em Brasília há três anos e guarda uma gaveta com 40 histórias inéditas em busca de uma editora.

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