Diversão e Arte

Rogério Fróes divide com os jovens a cena da peça Laranja azul, em cartaz no CCBB

postado em 21/02/2010 15:46 / atualizado em 22/09/2020 10:23

Pessoalmente, Rogério Fróes é um sujeito de fala mansa. Deve ser porque nasceu em Santos Dumont, cidadezinha de Minas Gerais onde o trem parava para buscar leite no tempo em que o Brasil andava de trem. No palco, porém, o ator vira um gigante generoso. Atualmente, Fróes divide a cena com os jovens atores Pedro Osório e Rocco Pitanga na temporada da peça Laranja azul, de autoria do inglês Joe Penhall, dirigido pelo também ator Guilherme Leme. ;Acho que este é um dos melhores textos que já montei;, elegeu o ator. O longo domínio da técnica, aliada a sabedoria do veterano de 75 anos nunca projetam sombra sobre os novos colegas. Durante os 60 minutos do espetáculo (o tempo de uma consulta), divergências sobre o tratamento psiquiátrico do paciente Cris (Pitanga) disparam discussões sociais entre o supervisor do hospital (Fróes) e um residente (Osório). Após um intervalo durante o carnaval, o espetáculo retoma as sessões no Centro Cultural Banco do Brasil.

Antes da interrupção, o ator conversou com a reportagem do Correio. Das memórias do veterano dos palcos, brotaram deliciosas histórias de coxias de teatro, percalços da profissão e causos de vida numa generosa entrevista de mais de hora em que o filho do funcionário da Estrada de Ferro Brasil Central revela que pisou num palco pela primeira vez ainda no jardim de infância do colégio Bueno Brandão, de Belo Horizonte. ;Me lembro que era o espetáculo O soldado da rainha e foi apresentado no Cine Teatro Brasil, localizado na Praça Sete;, recorda. ;Depois eu sempre participava de montagens na escola.;

;Em 62, éramos dois. Em 63, éramos três. Em 64, éramos quatro;, brinca sobre o casamento há quase 50 anos com a psicóloga e pedagoga, Lélia Salles Fróes. Foi ela quem segurou a onda do sustento das duas filhas quando o bancário e ator amador resolveu largar o emprego no Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais, em 1965, para se dedicar a espetáculos profissionais dirigidos por João Bittencourt. Não demorou muito para pintar o primeiro trabalho na TV Globo, na novela Passo dos ventos (1968). Depois, vieram participações em mais de 30 tramas televisivas. Em Prova de amor, exibida pela Record, voltou a sentir o sabor da popularidade com o personagem Velho Gui.


Algumas pessoas se aproximavam e me pediam autógrafos por causa de uma novela. O Piazzola ficou embasbacado. Eu só pensava: ;Meu Deus! Se eles soubessem que eu estou com esse gênio ao meu lado;. Isso é a força da televisão
Rogério Fróes


Ouça áudio da entrevista


Ofício

;Sou um ator diário e um diretor bissexto. Nunca fui dramaturgo. Eu tinha vontade de ser escritor sim porque eu vi coisas, convivi com pessoas que dariam uma peça. Plínio Marcos ou um Vianinha produziriam um texto fantástico com esse material. Mas, eu nunca consegui levar essas coisas para o papel. Deus já me deu o dom de interpretar os textos dos outros. Está bom. Não tenho mágoa por isso.;


Televisão

;Na televisão eu me viro. Não tenho o domínio da técnica como tem um Paulo José, como tinha a Dina Sfat. Dina sabia qual câmera estava nela, sabia se estava em close ou em plano americano. Existem atores que sabem lidar com a câmera. Eu não sei. Eu me movimento e se a câmera quiser, que venha atrás de mim. Meus personagens mais marcantes na tevê foram o vigário de O bem amado (1973), na TV Globo, e o Velho Gui, de Prova de amor (2006), na Record.;


Fama

;Eu e Paulo Gracindo estávamos fazendo uma temporada de O preço, em Curitiba, e quem estava se apresentando lá também era o Astor Piazzola. Fomos apresentados e resolvi levar o argentino para passear pela parte antiga da cidade. Algumas pessoas se aproximavam e me pediam autógrafos por causa de uma novela. O Piazzola ficou embasbacado. Eu só pensava: ;Meu Deus! Se eles soubessem que eu estou com esse gênio ao meu lado;. Isso é a força da televisão. Quantos atores que fazem teatro e não são conhecidos porque não fazem novela.;


Cinema

;Cinema é o que menos faço e menos domino. Eu fiz um curta-metragem (Tepê, de José Eduardo Belmonte) aqui em Brasília que rendeu o prêmio de melhor ator de curta-metragem no Festival de Gramado. Eu me identifiquei muito com o personagem (no caso, Deus dirigindo um táxi). Me identifiquei muito com a imagem que faço Dele. Sou católico, mas nunca me dirijo a Deus como o Senhor. Eu o chamo de você porque Ele é meu amigo. Foi o meu melhor filme.;


Reconhecimento

;O ator que disser que não gosta de ser reconhecido está mentindo. O ator é vaidoso. Todo ator gosta de exibir seu trabalho. É diferente de se exibir. Quando o ator quer se exibir, acho que ele é um pavão. Todo artista gosta de exibir o trabalho dele. Qual é o escultor que não gosta que sua escultura seja vista? Qual pintor não gosta que seu quadro seja apreciado? O ator quer que sua peça seja assistida.;


Maturidade profissional

;Eu não tenho grilos com a idade. Eu não consigo me ver com a idade que tenho. Pode ser pretensioso isso, mas não é. É claro que tenho minhas limitações físicas. Mas, estou bem. Quando digo para os atores mais jovens que trabalhei com um Prócopio Ferreira ou Raul Cortez eles ficam admirados. Amanhã, eles vão dizer que trabalharam comigo.;

LARANJA AZUL
Até 28 de fevereiro, de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). A venda de ingressos é iniciada no domingo. Cada pessoa pode comprar quatro bilhetes. Não recomendado para menores de 12 anos.

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