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Depois de liderar três ótimas bandas nos anos 1990 e 2000, o guitarrista e vocalista Breno Prieto aposta em novo projeto com o irmão gêmeo, Bruno, baixista do Maskavo

postado em 05/03/2010 08:41
Guitarrista, vocalista e compositor, Breno Prieto é um dos talentos mais iluminados do rock brasiliense dos últimos 15 anos. E isso talvez não seja uma verdade para um público mais amplo, simplesmente pelos caminhos que seus projetos acabaram tomando. Hoje com 32 anos, Breno já encabeçou três ótimas bandas: Os The Everaldos (1994-2000), Chantilly (2003-2004) e Virgem Again (2004-2009). Todas fizeram shows memoráveis, gravaram um punhado de canções (lançadas em fitas demo, soltas em mp3 pela internet e em CD-Rs de pouca circulação), mas sumiram sem deixar vestígios antes mesmo de um álbum que melhor registrasse o potencial do músico como autor de riffs memoráveis e letras de rara sensibilidade. Breno, Bruno e Fabrício Cinelli: projeto que começou caseiro agora ganha os palcosDesde 2008, Breno e seu irmão gêmeo, Bruno (baixista, também integrante do Maskavo), vêm desenvolvendo a Bílis Negra. Originalmente um projeto paralelo e caseiro, enquanto o Virgem não entrava na geladeira de vez, a nova banda ganhou caráter de prioridade recentemente. As primeiras gravações contam com uma bateria eletrônica, mas ao vivo a função já é exercida pelo baterista Fabrício Cinelli (que passou por vários grupos da cidade e hoje toca no DFC). "A banda surgiu quando percebemos que em Brasília os melhores DJs eram de música eletrônica e as bandas independentes só tocavam no Landscape. Pensamos: tem algo errado nisso aí. Vamos trabalhar? O Breno já tinha o nome em mente. Precisávamos definir o que fazer. Fizemos uma banda, um soundsystem e começamos a produzir festas", conta Bruno. "A Bílis Negra começou quando fomos convidados para gravar a trilha sonora do curta A menina espantalho, do Cássio Pereira dos Santos", detalha Breno. "Na mesma época, fomos convidados para participar do tributo ao Guided by Voices", continua o guitarrista. Na banda Os The Everaldos, as músicas de Breno e sua turma eram influenciadas pelo rock clássico e pelas então novidades dos anos 1990. O Chantilly foi a primeira banda brasiliense diretamente influenciada pelo rock de garagem dos anos 1960. O Virgem Again praticava indie rock sem ranço. O Bílis Negra agrega um pouco de cada uma dessas referências e aproveita parte do repertório desses projetos. "Seria muita tolice ignorar tantas canções boas. Temos orgulho delas. O Breno nem queria, mas convenci ele a tocar Amar é uma simples troca, do Virgem. Acho a canção sensacional. Como não tocá-la?", questiona Bruno. Sobre o nome da banda, Breno explica: "Os gregos acreditavam que existia no corpo uma bílis negra que estimulava o lado artístico do ser humano, bem como a tendência suicida, a melancolia e a depressão. Nós estamos mais para o artístico do que para o spleen. É o nosso propósito". Mesmo prolífico e dono de uma coleção de instrumentos vintage e equipamentos de gravação analógica, Breno registra bem menos músicas do que compõe. "Cansei de mostrar música inédita e não ter músico disponível nas bandas para gravar. Não é só ligar o gravador e seguir o coração, tem de praticar muito, conhecer a música, tomar ela para si. Não era o que acontecia, então muitos registros estão mais para rascunhos do que para algo definitivo", justifica o guitarrista. Então não é de se estranhar o caráter informal das gravações disponíveis no MySpace da Bílis (que tem músicas próprias, uma versão à capela para Michael Jackson e uma parceria com os ingleses do Black Mekon). A melhor maneira de conhecer a banda ainda é ao vivo - amanhã, ele tocam no Balaio Café, onde dividirão o palco com o quarteto Watson. Bruno promete novidade para 2010: "Precisamos trabalhar em todos os sentidos. 2009 foi um ano em que estudamos muito. Até o fim do ano, colocaremos em prática o que aprendemos. Seria um bom começo fazer um show em Goiânia". Só o tempo dirá se a Bílis Negra vai sumir na poeira do tempo como as bandas anteriores de Breno. E com um catálogo de pérolas perdidas como o dele embaixo do braço, isso seria no mínimo lamentável. BÍLIS NEGRA Conheça o trio brasiliense em www.myspace.com/bilisnegraoficial. A banda faz show amanhã, às 23h, no Balaio Café (201 Norte), com participação de Watson e discotecagem de Black Mekon (UK). Ingressos: R$ 10. Não recomendado para menores de 18 anos. Breno em três momentos Os The Everaldos » "Uma banda trabalhadora, punk mesmo, carregava todo o equipamento para os shows, tocava em qualquer lugar, da UnB à %u2018showrrasco%u2019 de amigo. A música era subversiva. Fazíamos o que nenhuma banda tinha coragem de fazer e nos divertíamos muito. Surgiu na varanda da nossa casa. Gravava ao vivo num Tascam emprestado - nós usávamos o que tínhamos disponível. Um momento legal foi fazer a miniturnê PobreMart tour /'98 num Inside Club lotado e tocar o que nós chamávamos de 10 sintomas de possessão maligna. Terminou porque as relações criativas e emocionais dos integrantes se desgastaram, cada um foi para um canto. Tem bastante material gravado, tudo em fita K-7." Ouça em www. mp3. com.au/ OsTheEveraldos. Chantilly » "Shows insanos, músicas nervosas, muita vontade de fazer a diferença numa época em que a cena rock de Brasília era de um marasmo só. Surgiu aqui em casa também, na época em que Bruno e eu montamos o Sótão do Rock. Também gravou num Tascam de quatro canais analógicos que o Bruno comprou. Apesar de ensaiarmos muito, não gravamos tanto. Era uma banda que gostava de tocar ao vivo. O Bruno produziu uma demo que nunca foi lançada, por exemplo. Penso que o grande momento da banda foi tocar no Bananada, no Martim Cererê (Goiânia), um show bombástico para uma plateia maravilhosa. Terminou porque estávamos todos esgotados depois de um ano e meio. Durou pouco, mas foi intenso." Virgem Again » "Começou como um projeto paralelo e foi ficando sério. As músicas eram mais pessoais e elaboradas. A ideia da banda foi do Vitor, nosso irmão mais novo. Os shows eram ótimos, éramos muito bons ao vivo, não tinha espaço para errar com apenas três pessoas no palco. Existia muita cumplicidade entre a banda e o público. Gravou uma demo e uma música para a coletânea Senhor F - Terceira onda. O grande momento foi tocar no Teatro Nacional, uma sensação indescritível. Terminou porque as prioridades dos integrantes foram mudando com o passar dos anos. Não teve briga, mas ficou complicado de tocar junto." Ouça em www.myspace. com/ virgemagain ou www.tramavirtual.com.br/virgemagain.

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