Diversão e Arte

Bem longe dos escândalos

Apesar de ser genro da distrital Eurides Brito, maestro Ira Levin afasta interferências políticas e monta agenda para este ano

Nahima Maciel
postado em 16/03/2010 08:00

[SAIBAMAIS]O maestro Ira Levin acredita que a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) está pronta para um segundo passo. O primeiro consistiu em moldar a sonoridade e ampliar o repertório. Levin avalia os últimos três anos à frente da orquestra como produtivos, no sentido de dar prestígio e visibilidade à formação brasiliense. O próximo passo seria levar os músicos para tocar no exterior e conseguir viabilizar projetos de gravação de discos. O maestro planeja assim o futuro da orquestra. Diz já ter recebido três convites de países europeus para 2011, um deles para um festival cujo nome não revela, além de uma proposta para voltar à Ásia (a orquestra tocou na Coreia do Sul no ano passado).

Para isso, no entanto, Levin precisaria renovar o contrato que expira no fim deste ano e a crise política no Governo do Distrito Federal não aponta para horizontes estáveis. O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, pediu demissão duas vezes e teve o pedido rejeitado. ;Não posso parar meus pensamentos. Estou fazendo projetos para o ano que vem. Espero que quem entre (no próximo governo) reconheça nosso trabalho e nos deixe trabalhar;, diz.

Enquanto tenta não especular sobre a renovação de seu contrato, o maestro se ocupa da temporada de 2010, que abre nesta terça-feira (16/3) com a Sinfonia n; 9, de Gustav Mahler, e a Abertura Egmont, de Ludwig van Beethoven. As efemérides ; 200 anos do nascimento de Robert Schumann e Frédéric Chopin e 150 de Gustav Mahler ; estão no programa com obras corriqueiras, mas não são os destaques.

Bolero de Ravel

Como nos anos anteriores, Levin privilegiou peças pouco ou nunca tocadas no Brasil. ;Algumas não são tocadas nem em Londres nem em Nova York, onde os maestros ficam muito dependentes da bilheteria e as pessoas querem coisas conhecidas. O público de Brasília é muito aberto ao que o maestro oferece e é uma vantagem não depender da bilheteria;, diz.

O brasiliense terá direito a clássicos dos programas mundiais, como o Bolero de Ravel, os dois concertos para piano de Chopin, o Concerto para piano n; 3, de Serguei Rachmaninoff, e o Concerto para violino, de Johannes Brahms, mas também vai conhecer obras inéditas na cidade. Em maio, para comemorar os 30 anos da orquestra, Levin rege Le sommeil de Psyche, de Cesar Franck. Julho será o mês do britânico William Walton e do austríaco Franz Schreker, dois compositores do final do século 19 e início do 20 cujos nomes nunca frequentaram os programas da orquestra. ;Acho que Walton nunca foi tocado nem em Nova York;, garante o maestro. Do time de brasileiros a orquestra toca as Danças reais e imaginárias, suíte escrita por André Mehmari em 2005 a partir de um tema barroco de Henry Purcell, Canto de amor e paz, do fundador da orquestra, Claudio Santoro, e Genesis, de Heitor Villa-Lobos.

A lista de convidados para 2010 não é extensa, mas promete regentes e intérpretes excepcionais. Para o Concerto para piano n; 3, de Rachmaninoff, a orquestra traz o pianista inglês Peter Donohoe, que já gravou com a Filarmônica de Berlim e o maestro Simon Rattle, um dos mais prestigiados da cena internacional. Em junho, o violinista Carmine Lauri, spalla da Sinfônica de Londres, toca o Concerto para violino, de Anton Dvorak, e em agosto é a vez de Enrique Batiz, regente da Orquestra Filarmônica da Cidade do México, conduzir um programa com Félix Mendelssohn, Schumann e Manuel De Falla. Para o fim do ano, Levin planeja a ópera Otello, de Giuseppe Verdi. Ainda está em busca de patrocínio para uma possível montagem cênica, embora garanta que, mesmo sem cenário, a ópera acontecerá em versão sinfônica. ;Tenho 20 anos de experiência em ópera e quero fazer uma em Brasília.;

ORQUESTRA SINFÔNICA DO TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO
Abertura da temporada nesta terça-feira (16/3), às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entrada franca mediante retirada de ingressos na bilheteria

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