Diversão e Arte

Marina Colasanti lança Contos de amor rasgados

postado em 29/03/2010 08:49
Delicado e devastador é o livro Contos de amor rasgados, recém-chegado às prateleiras pela editora Record. Exímia costureira de metáforas, a escritora Marina Colasanti povoa as 208 páginas de mulheres e homens pudicos e pervertidos, realizados e perdidos, amantes, amados e abandonados. Difícil não fazer um paralelo com seu famoso conto A moça tecelã, em que a personagem costura incessantemente os sonhos e, quando se cansa deles, desata os nós, desmancha os antigos desejos e inicia nova trama. Aqui, a autora tece páginas de histórias que formam um mosaico com o qual certamente o leitor se identifica: quem já não sofreu por amor? E os contos, curtos, vão se esvaindo, deixando uma impressionante vontade de ler o próximo. Marina Colasanti na Igreja Dom Bosco, em Brasília: personagens de rumos imprevisíveisOs leitores podem se deparar, por exemplo, com a sensação de vazio ao encontrar a sutil narrativa Despedida à maneira de Degas, sobre um casal que decide se ver pela última vez, certo do rompimento. Sentados um diante do outro, pedem a bebida que remete ao primeiro dia, na tentativa de que essa lembrança os acalente. E ficam no bar, em silêncio, olhando para o vazio dos olhos alheios, até que o líquido evapore do fundo dos copos. A obra também propicia momentos de irônica diversão, como em A paixão da sua vida. Nele, o personagem ama, em vão, a morte. Para se encontrar com ela, toma veneno, atira-se de pontes. Até que desiste de chamar a atenção da amada e procura a vida. Enciumada, a morte se revolta e lhe dá um abraço. Outro destaque é sensorial Prelúdio e fuga, em que um piano de cauda torna-se amante. Se ele não garante orgasmos frequentes, ao menos tem uma grande virtude: é um parceiro bastante romântico. [SAIBAMAIS]Entre encontros e desencontros, Marina Colasanti conduz o leitor até o último texto, Um tigre de papel. Metalinguístico, ele mostra como os personagens criados pela escritora traçam rumos independentes da vontade dela, e, por isso, obrigam o texto ao remate, ao ponto final. Nascida em Asmara, capital de uma antiga colônia italiana na África, Marina Colasanti se radicou no Rio de Janeiro com a família em 1948. Vencedora de Jabutis e outros importantes prêmios, ela se dedica a contos, crônicas, poesia e livros infantis. Todos marcados por peculiar sensibilidade. Também ministra palestras, oficinas de contadores de histórias e se debruça sobre tintas, telas e papeis para criar quadros e ilustrações. A capa de Contos de amor rasgados, inclusive, é um óleo sobre tela de sua autoria. CONTOS DE AMOR RASGADOS De Marina Colasanti. Editora Record. 208 páginas. Preço: 37,90.

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