Diversão e Arte

O mundo sobre uma bicicleta

O multiartista David Byrne, ex-Talking Heads, relata em diário suas viagens por cidades do planeta. São impressões bem-humoradas e ecologicamente corretas

postado em 31/03/2010 07:00


Gustavo Vasconcellos (D) e Paulo Mesquita: fãs do líder do extinto Talking HeadsO que seria do movimento punk sem o ;1,2,3,4; de Joey Ramone? Ou a voz rouca e politizada de Patti Smith? Mais: sem as loucuras incendiárias de Iggy Pop à frente dos Stooges? E o blues urbano de Lou Reed? Provavelmente, a história seria outra. Uma figura que contribuiu, sobretudo pelas experimentações à frente do Talking Heads, foi o multifacetado David Byrne(1). Por muitos anos, ele foi o cara que ; com seu jeito desengonçado e bastante criativo ; deu um alento experimental à cena punk daquela Nova York dos anos 1970, antecipando inclusive a new wave nos Estados Unidos. Ao som rock da banda, ele incluía sonoridades que iam da música africana à brasileira.

Consciente das questões ambientais, o músico ; que, em 1991, deu fim ao Talking Heads ; colocava na bagagem um instrumento inusitado para uma turnê musical: uma bicicleta dobrável. A cada cidade visitada, Byrne pedalava e anotava tudo sobre as aventuras em duas rodas. Isso resultou no livro Diários de bicicleta, lançado e distribuído no Brasil pela Amarilys, selo da Editora Manole. A tradução é de Anna Lim, Fabiana Carvalho e Otávio Albuquerque, com prefácio escrito por Tom Zé, amigo do músico britânico. A obra vem recheada de imagens feitas pelo artista (ou retiradas da internet, devidamente creditadas).

[SAIBAMAIS]No livro, a bike não é usada apenas como instrumento de locomoção. O autor usa as pedaladas para falar sobre política, geografia, história e a cena musical do lugar retratado. É assim nos capítulos sobre Berlim, Istambul, Buenos Aires, Manila, Sydney, Londres, São Francisco, Nova York, entre outras. Na capital argentina, por exemplo, ;a Paris do Hemisfério Sul;, o músico elogia a cidade, com suas vias largas, mas critica o fato de não ver argentinos usando bicicletas pelas ruas. Byrne diz que o rock feito lá ; apesar de cantado em castelhano ; é bastante influenciado pelas músicas inglesa e norte-americana.

Alternativas
;David Byrne tem uma sacação estética e agente de uma geração, conseguiu eletrizar os Talking Heads. Nada mais acertado do que continuar a procura por outras alternativas sonoras no mundo;, avalia Gustavo Vasconcellos, baterista dos conjuntos Banda 80 e Another Blues Band. ;À frente da banda, ele foi brilhante. Mas a carreira solo dele é errática, apesar de ter coisas muito boas. Ele meio que se repete, não entendo muito bem o que quis passar, mas é um cara que tem o seu valor;, analisa Paulo Mesquita, que assume o vocal em três grupos de Brasília: Capital Urbana, U2 Elevation e Paulo Mesquita e Os Brancos.

Os dois músicos, que conheceram David Byrne na época do Talking Heads, ainda nos anos 1980, não deixam de citar o artista como referência em seus trabalhos. ;A primeira música que ouvi deles foi Wild wild life, no programa Clip Clip, da Globo. Me chamou atenção aquela sonoridade, diferente de tudo o que conhecíamos na época;, lembra Paulo, que incluiu a canção no repertório d;Os Brancos, ao lado dos clássicos And she was e Psycho killer. Gustavo, que ficou encantado com o clipe da canção Stop making sense, lembra que a cozinha baixo-bateria do Talking Heads tem uma pegada forte e dançante e ;ficou marcado porque é simples e econômica, sem ficar poluído;.

Escocês do mundo
Nascido em Dumbarton, na Escócia, David Byrne lançou 11 álbuns, sendo quatro com o Talking Heads, trabalha como produtor musical e fotógrafo. O músico também fez trilhas de filmes como O último imperador, de Bernardo Bertollucci, vencedor do Oscar em 1987. No Brasil, produziu discos de Tom Zé e Margareth Menezes. Brian Eno é o maior parceiro de Byrne desde a época do TH.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação