Diversão e Arte

50 filmes que marcaram a cidade

Ricardo Daehn
postado em 04/04/2010 07:00

Tendo como combustível uma rotina circular, que sempre desemboca no conceito de construção, o cinema feito em Brasília, com regularidade, pende para a autorreferência. Organizados em blocos, os filmes ; muito ligados à realidade ; trazem em comum o enfoque de uma cidade jovem e em processo, ainda desprendida de certezas. Quando dotados do espírito documental, os cineastas fazem as descobertas de um passado com feições rejuvenescidas, dado o tom sempre avançado embutido na genética da cidade. Sem encerrar um conceito hierárquico, e não apenas orientado por títulos que contemplem Brasília como cenário, num levantamento ; naturalmente impreciso, dado o volume de produções locais ;, o Correio mapeou filmes influentes para a cidade. É a abertura para uma série dominical que prevê um apanhado da arte produzida com chancela brasiliense.

Crises e a irmanada dobradinha política e poder, além do próprio fazer cinematográfico, reinam como temas de uma cidade que define, via verbas estatais, a linhagem dos projetos de cinema. Muito antes, porém, das discussões sobre cinema brasiliense, a capital já posava para as câmeras. Cinegrafistas desciam de helicópteros para documentar as cenas da construção, amplificadas na película dos cinejornais. A partir de 1964, mestres como Nelson Pereira dos Santos e Paulo Emílio Salles Gomes formaram o corpo docente do primeiro curso superior de cinema do Brasil (na Universidade de Brasília), que desenvolveu obras sobre aquele período de formação.

[SAIBAMAIS]Mas a infância de Brasília não foi retratada como um catálogo oficioso. Era a aventura humana que instigava esses cineastas-desbravadores, que trataram de iluminar uma multidão de atores anônimos: a babel de migrantes (no inaugural Fala, Brasília, de 1966), os candidatos a uma vaga na universidade (Vestibular 70, de 1970), os contrastes sociais (Brasília: contradições de uma cidade nova, de 1967). Desde então, a cidade aceitou o papel de musa em fitas de ação, produções estrangeiras, sátiras políticas, poemas filmados. A investigação da identidade brasiliense, ainda sem desfecho, atiça uma geração que continua a procurar respostas para uma antiga questão: qual é a imagem do cinema brasiliense?

Veja detalhes dos filmes

Os anos JK; uma trajetória política
Silvio Tendler, longa-metragem, 1980


Mapeando episódios entre as décadas de 1940 e 1970, o diretor traça complexo painel político do país. Sucesso de público, venceu o troféu Margarida de Prata (da CNBB) e, junto à sociedade oprimida, exaltou o ideal democrático representado na figura de Juscelino Kubitschek.

Athos
Sérgio Moriconi, média-metragem, 1998


O depoimento do artista plástico Athos Bulcão já garantiria relevância ao curta de Moriconi. Mas o cineasta e crítico ousa ao intercalar a entrevista com citações cinematográficas e elementos de ficção.

Barra 68 ; sem perder a ternura
Vladimir Carvalho, longa-metragem, 2000


Atento ao poder de comoção das imagens que registram a invasão de tropas militares na UnB, Vladimir faz um elogio à memória da universidade e à luta contra a repressão.

Brasília
Cacá Diegues, curta-metragem, 1960.

"Isso daqui será uma cidade?"Era a indagação recorrente de Cacá Diegues que, aos 18 anos, tinha à frente "um deserto de poeira vermelha e placas que indicavam as futuras edificações". De posse de uma câmera 16mm, emprestada pelo amigo David Neves, Diegues acompanhou o pai, um funcionário público, na capital em obras. A lembrança da cidade em construção ficou apenas na memória do realizador: nenhuma cópia do filme foi preservada.

Brasília, a última utopia
Pedro Anísio, Geraldo Moraes, Vladimir Carvalho, Pedro Jorge de Castro, Moacir de Oliveira e Roberto Pires, longa-metragem, 1989

Seis curtas-metragens encomendados a partir da nomeação da capital como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987. Com 20 anos de distanciamento, permaneceram os espíritos de universalidade e de matriz de identidade encorpados na proposta.


Brasília ano 10
Geraldo Sobral Rocha, curta-metragem, 1970


Sem o tom oficioso que se espera de um filme comemorativo, o curta produzido pelo Departamento de Turismo de Brasília (e concebido por uma geração de pioneiros do cinema local) é uma análise sóbria, com um quê filosófico, do projeto urbanístico da cidade.

Brasília: contradições de uma cidade nova
Joaquim Pedro de Andrade, média-metragem, 1967

"A primeira metade do filme tem um tom quase institucional. É a imagem que se tem da cidade vista de fora. Na metade, a narrativa dá uma guinada e se transforma em um documentário direto, o retrato de uma capital pulsante, que não foi planejada", comenta Pablo Gonçalo, cineasta, crítico e coordenador do curso de cinema e mídias digitais do Iesb. Pouco antes da produção do clássico Macunaíma, o diretor Joaquim Pedro de Andrade, ao lado do fotógrafo Affonso Beato, revelou mazelas nesse filme que se debruça sobre problemas visíveis como moradias insuficientes, a formação da periferia e dados de mortalidade infantil.

Brasília 18%
Nelson Pereira dos Santos, longa-metragem, 2005

O thriller político de Nelson Pereira dos Santos cria uma atmosfera desconfortável de delírio para narrar os dias secos de um médico legista (Carlos Alberto Riccelli) às voltas com um crime que envolve figurões do Congresso Nacional.

Brasília, planejamento urbano
Fernando Coni Campos, curta-metragem, 1964.

A planificação da capital, apoiada em descrição de elementos topográficos, está registrada no filme que teve Lucio Costa como consultor. A produção utilizou trechos de um filme inacabado do Instituto Nacional de Cinema Educativo, iniciado quatro anos antes.

Brasília segundo Feldman
Vladimir Carvalho, curta-metragem, 1979

A partir de imagens do designer norte-americano Eugene Feldman, investe no nebuloso massacre de operários pela Guarda Especial de Brasília (GEB), além de revelar precárias condições dos trabalhadores.

Brasília ; um dia em fevereiro
Maria Augusta Ramos, média-metragem, 1996

Vencedor do troféu Câmara Legislativa do DF, enfatizou o poder de observação da diretora dos documentários Juízo e Justiça, que não se rendeu ao formato de entrevistas. Numa estratificação social, despontam um vendedor ambulante, uma representante da alta sociedade e uma estudante universitária.

Brasília, um roteiro de Alberto Cavalcanti
Antonio Carlos Fontoura, média-metragem, 1982

Exibido no Festival de Brasília de 1982, o documentário do diretor de A rainha diaba recupera um roteiro do cineasta Alberto Cavalcanti (que conheceu a cidade no fim dos anos 1970) para compor um ensaio sobre a arquitetura de Oscar Niemeyer.

Brasiliários
Sérgio Bazi e Zuleika Porto, curta-metragem, 1986

Em consonância com níveis documental e fictício empregados por Clarice Lispector nas crônicas Brasília: esplendor e Nos primeiros tempos de Brasília, o filme valeu-se dos contrastes arquitetônicos da capital.

Bye bye Brasil
Cacá Diegues, longa-metragem, 1979

É numa kombi com logotipo da Casa do Ceará que os personagens de Fábio Jr. e Zaira Zambelli, ambos dissidentes da circense Caravana Rolidei, chegam a um dos bolsões de pobreza, nos arredores de Brasília. Antes, porém, são ciceroneados pela assistente social interpretada por Marieta Severo que exalta a capacidade acolhedora da cidade. Cada um no seu canto é a mensagem embutida no longa dedicado, literalmente, "ao povo brasileiro do século 21".

Um candango na Belacap
Roberto Farias, longa-metragem, 1961
O Rio de Janeiro é o cenário desta comédia rasgada sobre candango que, após a construção da cidade, se muda para a antiga capital (Belacap). Mas, nos créditos finais, uma Brasília recém-nascida aparece em uma colagem vibrante de imagens. "O filme era sobre a invejinha que o Rio tinha da Novacap", contou Roberto Farias, em entrevista ao Correio em dezembro de 2009.

Capitalismo selvagem
André Klotzel, longa-metragem, 1993

Na sátira política dirigida pelo paulistano André Klotzel (A marvada carne), uma jornalista que desce ao mar de lama para desvendar um crime indígena. Filmado em São Paulo, Brasília, Cubatão e na aldeia Krahô do Rio Vermelho (Tocantins).

Celeste & Estrela
Betse de Paula, longa-metragem, 2002.

"Lugar de dinheiro é Brasília", diz uma das personagens do triângulo amoroso (formado por um casal que ama o cinema) destacado pela fita. Em cena, uma aspirante a cineasta (Dira Paes) se enamora de um burocrata do Ministério da Cultura (Fábio Nassar), na leve comédia que brinca com clichês e citações cinematográficas.

A céu aberto
João Batista de Andrade, longa-metragem, 1985.

Brasília não é o único cenário para a trajetória da "voz originária da democracia" personalizada na figura do presidente Tancredo Neves. Mas, é na capital que a morte do líder conciliador causa grande parte da comoção registrada entre jornalistas, líderes e, particularmente, anônimos.

5 filmes estrangeiros
José Eduardo Belmonte, curta-metragem, 1997

O segundo curta de Belmonte é o instantâneo frenético de uma geração de cineastas que filmou Brasília com ironia, leveza e certa aflição. Na fauna do roteiro, entre o videoclipe e a nouvelle vague, sobra até para um nepalês sociopata. Vencedor do prêmio de melhor curta no Festival de Brasília.

A concepção
José Eduardo Belmonte, longa-metragem, 2005.

Com a contrastante atmosfera de vanguarda retrô, embalado por tipos andróginos e de vida torta, o longa traz à tona a persistente imprecisão de identidade que compõe a fauna explorada por José Eduardo Belmonte. Repleta de desacato, a epopeia lisérgica faturou prêmios Candango de melhores montagem e trilha sonora.

Conterrâneos velhos de guerra
Vladimir Carvalho, longa-metragem, 1992

Em um artigo escrito em 1992, Vladimir Carvalho definiu Conterrâneos velhos de guerra como "a crônica dos lances enfrentados pelos nordestinos que vieram, no fim dos anos 1950, para a construção de Brasília." O filme é isso, mas a descrição subestima o desenho monumental de uma epopeia do Centro-Oeste. "É um resgate muito rico da história da cidade. No início da carreira, Vladimir filmava o homem nordestino. Em Conterrâneos, ele buscou aqueles nordestinos aqui, na capital", comenta Marcos de Souza Mendes, cineasta e professor da UnB.

Doces poderes
Lúcia Murat, longa-metragem, 1996

O drama político questiona os métodos de jornalistas que trabalham em campanhas eleitorais. A protagonista (Marisa Orth) é uma repórter afogada em uma crise ética.

Fala, brasília
Nelson Pereira dos Santos, curta-metragem, 1966

Como inaugurar uma cinematografia? Neste documentário, projetado por professores e alunos do curso de cinema da UnB e dirigida por Nelson Pereira dos Santos, a narrativa ganha uma dimensão de um manifesto: mais do que registrar a construção física de Brasília, a câmera se encontra com os brasileiros que chegam à capital. A diversidade de sotaques é o tema central de um curta que instiga possibilidades para uma arte comprometida com a documentação e a análise de uma nova realidade. Eis o nascimento de uma cidade ; e de um cinema.


Ricardo Dias, longa-metragem, 1997

Um dos momentos mais curiosos (e quase surrealistas) do documentário de Ricardo Dias, que propõe um "mosaico brasileiro de crenças", é brasiliense: a visita aos adeptos da Tia Neiva, no Vale do Amanhecer.

O homem do Rio
Philippe de Broca, longa-metragem, 1964

Vestido em um impecável smoking branco, Jean-Paul Belmondo cruza a plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto e, em um corte abrupto, aparece sob o Palácio do Planalto. Não foram poucas as liberdades tomadas pelo diretor francês Philippe de Broca. Uma cidade em obras, esvaziada, é recriada sob a névoa de barro vermelho. Rio de Janeiro e a Amazônia também entraram no itinerário desta fita de aventura, coprodução entre França e Itália.

A idade da Terra
Glauber Rocha, longa-metragem, 1980

Obra aberta por natureza, com a invasiva presença do próprio cineasta, tem discurso engajado, a postos para subverter a ordem e difundir uma espécie de transe visual. Nele, o fundamental traço nacionalista de Glauber é expurgado. Nas sequências mais endiabradas, Maurício do Valle perambula pela capital, com intermináveis provocações, tendo como fundo a incipiente fachada do Conjunto Nacional e um Teatro Nacional em obras.

Inferno no Gama
Afonso Brazza, longa-metragem, 1993.

"Como numa perfeita síntese para a pontuação trash do Brazza, o filme foi construído enquanto o governo Collor desmantelou o cinema brasileiro. No longa, dá para notar uma mudança de posicionamento do diretor: ele entrou em contato com o público", disse Pedro Lacerda, amigo e realizador que finalizou Fuga sem destino no lugar de Afonso Brazza, morto em 2003.

Insolação
Felipe Hirsch e Daniela Thomas, longa-metragem, 2009

No filme-poema de Hirsch e Thomas, Brasília funciona como o eixo de uma trama que reúne diversos personagens. Ao mesmo tempo, é "lugar nenhum": uma cidade bela e estranha que, fotografada em ângulos inusitados, se assemelha a um cenário de ficção científica.

Jânio a 24 quadros
Luis Alberto Pereira, longa-metragem, 1981

Ficção e realidade, assim como preto e branco e cores, se misturam num "profano" (como sublinhou o diretor) tratamento para três décadas da política nacional. Nas encenações, figuras irreverentes como o Tio Sam e Che Guevara.

O jardineiro do tempo
Mauro Giuntini, curta-metragem, 2001.

Diretor do longa Simples mortais, Giuntini lança luz sobre um dos estetas que interveio na elaboração da cidade: o paisagista Roberto Burle Marx. No itinerário visual, despontam os jardins da 308 Sul, as praças do Parque da Cidade e do Setor Militar Urbano, além do Palácio do Itamaraty.

O lobisomem e o coronel
Elvis Kleber e Ítalo Cajueiro, curta-metragem, 2002.

Animação vencedora do prestigiado festival AnimaMundi, foi o marco inicial para a consistente carreira da dupla de diretores. Na trama, em forma de repente, um cego conta o destino reservado a rico latifundiário.

Louco por cinema
André Luiz Oliveira, longa-metragem, 1994.

A sétima arte se prova um saudável meio de tratamento para uma trupe rebelada em hospício. Numa homenagem a humor ingênuo, o diretor saiu do Festival de Brasília com seis Candango, entre eles, melhor filme e direção.

Momento trágico
Cibele Amaral, curta-metragem, 2003.

Comédia, premiada pelo júri popular no Festival de Brasília, que promoveu arrastão de Kikitos no Festival de Gramado de 2004, ao faturar prêmios de melhor filme (ratificado pelo júri popular), de direção e de melhor ator (André Deca), trata de uma ciranda de amores e neuroses, com direito a um espião infiltrado em terapia de grupo.

No coração dos deuses
Geraldo Moraes, longa-metragem, 1999

O projeto de Geraldo Moraes era narrar uma aventura juvenil entremeada com fatos da história do Brasil. Criou um exemplar incomum no cinema da cidade: um filme de gênero.

Oficina Perdiz
Marcelo Diaz, média-metragem, 2006

À margem dos padrões de uma cidade planejada, a "irregular" Oficina Perdiz (na Asa Norte) é um híbrido de teatro e oficina mecânica que enfrentou uma série de ameaças de interdição. Marcelo Díaz narra essa história com afetuosidade, mas sem evitar a provocação política.

Oscar Niemeyer ; a vida é um sopro
Fabiano Maciel, longa-metragem, 2008

A simplicidade do registro é o mérito desta longa (mas nunca enfadonha) entrevista com Niemeyer, que conversa sobre velhice, política, arquitetura e beleza. Abriu o Festival de Brasília de 2008.

Patriamada
Tizuka Yamasaki, longa-metragem, 1985.

Registrar a transição do regime militar para o meio civil foi a proposta do longa que teve três dias de filmagens em Brasília, com a equipe disfarçada de profissionais da tevê. Débora Bloch e Walmor Chagas, respectivamente, dão vida à jornalista de esquerda e ao empresário, na história inspirada no clima das Diretas Já.

Rap, o canto da Ceilândia
Adirley Queiroz, curta-metragem, 2005

"O rap estava ali, na minha casa, na rua, no campo de futebol. Foi importante para a minha autoafirmação", contou o diretor estreante Adirley Queiroz ao Correio, poucos dias depois de ter vencido os prêmios de júri e público no 38; Festival de Brasília. Amplificar a identidade da periferia ; nem que na marra ;, é o tema deste documentário duro sobre o hip-hop de Ceilândia.

Redentor
Cláudio Torres, longa-metragem, 2004

Com cenas aéreas da capital, manipuladas no computador, a cidade paira como centro de poder que emana a ordem geral para a vida do personagem de Pedro Cardoso. Dono de impasse ético e enlouquecido, ele tem o delírio de ver a explosão do Congresso Nacional, explícita na fita.

O risco ; Lucio Costa e a utopia moderna
Geraldo Motta Filho, longa-metragem, 2002

Com material de arquivo enriquecido pela ótica do próprio urbanista (em imagens 8mm feitas entre os anos de 1930 e 1960), o filme modela o nascimento e o desabrochar da arquitetura moderna. Entre os depoimentos, na íntegra registrados em livro, o arquiteto, professor e pintor Sérgio Ferro avalia: "A forma do Lucio Costa, sempre aparentemente tímida, simples, sem arroubos transcendentais, me parece muito mais próxima do projeto dele, do que a utopia do Niemeyer. Eu não oporia nunca o uso à forma".

ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR
Manfredo Caldas, longa-metragem, 2006.

O texto homônimo do cearense João Bosco Bezerra Bonfim ganha corpo neste documentário de pedigree poético e que reutiliza imagens de Conterrâneos velhos de guerra e Brasília segundo Feldman. Candangos e ex-construtores comparecem em cena, na denúncia social feita sob o prisma humanista do cineasta e "sem a exuberante luz da cidade", como o diretor destacou.

Samba em Brasília
Watson Macedo, longa-metragem, 1960

Nesta chanchada carioca, Brasília representa o sonho de ascensão social de uma porta-bandeira salgueirense, insatisfeita com um cotidiano sem luxo. Mesmo fora de cena, a nova capital atrai personagens em busca de uma vida melhor.

Sinistro
René Sampaio, média-metragem, 2000

Um acidente "sinistro" provoca o encontro entre os personagens de um curta que, vencedor do Festival de Brasília, surpreendeu com uma trama engenhosa e bem-humorada. O diretor desenvolve o primeiro longa, Faroeste caboclo.

O sonho não acabou
Sérgio Rezende, longa-metragem, 1982

Uma desencanada primeira geração de brasilienses habita a estreia do diretor pela ficção. Na pele de uma hippie, Lucélia Santos vê até um disco voador no Lago Norte, enquanto se multiplicam na tela locações como uma mansão do Lago Sul, a agitada 109 Sul, a Torre de TV e até o Vale do Amanhecer.

Subterrâneos
José Eduardo Belmonte, longa-metragem, 2003

Nas trincheiras do Conic, Belmonte definiu as bases de uma guerrilha cinematográfica que alterou o perfil de um cinema antes bem-humorado e pop, agora angustiado e fragmentado. A crise de um sindicalista (Murilo Grossi) é filmada como um pesadelo de concreto.

A terceira margem do rio
Nelson Pereira dos Santos, longa-metragem, 1992

Quase 30 anos depois de ter marcado uma posição de pioneirismo no cinema brasiliense (com o curta Fala, Brasília, de 1966), Nelson Pereira dos Santos se lançou em outra aventura: conduziu o primeiro longa filmado no Pólo de Cinema, campo de produção erguido em Sobradinho. Dupla ousadia, já que esta tradução de Guimarães Rosa desafiou um dos períodos mais penosos do cinema brasileiro, cravado na aridez da era Collor. Nelson respondeu às provações com uma adaptação quase sem floreios. Corajosamente, converte precariedade em mágica.

Vestibular 70
Vladimir Carvalho e Fernando Duarte, curta-metragem, 1970

Neste retrato em preto e branco, concebido pelo curso de cinema da UnB, os corredores da universidade são retratados como campo para uma batalha. Os gladiadores: mais de cinco mil estudantes que, anônimos, disputam vagas no vestibular de 1970.

A vida provisória
Maurício Gomes Leite, longa-metragem, 1968

Discípulo de Godard e Glauber Rocha, o crítico Maurício Gomes Leite, nascido em Belo Horizonte, estreia na direção de longas com uma crônica desencantada. Na trama, um jornalista mineiro faz uma viagem trágica à capital. Paulo José, Dina Sfat e Joana Fomm estão no elenco.

As vidas de Maria
Renato Barbieri, longa-metragem, 2004

A história da capital se entrelaça à trajetória de Maria (Ingra Liberato), uma mulher que nasceu no dia da inauguração da cidade. O primeiro longa de ficção dirigido por Barbieri (de A invenção de Brasília, sobre a saga da construção) abriu o Festival de Brasília de 2004.

Viva Cassiano!
Bernardo Bernardes, média-metragem, 2004.

Animações, depoimentos de personalidades como Antunes Filho e recitais dão corpo à fita que desembocou da estreita amizade entre o jovem realizador e o experiente poeta santista, à época radicado na capital. Valorizado pelo júri popular do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o filme levou nove anos para ser finalizado.

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