Diversão e Arte

Uma grande família

De simples fãs, muitos se transformam em amigos de artistas que tocam na noite de Brasília e os seguem em todos os palcos

Irlam Rocha Lima
postado em 29/05/2010 11:25
Os casais formados pelo economista Francisco Nonato Cavalcante Lima e a advogada Teresinha de Jesus Lima, pelo músico Gilson Carvalho e a professora Maiana Aragão Rocha estão programando uma viagem ao Caribe. Amigos há quase dois anos, eles se conheceram no Bier Fass, no Centro Comercial Gilberto Salomão, onde Gilson é cantor e baterista.

Tradicional bar e restaurante da cidade, o Bier é uma das muitas casas noturnas brasilienses com música ao vivo e das poucas que mantêm cantores fixos por longo período. Isso acaba determinando vínculo de amizade entre o artista e os frequentadores assíduos. Gilson está nesse caso. Ele se apresenta no Bier há oito anos ; de quarta-feira a sábado ; na companhia do baixista Geraldo e do pianista Gugu.

;No Bier temos um público cativo, principalmente às sextas-feiras e aos sábados. São pessoas de gosto musical bem variado as quais procuramos atender da melhor maneira. Se alguém pede uma música e ela não faz parte do nosso repertório, logo procuramos ensaiá-la e incluí-la;, revela Gilson. Essa é uma prática entre os ;cantores da noite; que contribui para a conquista de admiradores.

Parceiros de viagem: o casal Francisco Nonato e Teresinha de Jesus acompanha a carreira de Gilson há dois anosAssim como Gilson, Régis Torres, Marinho Lima e Andréia Leones têm prazer em cantar músicas que lhes são pedidas pelos clientes das casas onde se apresentam. Se não fazem parte de suas listas, empenham em aprendê-las, ou ;tirá-las;, de acordo com o jargão do meio. ;Eu só estou aqui há tanto tempo por causa das pessoas que me prestigiam, que pagam couvert artístico para me ouvir cantar;, afirma convicto Marinho Lima, com 23 anos de carreira e há três anos no Vinheiro São Vicente, na 111 Norte. Os três, igualmente, fizeram ;grandes amigos; no exercício da profissão.

Com quase 30 anos de cantoria, Gilson passou por casas que fizeram história na noite da capital como Stalão (Setot Hoteleiro Sul), Bataclã (Conic) e Sereia (413 Sul). ;Todas, coincidentemente, ficaram conhecidas como redutos da boemia e lugares onde havia encontro de casais. Outro local que cantei foi o New Scotch Bar (204 Norte), que depois passou a se chamar Cantinho do Rei, porque o dono, também cantor, era clone do Roberto Carlos;, lembra.

Mas é no Bier Fass que Gilson se firmou e formou plateia, ao interpretar repertório pra lá de eclético, que vai de Roberto Carlos a Chiclete com Banana, de Tom Jobim a Zezé Di Camargo & Luciano. ;O Nonato e a Teresinha (os amigos conquistados ali) preferem que eu cante músicas mais ritmadas, pois eles vão ao Bier às sextas-feiras e aos sábados principalmente para dançar;, comenta.

;Nós frequentávamos outros bares e restaurantes, mas por indicação de Vanessa, nossa filha, viemos ao Bier Fass, onde, segundo ela, havia um grupo musical que animava os clientes. Gostamos tanto que viramos fregueses e nos tornamos amigos do Gilson, um cantor que sabe, como poucos, cativar quem o ouve. Meu gosto musical é bem variado, indo de The Fevers a Roupa Nova, de antigos boleros e música sertaneja. Ele tem prazer em atender nossos pedidos;, elogia Francisco Nonato. ;Eu e a Teresinha nos identificamos muito com o Gilson e a Maiana, mulher dele. Tanto que estamos programando algumas viagens. Uma delas é para Aruba;, acrescenta.

Sobrevivência
Embora tenha trabalho autoral, Marinho Lima busca a sobrevivência cantando na noite. Ele começou em 1987 em restaurantes de Taguatinga, como o extinto Fornassa, que ficava na entrada da cidade; e depois soltou a voz em bares do Plano Piloto, entre os quais o Times (404 Sul). Hoje, ele é responsável pela boa frequência do Vinheiro São Vicente, no fim de semana.

De tanto ouvir Marinho, o gerente comercial Henrique Buess se transformou no mais novo ;amigo de infância; do cantor. ;Curioso é que o conheci há apenas um ano. Ao ouvi-lo cantar A lista, de Oswaldo Montenegro; e O cadeno, de Toquinho, me tornei fã. Admiro, em especial, a maneira como ele trata público;, alardeia.

Contemporâneo das bandas que, na década de 1980, fizeram de Brasília a ;capital do rock;, Regis Torres sempre foi ligado à MPB. ;Embora admirasse Renato Russo, Philippe Seabra, Paulo César

Cascão e outros roqueiros, eu tinha como parceiro Márcio Faraco, que há vários anos mora na França, onde é um artista aplaudido;, recorda-se. ;Fui servidor público, mas há mais de duas décadas optei definitivamente pela música e passei a cantar na noite. Me tornei conhecido no Aspone, que existiu na 506 Norte, próximo ao Ceub;, rememora.

Incontáveis bares depois, Regis, atualmente, divide-se entre Asterix (Lago Sul), Vila Tevere (116 Sul), Vinheiro São Vicente (111 Norte) e Stadt Beer (Setor de Indústrias Gráficas). ;Minha ligação maior é com a bossa nova e com a música dos compositores que se mantêm na linha de frente da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Ivan Lins e, claro, do eterno mestre Tom Jobim;

Foi ouvindo Regis reverenciar Tom, no Vinheiro, que o artista plástico Ezequiel Rego, o Kiel, passou a segui-lo por todos os palcos em que se apresenta. ;Vejo-o como um artista cativante, que sabe como poucos interagir com o público. Me orgulho de tê-lo como amigo e de ter sido padrinho de casamento dele. Ah, sim! Ouvi-lo interpretar Chega de saudade e Samba do avião, de Tom e Vinicius, é um privilégio;, enaltece.

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