Diversão e Arte

Tudo pelo coletivo

Brasília vive período de afirmação do teatro de grupo. O formato, presente desde os anos 1970, foi aquecido pelo aparecimento de dezenas de companhias e pela organização de encontros e festivais

postado em 08/06/2010 07:00
Enquanto Manuela Castelo Branco abre os potes de maquiagem ; pancake branco e vermelho e um lápis preto compõem o estojo ; sua personalidade muda gradualmente. O tom de voz, um pouco sério quando o assunto são as dificuldades de se estabelecer como um grupo de teatro, se torna sonhador, passa por picos de euforia e retorna ao timbre original. A transformação termina com o último retoque da maquiagem, quando as sobrancelhas grossas desenhadas a lápis revelam Matusquella, uma palhaça que parece ligada na tomada. Matusquella (Manuela) e Tatiana: ação coletiva no Lona Circo TeatroQuem assiste à transformação mal reconhece a antiga Manuela, muito menos sabe que, por trás da composição da personagem, há o apoio das atrizes Ana Felícia Castelo Branco (a palhaça Cenoira) e Tatiana Carvalhedo, que também atuam na produção. As três formam o Lona Circo Teatro, uma equipe que baseia espetáculos e trabalhos solo na composição coletiva. ;Existe a divisão dos papéis, como produção, direção, concepção musical, mas nossos espetáculos são pensados juntos. E todo mundo tem um trabalhão;, define Tatiana. Esse modelo de criação artística surgiu no Brasil no fim da década de 1960 e hoje configura um modus operandi no fazer teatral na capital do país. De acordo com recente levantamento do Teatro do Concreto, lançado pelo Centro de Referência e Memória do Teatro do Candango sob o nome Guia de Teatro de Grupo do Distrito Federal, os 42 grupos cadastrados se espalham pelo mapa das regiões administrativas, ligando Brasília, Planaltina, Gama, Samambaia e demais cidades pela forma de pensar o teatro, e reúnem 317 atores. Na última década, o DF conheceu a explosão dos grupos, período em que surgiram 69% dos coletivos estudados pelo Teatro do Concreto. No Guia de Teatro de Grupo, estima-se que iniciativas da Cooperativa Brasiliense de Teatro, criada em 2003, o Festival do Teatro Brasileiro e o Cena Contemporânea, além de ações da Faculdade Dulcina de Moraes e da Universidade de Brasília, tenham fomentado esse pico de novos coletivos. Mas não é de hoje que o teatro de grupo está presente na cidade. Representantes como Esquadrão da Vida, Senta que o Leão é Manso, Grupo Pitu e Tucan começaram a aparecer na década de 1970. Alguns resistem até hoje. ;Quando começamos, em 1986, era um projeto de atores, não tínhamos espaço para ensaiar, nem direção certa. Trabalhamos muito em cima de textos clássicos, fazendo uma adaptação para a nossa realidade e com mensagens que dialogassem com o cotidiano daqui;, explica Preto Rezende, diretor do grupo Senta que o Leão é Manso, atuante em Planaltina. Apesar da proliferação do modelo, movimentos de mobilização só se evidenciaram no ano passado, com o 1; Fórum de Teatro de Grupo do DF, realizado em setembro. O movimento aponta um novo caminho, cada vez mais coletivo, para as companhias locais, facilitando a organização de festivais, colaborações e o diálogo. ;Brasília é dividida demais, com a separação em siglas e a organização em quadras. A impressão é que isso reflete nas relações artísticas. Os grupos eram centrados em suas cidades ou estilos, se conheciam, mas havia pouca mobilização. Isso tem mudado e essa capacidade de troca que tem impulsionado os trabalhos;, acredita Marco Michelangelo, do Teatro de Açúcar. Entrevista com Preto Rezende sobre o teatro de grupo
Rodrigo Fischer fala sobre o teatro de grupo

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