Diversão e Arte

Vitrais colorem espaços públicos, igrejas e residências de Brasília

Nahima Maciel
postado em 07/07/2010 07:05
Vitral pode ser sinônimo de sofisticação ou de extravagância. Durante muito tempo esteve associado exclusivamente ao ambiente eclesiástico, mas há alguns séculos começou a ser usado também em residências e prédios públicos. Geralmente é parte integrante de um projeto arquitetônico e a Brasília moderna, filha do século 20 e da obsessão pelo concreto armado, contou com um dos mais antigos recursos decorativos para ganhar um colorido que não estava na terra vermelha do Planalto Central.

Os prédios de Oscar Niemeyer contaram com a habilidade de Marianne Peretti, cujos desenhos abstratos e coloridos são detalhes fundamentais em prédios como Panteão da República, Memorial JK e Catedral Metropolitana. Nos ambientes eclesiásticos, três nomes se destacam na cidade. Duda Badan, um paulista radicado em Goiânia, assina trabalhos bastante convencionais em duas igrejas. Claudio Naves e o belga Hubert van Doorne são os responsáveis pelo colorido azul que banha todo o Santuário Dom Bosco, no início da Asa Sul. Vitrais podem também contar uma história e foi com isso em mente que o alemão naturalizado brasileiro Lorenz Heilmar projetou as cenas brasileiras que formam as paredes do edifício sede da Caixa. Até Athos Bulcão experimentou a técnica na capela do Palácio da Alvorada e em residências privadas.

O arquiteto Sérgio Parada não é um fã de vitral, mas reconhece que o recurso pode valorizar a arquitetura. ;E para fazer tem que ser um artista porque existe uma técnica de composição de cor e luz. Não critico o uso do vitral, mas ele depende da concepção que o arquiteto tenha de sua obra;, explica. ;Não sou muito chegado, mas há muitos anos fiz duas casas em Curitiba em que coloquei vitrais porque queria dar um efeito de cor.; Veja abaixo como trabalham os artistas que escolheram os vitrais como meios de expressão.



Lorenz Heilmair


Os vitrais viraram moda nos anos 1970 graças ao pai de Heilmair, um alemão instalado em São Paulo que começou a fabricar no Brasil os vidros artesanais destinados à técnica. ;Houve um boom, uma espécie de moda naquela época;, conta o artista. Os vitrais da Caixa ; um conjunto de 24 painéis dedicados aos estados brasileiros ; foram a terceira encomenda daquela década. Quando desembarcou na capital para realizar o projeto, Heilmair já havia participado de obras enormes em São Paulo e Porto Alegre. Cada uma das cenas projetadas para o prédio traz um personagem que representa cena típica das culturas regionais brasileiras. O material, Heilmair buscou na própria experiência. Quando garoto, acompanhava o pai em longas viagens pelo Brasil a bordo de uma Kombi. ;Toda a convivência com elementos típicos, eu tive pessoalmente;, conta o artista. Na época, o estúdio tocado pelo pai contava com 120 pessoas para dar conta da quantidade de trabalho. Com a crise do petróleo, a família de Heilmair suspendeu a fabricação dos vidros e passou a importar. A moda dos vitrais em prédios públicos também minguou. Atualmente, o artista mantém uma oficina em Curitiba. Conta com 15 colaboradores e há muitos anos não produz trabalho tão grandes quanto o conjunto projetado para a Caixa em Brasília. ;Hoje, 80% da produção é de arte sacra;, garante.



Claudio Naves e Hubert van Doorne

As 12 tonalidades de azul dos vitrais da Dom Bosco ajudam a criar o clima de meditação do ambiente

Naves projetou os vitrais do Santuário Dom Bosco e o belga Van Doorne executou. O trabalho dá conta de praticamente toda a parede da igreja: são 2.200m; de vitrais em 12 tonalidades de azul diferentes. Montado na década de 1960, o conjunto tem pequenos detalhes em que a luz fica mais clara, um recurso para reforçar a sensação de céu estrelado. Pouco se sabe, no entanto, sobre a inspiração dos artistas. Há alguns dias, uma secretária da paróquia encontrou os projetos dos vitrais e tentou seguir a trilha para chegar aos idealizadores, mas não conseguiu.



Duda Badan optou pela figuração tradicional na Perpétuo Socorro


Ele descobriu a arte do vitral aos 30 anos. Até então, trabalhava com restauração de móveis. Neto de um vitralista, montou oficina em Goiânia e é hoje um dos artistas mais requisitados para realizar vitrais em residências. Só para casas no Lago Sul, ele conta ter projetado cerca de 100 vitrais. Mas é possível também conhecer o trabalho do artista em alguns prédios públicos da capital. O mais simples deles ; duas figuras sacras em um vidro jateado e incolor ; está na Igreja Rainha da Paz, no Setor Militar. Na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, o vitral com a imagem de Nossa Senhora é bastante colorido. ;A primeira coisa que prezo no vitral é o estilo diferenciado. Na Rainha da Paz, eu não queria fazer uma coisa tradicional. O tradicional é cheio de rococó. Meu estilo é mais abstrato, mais estilizado;, avisa Badan. ;É diferente de um vitral residencial, no qual você está realizando o sonho de uma pessoa e tem que tentar interpretar o gosto dela.;

Peretti acaba de restaurar os vitrais da Catedral: azul renovado

Marianne Peretti
Peretti acaba de restaurar os vitrais da Catedral: azul renovado


Difícil imaginar alguns prédios projetados por Oscar Niemeyer sem o dedo mágico de Peretti. Vitralista preferida do arquiteto, Marianne imprimiu à sala mortuária do Memorial JK o clima de recolhimento que paira na iluminação avermelhada da sala. O mesmo vermelho destinado à parede principal do Panteão da República. Para a Catedral Metropolitana, a artista criou 2.000m; de vitrais azulados inaugurados em 1990. Mas é de 1994 o trabalho mias recente de Marianne em Brasília. Um enorme olho de 4,5m de altura vigia o Superior Tribunal de Justiça. ;Brasília é a cidade em que mais trabalhei, principalmente no que diz respeito às dimensões;, conta a artista, que aponta os vitrais da Catedral como seus preferidos. ;Deu muito trabalho e deixou minha coluna estragada.; Recentemente, Marianne ajudou a restaurar o trabalho para completar a reforma da igreja. A artista também tem projetos no Congresso e na capela do Palácio do Jaburu. Assim como na arquitetura de Niemeyer, as curvas são a base do desenho de Marianne. ;Eu gosto muito de curvas e faço vitrais completamente diferentes. Uso meu desenho como suporte do vidro. Em geral as pessoas dividem os vitrais em linhas e a cor se perde um pouco dentro do quadriculado.;

Athos Bulcão

A especialidade de Athos Bulcão estava nos azulejos, mas o artista também arriscou na arte do vitral e fez o mais delicado dos jogos de luz, cor e transparência dos espaços sacros da cidade. Para a Capela do Palácio da Alvorada, Athos criou uma composição de minijanelas tampadas com vidros coloridos em amarelo, vermelho e azul. Fez o mesmo em uma residência particular no Lago Norte. ;E a antiga porta da igrejinha da 308 Sul também era com vitral do Athos;, garante o arquiteto Sérgio Parada.

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