Diversão e Arte

A dama e o Lobo

postado em 29/07/2010 07:00
Com carreira iniciada em meio à chamada vanguarda paulista, no início dos anos 1980, a cantora Vânia Bastos continua demonstrando, duas décadas depois, a vontade sair do lugar-comum. Seja interpretando Caetano Veloso, Tom Jobim ou os mineiros do Clube da Esquina. Essa mesma vontade guia as interpretações da cantora para músicas de Edu Lobo, reunidas em seu novo disco, Na boca do Lobo. Com aquela voz que ;nos faz pensar em colibris e flores de organdi; ; nas palavras de Arrigo Barnabé, com quem Vânia dividiu o palco muitas vezes nos primeiros anos de carreira ;, a cantora recria 12 canções que representam diferentes momentos da carreira do compositor.

Para Vânia Bastos, é fácil explicar a opção por gravar Edu Lobo. Ela destaca no trabalho dele a ;personalidade sofisticada e popular ao mesmo tempo;. ;É um homem que mergulhou profundamente nos estudos de orquestração, arranjos e regência e continuou fazendo uma música totalmente saborosa, peculiar e altamente brasileira;, explica. E a escolha da intérprete foi plenamente aprovada pelo autor, tanto que ele aceitou o convite para participar do disco, dividindo com ela os vocais em Gingado dobrado.

Em Na boca do Lobo entram exemplares dos primeiros anos (como Upa, neguinho, de Edu e Gianfrancesco Guarnieri, e No cordão da saideira), da parceria com Chico Buarque na criação de trilhas sonoras para musicais (O circo místico, Meia-noite) e de encontros com Capinam (Gingado dobrado, Viola fora de moda, Negro negro), Joyce (Tempo presente), Paulo César Pinheiro (Vento bravo) e Vinicius de Moraes (Canção do amanhecer). Poderia ter muito mais (faltam músicas conhecidas como Pra dizer adeus, por exemplo), mas a contenção do repertório é o que propicia uma das qualidades do álbum, que resulta bem resolvido, enxuto, sem sobras.

Sonoridade
Na função de diretor musical, o violonista Ronaldo Rayol se encarregou de adaptar esse repertório à voz e ao jeito de cantar de Vânia Bastos. Optou por uma sonoridade em que prevalecem os instrumentos acústicos, capaz de ganhar contornos jazzísticos (em Tempo presente, por exemplo) ou ser marcada pela percussão, ao mesmo tempo sutil e vigorosa (caso de Vento bravo). Mas sempre delicada como a voz da cantora.

Vânia ressalta a importância das ideias de Rayol para que Na boca do Lobo ganhasse a ;cara; que tem. ;Foi uma grande parceria mesmo. A ideia, sempre, era a de não descaracterizar as harmonias de Edu. Assim fomos recriando à nossa maneira, mas com esse respeito. Algumas músicas, como Negro negro e Upa, neguinho, por exemplo, ganharam outra cara;, destaca a cantora, que já havia gravado Edu Lobo em dois discos anteriores ; Canta mais (1994) incluía Frevo diabo (com Chico Buarque) e Diversões não eletrônicas (1997), Meio dia meia lua (outra parceria com Chico) e Ave rara (de Edu e Aldir Blanc).

Ouça trechos das músicas

No cordão da saideira

Vento bravo

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