Diversão e Arte

Em cartaz na Caixa Cultural com Mordendo os lábios, Hamilton Vaz Pereira tem relações afetivas com Brasília

postado em 02/08/2010 08:49
Na época do ginásio, a força dos Beatles, dos Rolling Stones e de outros fenômenos do rock alçou o diretor, autor e ator Hamilton Vaz Pereira, 59 anos, ao mundo da música. Mas um amor de adolescência fez com que ele trocasse o aprendizado por outro gênero artístico. "Ela me levou para estudar no curso da Maria Clara Machado, no fim da década de 1960", conta. "Mas logo fui abandonado (risos), então acabei me encantando pelo teatro e fiquei por dois anos no Tablado, o meu ponto de partida para a formação em artes cênicas", conta. Hamilton Vaz Pereira fez importante projeto em Brasília, como o Off-cena, e trouxe montagens nos anos 1970A peregrinação como estudante continuou por meio de cursos e oficinas na capital fluminense. Passou pelo Teatro Ipanema, que já sacudia a cena cultural carioca. No espaço, estudou com Amir Haddad, Ivan de Albuquerque e Rubens Corrêa, entre outras personalidades do teatro nacional. No ano de 1972, transformou-se em aluno do ator Sergio Britto, no Senac, onde conheceu outra iniciante, a atriz Regina Casé. "Tivemos uma sacação um com o outro no primeiro momento", relembra Hamilton. A partir daí, o contato entre os dois fortaleceu e começou a configurar a criação do antológico grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. "Quando começamos o teatro, era uma terra arrasada. Toda uma geração encantadora de dramaturgos e diretores da década de 1970 tinha abandonado o ofício teatral ou estava exilada no exterior", relata Hamilton. "O Asdrúbal surgiu com o seguinte dizer: estamos aí. O que nós fizemos com o Asdrúbal foi afirmar que a vida é muito boa, que é bela e forte, que não tem essa de negação da vida. Graças ao nosso trabalho e talento isso surgiu como um alento, um ânimo novo. E naquele momento esse ânimo foi reconhecido durante 10 anos", conta. Hamilton conta que, ao contrário do teatro político que tinha a palavra-chave "não", o grupo vinha com o "sim", com a afirmação permeada por um humor forte, consciente e feroz em cena. "O Asdrúbal surgiu com uma atitude positiva diante da vida. Nós não ignorávamos as dificuldades, mas chamávamos a atenção para beleza e a força da vida". Um dos líderes do lendário Asdrúbal Trouxe o Trombone, Hamilton revelou nomes como Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita e Patricya Travassos. O fim da companhia aconteceu como o encerramento de um ciclo, em que os integrantes da trupe tiveram por fim numa bela história para, em seguida, ir buscar outras. "Fomos atrás de outras maneiras de fazer e conhecer o teatro. Terminamos com o Asdrúbal depois de 10 anos de convívio diário, com o grupo nos educamos, nos informamos a respeito do mundo", ressalta o diretor. Clima de amigos O clima de trabalho dos anos 1970 é mantido até hoje. Além de atuar e dirigir, Hamilton também escreve e produz a maioria dos seus trabalhos. A relação com os antigos companheiros continua a mesma, nada de ressentimentos e mágoas. Tanto que Hamilton meio que se tornou diretor exclusivo de Regina Casé. Os dois estão preparando um projeto para o teatro que será realizado em 2011. O Correio insistiu, mas ele foi irrefutável. "Ano que vem lhe falo". Além da amiga Regina, Hamilton mantém outra dobradinha com ex-Asdrúbal:, no ano passado dirigiu Deus é química, com Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres. As boas relações se estendem até a capital da República, que teve início em 1974, quando esteve a primeira vez na cidade com a montagem de O inspetor geral, de Nicolai Gógol. No começo da década 80, Aquela coisa toda e A farra da terra foram as outras peças encenadas na cidade. Foi no ano de 1992 que Hamilton teve a sua mais profunda relação artística com a cidade a convite do jornalista Geraldo Vieira. Hamilton executou o Off-cena. "Um projeto de arte e cultura que nunca mais participei em outro lugar no país", afirma. Dos 900 inscritos, apenas 150 realizaram o curso. Hamilton trouxe uma turma de peso para ajudar a ministrar as aulas, como Helio Eichbauer (cenografia); Rosa Murtinho (figurino); Mário Manga (música). "A passagem resultou na criação do espetáculo Tamanduá Sam que ficou um mês em cartaz", diz Hamilton. A peça chegou a viajar para a cidade de Belo Horizonte (MG). Hamilton Vaz Pereira construiu sua carreira por trás das coxias e influenciou uma geração de grupos que vieram após a turma do Asdrúbal. Além da atriz Lena Brito, que o acompanha há um tempo, o diretor faz a cabeça de outros novatos, como Ivan Mendes e Bianca Comparato com quem divide a cena no espetáculo Mordendo os lábios que segue, de sexta a domingo, em curta temporada no Teatro da Caixa Cultural.

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