Diversão e Arte

Contradição ambulante

postado em 14/08/2010 07:00
Tatiana Carvalhedo interpreta a estressada Maria da PazComédia não precisa ser escrachada para fazer rir nem violenta para ser provocativa. No Monólogo Da Paz, as dramaturgas e atrizes Manuela Castelo Branco e Tatiana Carvalhedo (que dá vida à personagem) buscam esse equilíbrio para mirar em alguns dos desafios da mulher contemporânea, que vive pressionada pelo chefe, o filho, a magreza, o marido, a TPM; Escrito à quatro mãos, o texto confronta o discurso estéril da paz interior com a prática do corre corre diário de uma mulher que mal consegue conversar com a mãe sem ser interrompida várias vezes pelo celular. A peça está em cartaz na Sala Adolfo Celli (Casa D;Itália), hoje, às 21h15; amanhã, às 20h15, com temporada até o dia 26.

Metida em um taillerzinho pink justo, a atriz de 32 anos está à vontade no corpo da personagem ; que obviamente está a ponto de implodir de tanta raiva contida, e que segue todo o tempo defendendo o discurso do manter o controle, ter calma, rir de tudo, blabla-blá. A peça não dura mais que 50 minutos, mas exige fôlego da atriz ; que demonstra experiência e domínio de cena.

;Nada contra as práticas meditativas, mas não faz sentido não termos mais tempo para as pessoas que mais amamos;, diz Tatiana, que criou a personagem em 2006. A ideia do tema nasceu quando a atriz resolveu fazer uma performance para um evento sobre a paz e percebeu o quanto era difícil mantê-la na vida cotidiana. ;Me vi completamente louca no trânsito e não sou só eu. O mundo inteiro está assim;, aponta. ;Maria da Paz é a contradição ambulante;, resume Manuela, 33 anos, co-autora da peça que ela define como ;comédia nervosa ou uma peça nervosamente cômica;. O cenário ; todo branco e vazio ; também conversa com o tema, que esbarra no esvaziamento das relações.

Na maior parte do tempo, a plateia se sente confortável com o tom irônico e politicamente incorreto do texto. A peça termina deixando um sentimento de final feliz não óbvio, mas de construção e escolhas individuais. E Tatiana Carvalhedo encarna Da Paz com recursos técnicos, sensibilidade e carisma

Direção sutil
Acostumado a dirigir peças do grupo Teatro do Concreto com mais de 20 atores em cena e em locais abertos, Francis Wilker, de 31 anos, encena pela primeira vez um texto que dialoga com a cultura de massa. ;Ele não é besteirol, mas tem elementos dele. É uma peça política e irônica ao mesmo tempo;, avalia o diretor, para quem foi enriquecedor dirigir um monólogo, estilo que exige muita concentração do ator. ;Ela não tem com quem dialogar em cena; isso é um desafio imenso;, aponta.

O diretor também encantou as autoras. ;Ele trouxe novidades na direção e no texto. E é de uma generosidade muito rara;, elogia Tatiana, que demorou dois anos na captação de recursos para a montagem. Além da peça, as autoras escreveram um livro com textos inéditos e cenas da montagem. A publicação Da Paz, provocações cênicas e outros escritos está à venda na porta do teatro e nas livrarias por R$ 15. (RB)

DA PAZ - MONÓLOGO
Direção de Francis Wilker para texto deTatiana Carvalhedo e Manuela Castelo Branco, hoje, às 21h15; amanhã, às 20h15, na Sala Adolfo Celli (Casa D;Itália, 208/209 Sul). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Até o dia 29. Não recomendado para menores de 16 anos

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação