postado em 07/01/2011 09:23
Ouvir os discos da banda paulistana Os Haxixins é fazer uma viagem no tempo. Da capa dos LPs (sim, os dois discos deles saíram em vinil) ao visual dos integrantes, os videoclipes, as letras e, claro, a sonoridade das músicas, tudo remete aos anos 1960. "A nossa ideia quando começamos a fazer esse tipo de som era vivenciar aquela época. Não nos vestimos assim só para os shows. A gente respira e vive a coisa sessentista", explica o vocalista e baterista Ulisses Nogueira dos Santos, 29 anos, o Sir Uly.
A fidelidade estética poderia fazer desse quarteto da Zona Leste de São Paulo meros repetidores de algo do passado. No entanto, a boa assimilação de influências combinada com a criatividade dos músicos resulta em um trabalho excitante e de personalidade. Até porque, dentro do leque de possibilidades do rock feito nos anos 1960, os Haxixins se debruçaram em cima de uma vertente pouco explorada no Brasil: o garage punk psicodélico.
Ulisses conta que os Haxixins começaram oficialmente em 2003 e são a continuação de uma banda anterior, The Merry Pranksters. "Éramos um power trio, com outra formação, eu tocava guitarra. A gente curtia Velvet Underground, Cream, era um som mais experimental. Quando conhecemos The Seeds, piramos no som de teclado deles. Tentamos vários tecladistas até que encontramos o Alôpra, que está com a gente até hoje." Além de Alexandre "Alôpra" Romera e Sir Uly, integram o grupo o guitarrista Fábio Fiuza e o baixista Eduardo Osmédio.
O nome da banda faz referência ao Clube dos Haxixins, confraria de apreciadores de haxixe (entre eles, o poeta Charles Baudelaire) na Paris do fim do século 19. O escritor Théophile Gautier escreveu sobre as experiências do grupo em um artigo que depois seria publicado como livro (também batizado como O Clube dos Haxixins).
A sonoridade vintage que a banda apresenta nos discos é resultado da parceria dos Haxixins com o estúdio paulistano Berlim e seu proprietário, o produtor Jonas Morbach. "Gravamos com equipamento analógico, o que é mais complicado. Então nós e o Jonas quebramos a cabeça até conseguir esse som. Fomos aprendendo juntos. A gravação do segundo disco já foi bem mais fácil", comenta Uly.
Poucos meses depois da gravação do primeiro álbum, a banda foi convidada para ter o material lançado em LP pelo selo português Groovie Records, do produtor Edgar Raposo (que tem relançado em vinil diversas raridades do rock brasileiro). O disco de estreia (que leva o nome da banda) saiu em 2007. Pouco mais de um ano depois, ele foi lançado em CD pelo selo americano Get Hip. O LP Debaixo das pedras veio em 2010 e apresenta uma nova leva de petardos garageiros.
No exterior, a banda brasileira tem conseguido uma resposta muito melhor do que no Brasil. Os Haxixins já contabilizam três turnês europeias. Por lá, conseguiram fãs como Dave Andriese, organizador do Primitive Festival (evento referência para o tipo de som feito pelos paulistanos). A última viagem, realizada em outubro, passou por Espanha, Portugal, França e Alemanha. "A gente também ia para Itália e Grécia, até o Fábio quebrar a perna e termos que cancelar esses shows", conta o baterista. Não é a primeira vez que eles têm problemas na Europa. Na turnê de 2008, o então baixista Caio Sérgio se perdeu da banda e só apareceu dias depois. "Parece que colocaram o nosso nome na boca do sapo, jogaram na ribanceira e o sapo ainda não encontrou o chão", brinca Sir Uly.
Para 2011, o baterista conta que os planos são gravar o terceiro disco (mais psicodélico e menos garageiro, segundo ele) e tocar mais pelo país. "O objetivo é tentar fazer a banda engatar no Brasil, o que ainda não aconteceu. Depois de três anos indo para a Europa, queremos fazer o caminho inverso e viajar mais por aqui."
Os Haxixins
A banda paulistana lançou o segundo LP, Debaixo das pedras, pelo selo Groovie Records (www.groovierecords.com). Ouça em www.myspace.com/ oshaxixins. ****