Diversão e Arte

Megaexposição de Mariko Mori traz interatividade em instalações futuristas

postado em 25/01/2011 07:15
Mariko e a obra Wave UFO, que tem cápsula para três pessoas e pesa seis toneladas: no Pavilhão de Vidro do CCBB até abril;O Brasil é o local perfeito para compartilhar a ideia de se reconectar com a natureza;, acredita a artista japonesa Mariko Mori. A primeira parada da exposição Mariko Mori/Oneness, sob curadoria de Nicola Goretti e inédita no país, não poderia ser em outro lugar a não ser Brasília: as linhas futuristas que sediam o coração político da nação alargam-se para acolher peças deslumbrantes, forjadas com materiais de alta tecnologia e incrustadas de valores orientais.

Especialista em fotografia de moda e design, Mariko transfere as ideias de interação integral entre homem e máquina e homem e natureza, simuladas à exaustão em livros e filmes de ficção científica, para estruturas fulgurantes e plenamente comunicativas. Nenhuma de suas obras serve a uma contemplação passiva, estática. ;O título da mostra ilustra uma ideia que gosto de usar na minha obra, a de atravessar as barreiras entre pessoas, culturas e países;, explica a artista, em entrevista ao Correio.

Oneness, que ainda exibe vídeos, fotografias e desenhos da trajetória de Mariko, está instalada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de hoje a 3 de abril. Depois, segue para Rio de Janeiro (9 de maio a 17 de julho) e São Paulo (22 de agosto a 23 de novembro). A exposição foi apresentada pela primeira vez no Museu Groninger (Holanda), em 2007, e passou por Dinamarca e Ucrânia.

Para a artista, a cultura pop, impulsionada por avanços científicos e tecnológicos, é a chave para que a arte consiga compartilhar ideias. ;É uma linguagem que você pode usar universalmente. Imagens que, mesmo em diferentes países, passam a mesma ideia. Pensamentos desconhecidos podem ser introduzidos por meio da ciência e da tecnologia, e as pessoas podem entendê-los. Pela cultura pop você pode se comunicar, é uma linguagem familiar;, comenta.

Ondas cerebrais

Das 10 obras expostas no CCBB, destacam-se Oneness, que dá nome à mostra, e Wave UFO. Ambas, que parecem saídas dos livros do escritor Philip K. Dick, exploram ao máximo as potencialidades da interatividade eletrônica. ;As duas são metáforas: Wave, sobre a entrada em um mundo diferente e Oneness, sobre um outsider que consegue se conectar com outros seres;, explica. A montagem das esculturas mobilizou técnicos da Áustria, da Itália e do Japão.

Apesar do notável apelo visual, que possibilita ao espectador a imersão em um mundo ao mesmo tempo conhecido (o pop) e intangível (a visualização de ondas cerebrais, a materialização da interatividade), a imaginação é a principal ferramenta de Mariko na elaboração de seus projetos. ;Por meio da ciência e da tecnologia, você pode compartilhar ideias de uma maneira muito mais fácil e entender mistérios da vida que eram desconhecidos ou estavam escondidos. Você pode criar uma nova visão porque o futuro está nas nossas mentes. Nós estamos, na verdade, imaginando o nosso futuro e quando você o imagina, você é responsável por ele;, conclui.

A conexão do homem com a natureza, apesar de sutilmente explicitada, revela o interesse da artista em conceitos de unidade e de solidariedade, segundo ela, fundamentais para uma modificação da percepção humana sobre o meio ambiente: ;O homem está desconectado da natureza por meio de sua própria cultura e nós voltamos na história e vemos que já estivemos muito mais próximos. Quando você se conecta a ela novamente, percebe que também é natureza, não apenas uma partícula dela;, teoriza.

Oneness

Mostra com 10 peças, entre esculturas futuristas, vídeos, fotografias e desenhos de Mariko Mori. Até 3 de abril. De terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22). Entrada franca. Informações: 3310-7087.

Oneness
; Os seis alienígenas (foto) de 1,35m de Mariko Mori reagem ao toque como se estivessem vivos. Feitos de technogel, eles são deformados pela interferência de seis visitantes, em sessões de 30 minutos cada uma. Apesar da interação ininterrupta, os extraterrestres não perdem os moldes originais e possibilitam uma conexão quase orgânica com os participantes: ;A ideia é que as pessoas se sintam fisicamente conectadas à obra e, por consequência, se tornem parte dela;, imagina a artista.

Wave UFO

; Aparência e interior de uma cápsula espacial: escada transparente, corpo brilhante, arredondado, e um salão interior em forma de planetário, com três suportes de conexão com o cérebro humano. Com seis toneladas, a estrutura pode receber até três visitantes por vez, em ciclos de 20 minutos. Eles se posicionam deitados em camas de technogel (material de poliuretano nem sólido nem líquido, usado em cadeiras, colchões e na medicina, por exemplo). Três eletrodos, ligados à testa do visitante, projetam na parede superior o comportamento das ondas cerebrais, captadas por um computador central. A experiência é singular: os desenhos digitais são traçados unicamente a partir de cada mente. Wave UFO estreou no Kunsthaus Bregenz (Áustria), em 2003, e depois foi para Nova York, Gênova e Veneza. No CCBB, a entrada é proibida para menores de 6 anos e não recomendada para menores de 16 anos desacompanhados.

Quem é Mariko Mori

; Nascida em 1967, em Tóquio, e radicada em Nova York, Mariko Mori é uma expositora habitual no Ocidente. Desde os primeiros trabalhos, no início dos anos 1990, explora conceitos de conectividade do homem com a natureza e a tecnologia, sempre fazendo referências ao meio ambiente e a artefatos da cultura pop, como seres extraterrestres e ciborgues. Suas obras foram apresentadas em importantes complexos culturais nos Estados Unidos e na Europa, como o Centro Georges Pompidou, em Paris, e os museus de Chicago, Dallas e Londres. Algumas peças pertencem a coleções do Museu Guggenheim e do Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York, e da Prada Fundação, em Milão, entre outros. Nos anos 1980, estudou no Bunka Fashion College, instituto de moda na capital japonesa. Quase uma década depois, mudou-se para Londres e foi admitida no Chelsea College of Art and Design. Seu trabalho foi reconhecido com menção honrosa na 47; Bienal de Veneza, em 1997, e com o prêmio anual como artista contemporânea japonesa, em 2001, concedido pela Fundação de Artes Culturais do Japão.

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