Diversão e Arte

Músicos brasilienses comentam a "crise do segundo disco"

postado em 09/02/2011 07:40
A história é antiga: banda nova lança elogiado disco de estreia, arregimenta fãs, chama a atenção da imprensa, viaja fazendo shows. Daí, derrapa no trabalho seguinte e coloca a perder o que havia conquistado. É a chamada ;crise do segundo disco;. Os motivos para a decepção são vários. No afã de dar continuidade ao bom resultado obtido com o primeiro álbum, muitos artistas se repetem no segundo ; ou pior, simplesmente não apresentam um repertório tão inspiradas quando antes. Outros, na tentativa de buscar novas sonoridades, acabam descaracterizando seu som e afastando o público. A história do rock comprovou que o caminho do meio, entre a inovação e a afirmação da identidade, pode ser uma saída interessante. Em um ano no qual diversas bandas brasilienses lançarão seus novos trabalhos, cabe a questão: a crise do segundo disco pega por aqui? ;Não passamos por uma crise criativa, eu diria. Encaramos o novo disco simplesmente como a continuação da nossa trajetória. Eu não queria me repetir em termos de composição. Mas à medida que as músicas surgem, elas vão apontando outros direcionamentos. E esse processo de construção é muito legal;, comenta Luc Albano, vocalista do quarteto Suíte Super Luxo sobre o sucessor de El toro, o elogiadíssimo disco de 2004 ; que ficou entre os 10 melhores do rock de Brasília em enquete feita com músicos da cidade pelo Correio em 2009. A crise criativa passou de raspão por Paulo Raymundo, baixista e vocalista dos Gramofocas. ;Fiquei meio travado na época em que estava casado, quando cai tudo na mesmice, sabe? Não vivia mais aventuras, nem tinha tempo de pegar o violão e ficar na frente da tevê tocando... Mas a partir do momento em que voltei a compor, o novo disco saiu quase inteiro;. O cantor Beto Só diz que passou por uma crise leve na época da preparação de Dias mais tranquilos (2008), seu segundo disco. ;Você tenta fazer algo diferente do primeiro, mas ao mesmo tempo quer mostrar que seu trabalho tem uma marca. Ou seja, quer manter unidade, mas fazendo algo diferente. E aí começa a se encher de perguntas sobre qual caminho a seguir. Isso gera uma insegurança. Daí, quando o disco sai, você fica meio chateado quando alguém diz que o primeiro era melhor, dá uma sensação de pequeno fracasso;, argumenta Beto. ;Eu acredito que essa crise pode abalar bandas famosas, que têm que corresponder às expectativas da mídia e de uma massa de fãs. O Club é uma banda independente, de modo que a única expectativa que temos a superar é a nossa ; nos cobramos muito para fazer sempre algo minimamente novo, instigante;, afirma Daniel Spot, baixista da banda Club Silêncio, que lança em 2011 Amor e terror, terceiro disco da carreira. A tranquilidade para compor, reforça Luís Fernando, vocalista e guitarrista do Club, é um trunfo: ;Nos vemos livres de pressão em termos de tendências e coisas do tipo. Não ter pressões externas sobre nós facilita e muito em termos de criação. Temos liberdade para provocar e instigar sem maiores preocupações;. Expectativas O quarteto Phonopop teve de lidar com pressões antes mesmo do lançamento do primeiro disco ; o que quase implodiu a banda, como lembra o vocalista e guitarrista Fernando Brasil: ;Existia uma expectativa em cima do grupo de ser a próxima banda de Brasília a entrar no circuitão mainstream;. A feitura do segundo álbum, ele conta, foi bem mais tranquila. ;Conseguimos trabalhar o disco exatamente do jeito que a gente queria. Os desafios foram mais técnicos mesmo, de dar coesão para o material, já que ele foi gravado em quatro estúdios diferentes.; Vocalista e compositor da banda Superquadra, Cláudio Bull não fala em crise, mas de uma certa responsabilidade. ;O Tropicalimo minimal (disco de estreia, de 2006) ganhou ótimas críticas Brasil afora, então acontece uma certa cobrança pessoal;, diz o compositor, que está em estúdio finalizando as gravações de Norte, o segundo rebento sonoro do grupo. Prestes a lançar o terceiro álbum, Beto Só conta que relaxou quando percebeu que o segundo disco era uma espécie de capítulo de um livro maior. ;Se o segundo capítulo não for tão bom quanto o primeiro, não tem tanto problema. O que importa no final é ter um bom livro (todos os discos que você vai lançar).; O Correio teve acesso aos novos discos dessas bandas. A julgar pelo que foi ouvido, a história continua e muito bem. Club Silêncio Amor e terror é o disco mais bem produzido da banda. As letras passeiam por assuntos diferentes dos apresentados nos outros trabalhos, mas a marca da banda continua o encontro do rock com a eletrônica. Acompanhe as novidades em www.clubsilencio.com.br. Previsão de lançamento: março. Suíte Super Luxo Gravado ao longo de quatro anos, o segundo disco da banda está mais seco, direto e ensolarado. Três músicas do novo repertório podem ser ouvidas em www.myspace.com/suitesuperluxo. Previsão de lançamento: 1; semestre. Gramofocas ;A gente é uma banda que tem a capacidade de não evoluir;, brinca o baixista Paulo. Abordando com irreverência bebedeiras e aventuras amorosas, No bar tem a mesma pegada punk rock ;ramônico; de sempre. Duas faixas novas estão www.myspace.com/osgramofocas. Previsão de lançamento: 1; semestre. Superquadra ;O disco conta com a participação de uma cabeçada do rock de Brasília;, adianta o vocalista Cláudio Bull. Produzido por Zé Pedro Gollo e Rafael Farret, o disco já tem 70% das músicas captadas. Previsão de lançamento: 1; semestre. Phonopop O quarteto refinou seu rock de clássicas influências britânicas e aparece mais seguro no segundo disco. ;Sai ainda no primeiro semestre pelo selo Senhor F Virtual. Além de estar na rede para download, o disco também terá versão em CD;, conta o vocalista Fernando Brasil. Novidades em www.myspace.com/phonopop. Beto Só Melancólico e sincero, o terceiro disco de Beto (batizado Ferro-velho de boas intenções) é o mais acústico da carreira do cantor, com violões e violoncelos bastante presentes nas canções. Um aperitivo pode ser encontrado em blogdobetoso.blogspot.com. Previsão de lançamento: 1; semestre. * Quem também entra em estúdio em 2011 para gravar novos discos: Nancy, Tiro Williams e Móveis Coloniais de Acaju. Ouça "Favas", da banda Suíte Super Luxo Ouça a música "Polaróides", da Phonopop Ouça "Amor e terror", do Club Silêncio Ouça "Boas intenções", de Beto Só Ouça a música "Bebe por beber", da banda Gramofocas

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