Diversão e Arte

O cinema abre cada vez mais espaço para a música independente

postado em 06/03/2011 07:00
A cantora Blubell emplacou uma música em Bruna Surfistinha e o rapper Emicida entrou na trilha de BróderSer músico nos dias de hoje, na maioria das vezes, não quer dizer apenas tocar um instrumento ou soltar a voz ao microfone. Com a crise da indústria fonográfica e a incapacidade (ou o desinteresse) de as grandes gravadoras investirem em jovens talentos, os artistas independentes se viram como podem. A internet ainda é a principal aliada, mas há outros caminhos. O cinema, por exemplo, abre cada vez mais espaço para a música independente. Desenrola, Bruna Surfistinha e o ainda inédito Bróder são alguns filmes que incluem novos nomes em suas trilhas sonoras.

A produção da trilha de Bruna Surfistinha ficou a cargo de Tejo Damasceno, Rica e Gui Amabis, integrantes do coletivo Instituto. Para Tejo, a utilização de canções de artistas independentes acontece por dois fatores: pela qualidade dos trabalhos e pela dificuldade de as multinacionais liberarem músicas dos seus contratados. ;O preço que as gravadoras cobram é muito alto, e nós temos um valor fixo para fazer a trilha. Unimos o útil ao agradável: conseguimos realizar uma trilha legal e ajudamos a promover esses artistas;, argumenta Tejo.

[FOTO2]Bruna Surfistinha conta a história de uma prostituta que ficou famosa, interpretada por uma atriz conhecida, mas o diretor Marcus Baldini não queria um filme popularesco. Com cara de rock alternativo, mas transitando pelo pop, o funk e o brega, a trilha traz composições originais de André Lucarelli e Rica Amabis, as bandas internacionais Radiohead, The Zombies e Flaming Stars, e artistas nacionais, como Holger, Blubell e Céu.

Blubell é uma cantora paulista que lançou o segundo CD, Eu sou do tempo em que a gente se telefonava, um mês antes da estreia do filme. Além da música What if..., na trilha sonora de Bruna, ela emplacou Chalala, de sua autoria, como tema de abertura da série Aline, da TV Globo. ;É difícil saber quem compra os discos ou vai aos shows por causa do filme ou da série, mas é importante aproveitar a visibilidade que eles proporcionam;, comenta Blubell.

A mineira Érika Machado, por sua vez, entrou para a trilha do filme Desenrola com a música No cimento. Para ela, o que tem feito a diferença na divulgação dos artistas independentes são as leis de incentivo. Foi por meio delas que conseguiu lançar seus dois álbuns, No cimento e Bem me quer mal me quer. ;Não sou contra as grandes gravadoras, mas percebo que esperar por elas não é mais o caminho;, diz a cantora.

Bom momento

Bruno Levinson, diretor artístico da Oi FM, criador do festival carioca Humaitá pra Peixe, do selo Cardume, e produtor musical de Desenrola, considera o momento ;maravilhoso;. ;São artistas inventivos, que seguem cada vez menos padrões e que fazem a música brasileira seguir em frente. A grande mídia não está atenta aos artistas independentes, mas eles não precisam mais dela;, afirma.

Com estreia marcada para 18 de março, Bróder conta a história de três amigos que cresceram em Capão Redondo, periferia de São Paulo. Um dos representantes do som feito por lá é o rapper Emicida, que entrou na trilha com a elogiada Triunfo. Para ele, a internet ajuda a nivelar os artistas, e os que têm trabalho relevante conseguem mais resultados. ;Por fazermos todo esse movimento fora das mídias, acabamos nos tornando o alvo das pautas, e isso volta em shows, comercialização de discos etc.;, acredita o rapper. ;Somos a prova de que o povo pode ditar o que o mercado vende, ainda que numa escala pequena. Mas a maior conquista é mostrar que é possível fazer a sua música da forma que você acha que ela deve ser feita e conseguir viver disso, alcançar espaços respeitáveis dentro do cenário musical.;

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