Diversão e Arte

Cilada.com reúne os talentos de Bruno Mazzeo e José Alvarenga Jr.

Ricardo Daehn
postado em 13/07/2011 10:30

Numa fase de mudanças, permeada por oportunidades no cinema, o ator Bruno Mazzeo tem reabastecido, com desafios, as pilhas de uma carreira que, com o recém-lançado Cilada.com ; sob o investimento de 400 cópias ;, coloca-o em alto patamar de aposta na telona. Amadurecimento tem sido palavra de ordem para ele que, novamente, arrisca-se como coprodutor do novo longa. Autônomo, em certa medida, ele diz que ;joga junto; com o produtor Augusto Casé: ;A minha parte de produção, no longa, é mais artística. Fico mais pela escolha do elenco e ajudo no corte final;. Sem estrelismo, ele ainda credita muito do resultado final ao diretor José Alvarenga Jr. ;Ele foi um catalisador. A gente trabalha junto desde A diarista. No filme, ele trouxe, por exemplo, a trama da internet;, explica. Voltando para si, Mazzeo conta, abaixo, mais dos desafios de Cilada.com ; ;de drama de interpretação, e tudo mais, foi o máximo que já fiz;, sublinha ;, além de pincelar ideias dos novos projetos para as salas de cinema, como o filme de Johnny Araújo Jardim perfumado, a ser gravado no ano que vem, em São Paulo, ao lado de Pedro Neschling. Leia abaixo ponto a ponto com Bruno Mazzeo:
Bruno Mazzeo (E) em cena do filme Cilada.com
Pedigree do humor
Minha referência número um, mas não só artística, foi meu pai (Chico Anysio). Quando comecei a assistir, existiam programas como Chico Anysio show, Viva o gordo e Os Trapalhões. A gente não tinha tevê a cabo, então via pouca coisa de fora, como o Saturday night live, que até nem entendia muito, por faltarem legendas. A admiração pelo meu pai era afetiva: eu frequentava os estúdios, na Cinédia, e gostava de ir, sempre quando tinha algum feriado escolar. Como referência no teatro, cito Pedro Cardoso que surgiu, com o Felipe Pinheiro, com as peças do besteirol. Foi marcante pelo descompromisso e pelo chutar de balde. São referências ainda o Seinfeld, Larry David, Woody Allen, Nelson Rodrigues (risos) e Monty Python.

Malícia e baixaria

Como artista, acho que esse limite não pode vir de fora pra dentro. Cada um sabe do seu limite. É livre: cada um faça o que quiser, mas assuma atos e consequências. Como público, já aconteceu de eu me incomodar com alguma coisa e mudar: não me incomodar mais. Na peça Os famosos quem?, feita há 10 anos, numa linha do Terça insana, tinha um quadro que era uma tevê do Comando Vermelho. Com ele, muita gente se incomodava. Depois que tive filho, e fui rever o material em DVD, aquilo até me incomodou. O que eu não gosto é da baixaria pela baixaria. Peguei até um pouco de bode da expressão politicamente incorreto. O humor sempre é politicamente incorreto, com o Woody Allen, com o Nelson Rodrigues. A agressividade é que não pode ser colocada nessa fila. O politicamente incorreto não pode ser colocado como salvo-conduto pra você fazer o que quiser. Quem manda o síndico tomar; não é politicamente incorreto, é mal-educado, mesmo.

Comédia romântica

A comédia romântica entrou depois em Cilada.com. Começamos com as galhofas, com os episódios de repercussão do caso da internet. Depois, a gente injetou a parte romântica para tirar o peso da escrotidão inicial do personagem central. Para as pessoas não ficarem contra ele. Eu gosto muito do Superbad. Ele veio com a inovação da coisa humana dos personagens dentro da galhofa. Eu até brinco que se trata de uma porraloquice romântica. Adoro essa construção do Friends, também: o romântico entra forte, no limite de ficar piegas, vem uma piada e quebra tudo. Vai ficando bonitinho tudo, aí, vem a piada e quebra de novo.

Trilha sonora
Eu gosto muito de homenagear heróis na trilha. Acho que a gente vive um momento muito complicado e ruim de música no Brasil. O Lobão (que tem Por tudo o que for usada na fita) é um dos meus heróis. No filme, Muita calma nessa hora já teve o Leoni e, no programa, Junto e misturado teve o Ultraje a rigor. São os heróis de gerações e, às vezes, ficam meio escondidos, ofuscados por modismos. De novo, no Cilada.com, tivemos novidade, com a banda do vocalista pernambucano Matheus Torreão, Os Gutembergs, que foi montada num reality show do Multishows. Deles temos a faixa Oops; Coloquei uma foto sua pelada na internet (risos).

Louco por cinema
O que podia ter tirado do Cilada.com, a gente tirou. O resultado final me agradou, sim. É claro que tenho questões. Mas, disso, não vou falar (risos). Em todo o trabalho a gente tá aprendendo coisas. Do Muita calma nessa hora pro Cilada.com, já vi um salto muito grande. A gente tá sempre amadurecendo. O primeiro roteiro que fiz foi o Malu de bicicleta, com os cinco tratamentos iniciais. Quando eu saí, e o roteiro ficou com o Marcelo Rubens Paiva, ficou muito pouca coisa minha. Aliás, é do Marcelo a peça E aí, comeu? que estamos adaptando para o cinema, e que terá uma censura de 45 anos, pelo o que a gente brinca. Pela frente, ainda tenho Totalmente inocentes, uma sátira aos filmes de favela, na qual faço um PM, sob a direção do Rodrigo Bittencourt. Depois, em agosto, vou fazer o Vai que dá certo (do Maurício Farias). Serei roteirista de Muita calma 2, e, para o Cilada 2, planejo investir num tipo de road movie, mas isso a depender dos resultados do primeiro.


Ele já foi eleito um dos 100 brasileiros mais influentes, em votação de revista de circulação nacional; abraçou o desafio de entreter a massa, com a comédia que explora o meio virtual Cilada.com (há semanas em cartaz, com meta de chegar aos dois milhões de pagantes); comandou uma dezena de filmes na carreira em cinema e parece se multiplicar, à frente da extensa lista de bem-sucedidos seriados feitos para a Rede Globo, como Os normais e Macho man.

Entre tanta versatilidade, o diretor José Alvarenga Jr. rejeita armaduras ; ;não sou cria da Globo: estou lá há apenas 14 anos;, sublinha ;, ao mesmo tempo em que expõe o tino de empreendedor: reciclou Os normais para a telona, por duas ocasiões, e reaproveitou o dividendo de público em cinema de Divã, reformatado para a tevê. ;Foi como o que aconteceu com o A mulher invisível, aproveitamos personagens fabulosos, e que já estavam testados, independentemente do aval de um diretor artístico. Fui fazer o Divã, pela personagem da Mercedes, e por ter uma atriz como a Lilia Cabral;, explica. Leia abaixo ponto a ponto com José Alvarenga Jr.:

Meio virtual

Me dou ao direito de, por exemplo, não estar no Facebook. Pelos meus filhos, vejo tudo o que está acontecendo. Acredito que a comunicação olho no olho é necessária, inclusive para a gente falar ;eu não gosto de você; ou ;eu amo você;. Por isso, de não ter filtro, é que percebo esse ódio, essa coisa meio irascível que está por trás da internet. Só na internet é que não existe o filtro. E isso é que converso com meus filhos: não dá pra se viver sem filtros. A civilização foi montada em cima deles. Ignorar isso, é uma conquista, no mínimo, esquisita. A internet não se apaga: qualquer ofensa vai ser para sempre. Acho que as pessoas se expõem muito e a juventude acha que a internet é um canal de expressão que eles não têm. É democrática, sim, mas há de se ter cuidado com a intimidade exposta. Num exemplo: até a edição da Playboy da Xuxa, da qual ela tanto quis comprar os direitos, está na internet.

Ação entre amigos

O Cilada.com está repleto de participação afetivas: os atores e humoristas não têm o mínimo pudor de um participar do trabalho um do outro. Em qualquer stand-up e no YouTube, o pessoal ; o Bruno Mazzeo, o Marcelo Adnet, o Augusto Madeira, a Dani Calabresa ; está sempre junto. Essa participação entre eles é muito bacana. Eles conquistam espaço, nessa geração que é muito unida. No programa de tevê Cilada essa galera já estava formada. Eles estão com uma autonomia grande: escrevem roteiros, se produzem e estão com confiança ; acho isso incrível. Eles vão pra qualquer espaço e dão show. Para eles, todo espaço é espaço artístico: sabem existir, em qualquer lugar.

Pacto anti-homofobia
O Brasil ainda é muito desigual em termos não apenas financeiros, mas de mentalidade. As pessoas ainda não aceitam coisas e a tevê tenta ampliar o discurso desse país. Mas, há coisas que, fatalmente, são rejeitadas pelo público. É um caminho gradual. Tem que ser como na novela das oito (Insensato coração): os caras tão juntos, tão falando do mundo gay, o desejo está visível ; é tudo uma preparação. Há um avanço num programa como o Macho man (que dirigo), com quase 26 milhões de pessoas assistindo. Sempre houve o personagem gay, mas ele era caricato nos programas do humor.

Poder global
O Daniel Filho foi o cara que me levou pra tevê. Devo a ele o amor que tenho hoje em dia pela televisão, diante da amplitude do alcance dela. No cinema, o Daniel Filho conseguiu criar um humor pra grande massa, no Se eu fosse você, ele pegou, de público, do menino de sete anos ao cara de 60. A Rede Globo tem os seus manuais de conduta e ética, como em qualquer empresa existe, mas, ela tem uma atmosfera plural, em termos artísticos. Não há um olhar sedimentado. Claro, porém, que há um cuidado com a audiência. Programas com 10 pontos não se pagam e saem do ar. Para o filme, apliquei minha ideia de que comédia tem que ser quente, com uma tensão favorável: não dá pra vir tudo preparado, todos têm que estar desarmados, sem ensaios anterior.

Bruno tevê x Bruno cinema
Quis trabalhar a dramaturgia: deixar o Bruno Mazzeo mais nervoso, mais antipático. O Bruno da televisão é muito mais na;f do que o do cinema. O do filme é muito agressivo. O desafio foi encaminhar o protagonista de um episódio violento de traição para o rumo da redenção. Refazer uma história romântica, superando os danos, é um caminho muito mais rico para o personagem do Bruno. Ele tem que ter a maturidade de aceitar os efeitos colaterais do amor. Para o filme, tirei o sorriso dele ; aquele sorriso de alguém que está sendo levado no arrastão e não tem como resistir. Fiz ele se revoltar e passar a ser ativo.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação