Diversão e Arte

No mundo azul do Tablado

postado em 07/08/2011 08:00
De um lado, uma dedicada profissional, dona de ;franqueza; (na definição do diretor Hamilton Vaz Pereira) e ;formadora de seres humanos;, como detecta o ator Marcos Palmeira; do outro, uma instituição sexagenária ; um espaço de convivência, que unia ;pessoas de diferentes camadas sociais, cores e idades;, pelo que sintetiza a atriz Malu Mader. Unindo as duas pontas, um documentário: O Tablado e Maria Clara Machado, assinado por Creuza Gravina, dona do ;projeto pessoal; que, a partir de 45 horas de filmagens e presença de 61 entrevistados, traça homenagem para a mais reconhecida das autoras de teatro infantil no Brasil. ;As peças são lindas, independentemente da idade da plateia. Elas levam uma mensagem especial;, observa ela.

Na produção, transparecem as situações de identificação das montagens, diluídas em imagens de arquivo, fotos e mesmo breves leituras dramáticas contemporâneas. ;A menina e o vento, por exemplo, mostra uma protagonista percebendo outros focos para a vida. Há a amizade do tímido Pluft, o fantasminha, que confia na menina da peça por ela ser criança, e assuntos como o amor incondicional de O cavalinho azul;, explica a diretora do longa, previsto para estrear até outubro, no ano em que professora faria 90 anos e o Tablado completa seis décadas.

Presente no filme, a crítica teatral Bárbara Heliodora, que já foi árvore e girafa em montagens de Maria Clara, comenta: ;Não eram textos que faziam as crianças de bobinhas, eles tinham conteúdo;.

Criado em 1964, o curso mantido pelo Tablado rendeu aperfeiçoamento para talentos como Luiz Carlos Tourinho, Louise Cardoso, Sura Berditchevsky e Marcelo Serrado, todos integrantes do documentário.

Estudante do Tablado por nove anos, Creuza Gravina tomou as rédeas do projeto, pela lacuna de registro audiovisual. ;Comecei quando Maria Clara estava viva e seria ela contando a história de sua vida, mas ela morreu antes. Não queria que as pessoas dessem depoimentos sofridos. Foquei nelas contando as experiências e a formação na escola;, explica.

Da ;soldada do Tablado; Andréa Beltrão ao marco zero para a carreira de Marieta Severo (;tudo começou aqui;, diz), O Tablado e Maria Clara Machado registra momentos especiais para os atores Lupe Gigliotti e Ernesto Piccolo. Enquanto a atriz (morta em dezembro passado) declama um poema para a professora (;teatro é jogo é alegria;/ ;fui pra lá (o Tablado), ressuscitar;), Piccolo comenta do medo inicial (;pra mim, ela era uma entidade;) até ser tomado pela emoção da lembrança de atuar em O cavalinho azul.

Painel de gerações
Munida de câmera digital e da experiência de mais de 15 anos de teatro, Creuza Gravina, que desenvolveu o roteiro, produziu e auxiliou na edição, contou não apenas com dotes de analista de sistemas para acirrar o senso de ordenação necessário à fita. ;Talvez, por ser virginiana;, brinca. Numa corrente larga, 61 entrevistados compõem o painel de diferentes gerações, além de colaborarem, ludicamente, com a colcha de retalhos formada por trechos de peças dispostos no longa (com 75 minutos). ;Teria material para fazer vários filmes ou uma série;, comenta a diretora Gravina. Cinco anos foram empregados no filme, que ainda exigiu mais dois anos para a legendagem, feita em inglês e espanhol.

Ultrapassando a abordagem artística, o longa, na percepção da diretora, que tomou parte em mais de 11 festivais, pode ampliar o público-alvo prioritário: estudantes de teatro e alunos de escola pública. ;Busquei um dinamismo, e o interesse pode vir também por causa das pessoas que estão na mídia e contam parte de suas formações. O filme mostra o espírito do trabalho em grupo e da união;, sublinha.

Requisitado por programações de cineclubes e escolas, O Tablado e Maria Clara Machado imprime um retrato de um ícone avesso ao posto de ;celebridade;, como reforça um dos entrevistados. Sem ter tido aulas com a mestra ; ;naquela época, só dava aula para crianças e idosos; ;, Creuza, entretanto, acompanhou parte do cotidiano de Maria Clara na secretaria do Tablado e nas estreias de peças. Foram momentos que complementaram o aprendizado. ;Para mim, ficou a valorização do teatro amador, o amor dela ao teatro. Ela tinha medo de a pessoa estudar só para adquiri registro profissional. Isso era uma consequência. Ela queria que fizéssemos tudo com muito amor, sempre pensando no que seria levado para o público;, conclui. (RD)

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