Diversão e Arte

Histórias recontadas

Até o fim do ano, filmes com visual retrô prometem fazer das telas de cinema uma extensão divertida e especulativa de épocas passadas

postado em 28/08/2011 14:06
Até o fim do ano, filmes com visual retrô prometem fazer das telas de cinema uma extensão divertida e especulativa de épocas passadasE se a tela do cinema fosse o quadro-negro das aulas de história nas escolas? Os professores certamente se sentiriam ofendidos, obsoletos, e os alunos mais preguiçosos vibrariam com a notícia. É claro que isso não vai acontecer ; pelo menos não nos próximos anos. Em 2011, os estúdios de Hollywood têm se comportado como descontraídos revisores da história: limpam a poeira de acontecimentos relegados a bibliotecas e reacendem conspirações e fatos populares por meio da ficção. Os filmes são de ;mentirinha;, é claro, mas carregam um ar solene, como se fossem reedições pop dos livros de história, às vezes até em 3D. Os caros e acelerados blockbusters nunca pareceram tão nostálgicos.

Anos 1940
Em cartaz nos cinemas brasileiros, Capitão América: o primeiro vingador, de Joe Johnston, tenta resgatar o orgulho do povo americano pelo Exército, que, atualmente, exibe um brilho desgastado pelas intervenções em conflitos no Afeganistão e Iraque. Retornando aos anos 1940, da Segunda Guerra Mundial, a fita de herói apresenta um inadequado candidato ao serviço militar: Steve Rogers é um fracote, mas um voluntário perfeito para os projetos secretos que vislumbram a criação de um supersoldado.
Os nazistas que se cuidem.

1960
Um artigo do diário espanhol El País notou nos filmes da Marvel (América, X-Men: Primeira classe e Thor) uma mensagem de alívio para os dias atuais de insegurança econômica. ;O gênero dos titãs parece o único a desfrutar, convenientemente trabalhado em Hollywood, de um rejuvenescimento econômico. E criativo;, verificaram os autores Rocío Ayuso e J.R. Marcos. Em Primeira classe, de Matthew Vaughn, esperado para chegar às locadoras no fim de setembro, os personagens dos quadrinhos também receberam um tratamento de pinceladas verídicas. Os jovens mutantes Charles Xavier e Erik Lehnsherr (o Magneto) sobrevivem num mundo amedrontado pela crise dos mísseis de Cuba, em 1962. Sem eles, os medos da Guerra Fria teriam se concretizado num novo (e atômico) conflito entre capitalistas e comunistas.

1970
Super 8 avança alguns anos na linha do tempo e se equilibra entre uma homenagem a clássicos de Steven Spielberg (como E.T. ; O extraterreste) e dramatização de memórias da infância do diretor J.J. Abrams. O ano é 1979. Uma turma de garotos, dada a aventuras com uma câmera Super 8 (escola de cineastas da época), flagra um acidente de trem. Depois, como investigadores mirins, descobrem verdades sobrenaturais por trás da tragédia. Como observou David Gritten, do periódico britânico The Telegraph, não há nada de aula de história no filme. O mérito é trazer de volta elementos típicos da época: o popular cubo de Rubik (conhecido no Brasil como cubo mágico) e o AMC Pacer, um veículo setentista de duas portas ;notavelmente feio;, conhecido do público americano. O cinema retrô tem os seus momentos de ingenuidade, em que parece se levar a sério demais. Mas escreve um futuro de generosas arrecadações.

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