Diversão e Arte

Na Mostra Brasília, o clima é de confraternização

postado em 29/09/2011 09:26

André Pedra e San Rogê, do curta Ouro de tolo, e Thaís Lino e a equipe de alunos de Átrio criminal: trajes especiais para a sessão

Foi na praça de alimentação do festival, há um ano, que a ideia faiscou: e se fosse possível produzir, em apenas uma noite, um curta-metragem sobre um forasteiro que procura a redenção em pleno Cine Brasília? Parecia uma sinopse divertida. O problema era que não havia dinheiro para transformar o roteiro (um grão de roteiro, na verdade) em cinema. Eis que, num rompante, um dos mentores do projeto sacou uma câmera digital. A produção de baixíssimo orçamento abriu a Mostra Brasília deste ano, na tarde de terça-feira. ;Hoje em dia, todo mundo pode fazer um filme. O nosso foi feito como quem não quer nada;, observa o diretor, Arturo Buzzi Filho. ;As pessoas gastam uma fortuna para criar umas coisas terríveis. Queremos mostrar que basta uma boa ideia para fazer um bom filme;, explica.

O curta em questão, Ouro de tolo, foi recebido com aplausos e risadas por um público generoso ; formado, em grande parte, por cineastas, produtores, roteiristas e amigos da equipe técnica. Na Mostra Brasília, o clima é de confraternização. Existe prêmio em jogo ; o troféu Câmara Legislativa, que oferece R$ 25 mil para o melhor curta da cidade (e R$ 15 mil para o segundo melhor).

Mas a praticidade do digital ampliou de tal forma o acesso à produção que cada filme se torna uma surpresa, uma festa ; boa ou má, canhestra ou não. A tela do Museu da República exibe até domingo uma maratona de 63 curtas brasilienses que, inscritos no festival, não foram selecionados para a competição oficial.

A mudança de endereço do evento ; que, no ano passado, era dividido entre o Teatro Nacional (digital) e o Cine Brasília (35mm) ; não incomodou os diretores. No primeiro dia, não houve ânimo para a polêmica. Nenhum dos 10 diretores que subiram ao palco do auditório do museu protestou sobre as alterações na estrutura da programação ; às vésperas do festival, houve quem criticasse a exclusão dos curtas em 35mm do Cine Brasília. ;Foi uma mudança boa. O Museu da República tem sido mais ativo culturalmente que o Teatro Nacional. É um marco da arte de Brasília, e está muito bem localizado geograficamente;, elogiou André Pedra, o ator principal de Ouro de tolo.

Estreantes

Para assistir à sessão do curta, André se vestiu a caráter. Com terno e chapéu, ao lado do roteirista e câmera San Rogê, estreou no Festival de Brasília em estilo ;passeio completo;. ;O nosso filme recupera um lado lúdico do cinema brasileiro que estava um pouco ausente no festival;, observa. Um tom muito diferente daquele que marca o drama Átrio criminal, produzido por alunos de ensino médio de um colégio particular da cidade.

Depois de vencer o ;Oscar; da escola (nas categorias melhor filme, roteiro e direção), eles inscreveram o curta de 19 minutos no festival. ;A proposta era criar um filme que interagisse com os livros do PAS. Mas o filme foi tão bem recebido na escola que as pessoas nos estimularam a fazer a inscrição;, conta a diretora, Thaís Lino, 17 anos.

Tal como o ator André Pedra, os 25 alunos da classe também foram à sessão com trajes especiais ; camisas confeccionadas especialmente para o dia, com apoio da escola. A experiência de dirigir o filme instigou Thaís a se aventurar em outros projetos cinematográficos: está produzindo um curta sobre a Tropicália. ;Ser cineasta está entre as minhas opções de carreira;, afirma.

Entre Ouro de tolo e Átrio criminal, o primeiro dia de Mostra Brasília foi dominada por diretores ainda pouco conhecidos na cidade, que dão os passos iniciais. Do humor negro (Como fazer um macarrão à bolonhesa, de João Rafhaell) ao documentário musical (Engels Espíritos, de Rafael Morbeck), Brasília se fez babel. E aplaudiu a si mesma.

MOSTRA BRASÍLIA

Exibição de curtas brasilienses. Até domingo, às 15h, no auditório 1 do Museu Nacional da República (Eixo Monumental). Entrada franca. Não recomendado para menores de 14 anos.

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