Diversão e Arte

Conversa com cineasta - Evaldo Mocarzel, 51 anos

Mocarzel combate a crença de que fazer bom uso de verbas públicas na produção cinematográfica é obter sucesso comercial

Ricardo Daehn
postado em 02/10/2011 08:00
Soa quase como um casamento a relação entre o cineasta fluminense Evaldo Mocarzel e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Nessa integração entre um patrimônio cultural zeloso das bases críticas, que favorecem debates e educam público afoito, e um diretor de cinema que, há mais de 10 anos, aposta em registros documentais éticos e precavidos em termos da apropriação das imagens dos personagens enfocados, o Cine Brasília parece servir de templo para celebrar tal matrimônio. Foi lá que, ainda em fase de namoro, pela produção À margem da imagem (2002), Mocarzel foi laureado com o prêmio Margarida de Prata, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), antes de competir no festival por produções como À margem do concreto (2006), Jardim Ângela (2007), À margem do lixo (2008) e Quebradeiras (2009).

Se participar da seara formada no festival, na opinião de Mocarzel, ;é estar na linha de frente do cinema independente e autoral que se faz no Brasil;, aos 51 anos, ele novamente pode se sentir contemplado já que o curta Encontro das águas (codirigido por Bruno Torres) ; um estudo sensorial de ambientação na Chapada dos Veadeiros (GO) ; está na Mostra Brasília, com exibição programada para hoje, no Museu Nacional Honestino Guimarães.

Pelo que conta, a fita deve ser mais uma contribuição em defesa do contrapeso ao cinema comercial. Aliás, na ;eternamente embrionária ;indústria; de filmes nacionais;, como ele define, a experimentação visual de obras investigativas deveria buscar harmonia perante o dito ;cinema comercial;.

No cenário atual das produções audiovisuais, Evaldo Mocarzel questiona equívoco adotado até na mídia da ;defesa de que fazer bom uso de verbas públicas é atingir recordes de bilheteria e produzir blockbusters a todo custo;.

De volta ao campo da capital cinematográfica que atribui prêmios Candango, um elogio exaltado pelo cineasta ; ;o Festival de Brasília trata o filme documentário e a ficção propriamente dita com a mesma deferência, sendo tudo cinema; ; pode vir a ruir em 2012, e ameaça azedar, em parte, a estável relação do cineasta com a cidade. Uma turbulência que, seguramente, não vai liquidar o eterno apreço de empolgação: ;Em Brasília, o longa À margem do concreto (2006), que focalizou a luta dos movimentos de moradia em São Paulo, ganhou o Prêmio do Público em Brasília, com aval da sempre calorosa plateia. Isso recarregou por muitos e muitos anos a minha garra de fazer cinema no Brasil;.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação