Diversão e Arte

Na festa de 91 anos, Seu Teodoro "cai na farra"

postado em 11/11/2011 09:04
Sentado no camarote, abrindo a todo o momento o largo sorriso, Seu Teodoro, o embaixador da cultura maranhense no Distrito Federal, recebeu de braços abertos a comunidade, que comemorou com ele o 91; aniversário. Nem o enfisema pulmonar, que agravou seu estado de saúde há poucos meses e agora o obriga a estar sempre na companhia de um balão de oxigênio, foi capaz de conter a animação. Ao lado da mulher, Maria Sena, ele tocou sua matraca (instrumento percussivo feito em madeira), ganhou apertos de mão, elogios, presentes (até uma estátua de Nossa Senhora Aparecida) e posou para fotos. A festança, que começou de manhã e se estendeu até a noite de quarta-feira, contou com 11 apresentações de grupos locais e do Maranhão, e reuniu gerações de parentes, amigos ou simplesmente gente que admira a devoção do mestre à cultura popular.

;Estou muito feliz. Começamos isso aqui no chão de terra batida e olha como está hoje;, comemorava, orgulhoso, enquanto admirava as paredes do Centro de Tradições Populares. Esse espaço em Sobradinho, que abriga todas as festas maranhenses, será transformado em museu quando o novo edifício for construído. Ao chegar, por volta das 10h, o mestre cumprimentou, um a um, funcionários e frequentadores do centro. Volta e meia, brincantes que se apresentavam invadiam o cercadinho de Seu Teodoro para abraçá-lo.

Uma delas era uma das netas, a estudante de administração de empresas Aline Freire, 23 anos, que aprendeu sobre o sacerdócio cultural do avô nas salas de aula. Ela viveu na casa de Teodoro até os 10 anos, mas sempre manteve certa distância da tradição familiar. Aos 12 anos, teve uma aula sobre bumba meu boi na escola e assistiu a uma palestra do avô. Antes de ir embora, ele se despediu da menina de um jeito carinhoso, despertando a curiosidade da professora. Ao ouvir que a menina era neta dele, a professora disparou: ;Seu Teodoro é a cultura viva desta cidade!”.

;Eu o conhecia pelo amor, por manter a família unida. Nesse dia, descobri quem ele era para a cidade. Mas meu avô já era o amor da minha vida;, declara a neta, que não passa um dia sequer sem visitá-lo e hoje, apesar de não brincar o boi, ajuda a família em diversas atividades relacionadas à tradição.

Paixões
No dia dedicado a ele, Teodoro seguiu, com olhos atentos, as fitas coloridas e o gingado do boi, e a toada do tambor de crioula, que teve o traje novo abençoado em uma reza, durante o almoço. Ouviu samba, repente, embolada. Bateu palma, saudou amigos. Levando sempre na cabeça o chapéu de palha com tira vermelha e preta, referência à paixão pelo time rubro-negro carioca. ;Ganhei esse chapéu de palha, com uma tira preta, de um aluno da Universidade de Brasília. Tive que colocar a fita vermelha porque nunca uso preto sem o vermelho junto;, brinca.

A paixão pelo Flamengo é tanta que alimenta sonhos do maranhense: enquanto viver, ele fará o possível para construir, em pleno Planalto Central, um clube de regatas do Flamengo e uma versão local da Estação Primeira de Mangueira, sua escola de samba do coração.

Enquanto suas novas ;crias; não se concretizam, o boi, que já fincou pés no cerrado, deixa seu legado para os mais novos. Um deles é o pequeno Erick Ferreira, 6 anos completados hoje, que já circula com desenvoltura entre as muitas possibilidades do bumba meu boi. Ele canta, dança como vaqueiro e sabe tocar pandeiro, matraca e maracá (chocalho indígena).

Também pudera. Desde a barriga da mãe, a copeira Sílvia Ferreira, 28 anos, participa do ritual popular. ;Ele não presta atenção na escola. Só quer saber mesmo é de boi;, entrega a mãe. Durante a homenagem a Seu Teodoro, o menino aproveitou o salão vazio para ensaiar alguns passos como mestre do boi (que dança com a fantasia do animal). ;Quando estamos debaixo do boi, ele não arranha nem morde;, diz o menino, explicando suas preferências. Sinal de que a picada aberta por esse nonagenário de riso fácil, rumo a uma das tradições mais fascinantes do país, não tem mais volta.

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