Instrumentistas brasilienses consideram um equívoco achar Ringo Starr um baterista ;menor;. Nada mais injusto. ;Um destaque da arte do Ringo é a capacidade de acertar ; e carregar ; o tempo de uma música com uma consistência assustadora. Até hoje, sua bateria toca sempre no andamento certo, sempre no lugar certo do compasso;, observa Rodrigo Txotxa, ex-baterista da Plebe Rude, atual Natiruts.
Mais do que a precisão nas baquetadas, o beatle merece crédito pelos arranjos criativos. Em músicas como Ticket to ride, Taxman, Rain, Come together, While my guitar gently wheeps e The end, só para ficar em alguns exemplos, é fácil perceber a colaboração de Ringo, seja no arranjo ou no andamento das canções, nos timbres escolhidos para as peças da bateria ou nos efeitos de estúdio usados para adorná-las.
;Quando uma pessoa faz uma música, a composição de certa forma já diz do que ela precisa. Daí, se você colocar coisas demais no arranjo da bateria, pode acabar estragando a música. Ringo sabia exatamente o que colocar nas canções dos Beatles;, comenta o professor de bateria Janari Coelho.
Em suas aulas, Janari recomenda que os alunos aprendam a bateria da música Something, composição de George Harrison presente no álbum Abbey Road, lançado pelos Beatles em 1969. ;É uma música fácil de tocar e mostra como a contribuição da bateria em uma música pode ser mais do que rítmica.;
[SAIBAMAIS]
Disfarçada de simplicidade, a genialidade de Ringo está nos detalhes. Talvez por isso nem todos percebam seus méritos como instrumentista. Ainda que muitas das ideias percussivas dos discos dos Beatles tenham vindo de Paul McCartney, John Lennon ou George Harrison, era o toque de Starr quem executava a tarefa. ;Ele é um cara que, a partir do alto entendimento que tinha das batidas de Chuck Berry, de Fats Domino e do R norte-americano, conseguiu impor, mesmo nos momentos mais vanguardistas de seus colegas, a melhor tradição do rock;n;roll;, afirma Txotxa.