Diversão e Arte

Grupos de folias de reis celebraram a tradição em encontro em Planaltina

Nahima Maciel
postado em 12/12/2011 11:52
O 11º Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal reuniu 23 grupos vindos de diferentes estados brasileirosO violeiro Badia Medeiros jura que é possível ensinar lundu. É mais fácil do que catira. Esta última é dançada de dupla e os movimentos precisam ser sincronizados. No lundu, dança de origem africana criada para celebrar a liberdade, o trabalho é individual. Medeiros gosta de ensinar os passos. Tem a sensação de preservar e passar adiante algo antigo. E foi colocando jovens para aprender o lundu que ele passou o fim de semana. Entre o palco do 11; Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal e a tenda das oficinas, o violeiro de 72 anos observava contente o resultado de uma empreitada iniciada há mais de uma década, ao lado do amigo Volmir Batista.

Pela primeira vez desde que foi criado, o encontro deixou a Granja do Torto para dar início a um movimento itinerante que é uma das bases da própria folia de reis. A Praça São Sebastião, de Planaltina, virou palco do encontro que reuniu 23 grupos de todo o Brasil para celebrar a tradição. No próximo ano será a vez de Ceilândia. ;Depois de um ciclo, achamos melhor fazer o evento itinerante para haver uma descentralização. Um dos critérios será fazer em cidades que tenham folias de reis. No momento, já são oito;, avisa Batista.

Iniciado na quinta-feira e encerrado ontem, o encontro ofereceu a Planaltina quatro dias de música caipira, apresentação de grupos de folia e oficinas de dança, música, construção de brinquedos e instrumentos. ;Esta festa, para mim, trouxe o futuro. Ficamos um ano sem nos ver. É um encontro de amizades, essa festa não tem mais condição de acabar não. Vem gente de Minas, Mato Grosso, Goiás; É muito conhecimento. E amizade, tenha o tanto que tiver, sempre tem mais uma vaga;, repara Medeiros.

Folia de reis é coisa séria para o lavrador Domingos David, capitão do Devotos dos Magos, de Unaí. O grupo existe há 42 anos, mas os integrantes só descobriram o encontro há dois. Desde então, aceitam o convite da organização para participar. Se a folia é trabalho com compromisso ; afinal, narrar a história do nascimento de Cristo, da viagem dos reis magos e ajudar devoto a cumprir promessa é coisa grave ;, o encontro é momento de descontração e confraternização. ;É importante para a gente chegar nos encontros e ver tantos foliões, gente que não conhecemos;, acredita Domingos, violeiro de seis dedos que guia o grupo de 11 foliões.

Para Geraldo Arcanjo de Morais, o encontro no Distrito Federal faz parte da agenda de celebrações de fim de ano. Todos os anos, ele e o grupo Viagem dos Três Reis percorrem os 240km de Sagarana até o Planalto Central para encontrar os companheiros. É questão de perpetuar as tradições. ;Agora, estou tentando ensinar a meus netos, porque estou ficando velho. Essa cultura, a gente fica com medo de acabar e não pode deixar, porque isso é do início do mundo.; Carregar o título de capitão da folia implica também em cuidar da história. ;Para ser capitão tem que ter responsabilidade e dom. São eles (os reis) que dão o dom. Tem que tratar bem os companheiros, agradar as pessoas e ajudar a cumprir as promessas do jeito que o devoto fez;, explica.

Música caipira
Os foliões dividiram o palco do encontro com a música caipira de duplas do Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso. Vanderley e Valdeci, goianos moradores de Samambaia, lembraram que Planaltina é berço da viola e cidade ideal para começar a itinerância do encontro. ;Agora vai descentralizar. Planaltina é apropriada para receber a cultura tradicional caipira porque tem tradição;, aponta Vanderley. ;E tudo faz parte da mesma linhagem: folia vem da roça, mesma coisa para a música caipira;, acrescenta. Almir Sater cantou na abertura e, no sábado à noite, foi a vez de Zé Mulato & Cassiano, Liu & Léu e Márcio & Marcelo.

Boa parte do movimento durante os quatro dias de encontro ficou por conta dos próprios foliões dos grupos. Ontem e sábado, a população local engrossou o público ; cerca de 20 mil pessoas assistiram à programação. O contabilista Leonardo Cabral comemorou o evento tão perto de casa. ;A música de raiz é a minha raiz, minha família é de violeiro. A simplicidade do violão e o dueto das vozes me toca muito. E isso é a cara de Planaltina, é a cultura da cidade também;, explica.

Eu fui...

;Gosto muito da folia. Adoro demais. Me dá alegria no coração, me faz esquecer as coisas ruins, sai tudo da cabeça. Eu vou a todos os encontros;

Maria Francisca de Souza,
43, empregada doméstica

;É uma festa tradicional e é uma opção de lazer. Fui criado nesse ramo e é uma novidade, Planaltina nunca teve um encontro desses.
É maravilhoso;

Diego Ribeiro, 23, vendedor

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