Diversão e Arte

Jair Rodrigues comemora aniversário de carreira com lançamento de álbum

Para celebrar a fase, o cantor tido como uma "força da natureza", está lançando Samba mesmo, álbum duplo produzido por Jair Oliveira, em que interpreta 26 sambas

Irlam Rocha Lima
postado em 02/04/2014 08:30
Jair Rodrigues durante a gravação do disco: samba com sotaque de Sampa
Jair Rodrigues acabara de sair da adolescência quando, em 1959, deixou Igarapava, no interior de São Paulo, para tentar a sorte como cantor na capital. À época, porém, já chamava a atenção por seu vozeirão ; registro de tenor ; e, também, pela descontração que exibia ao se apresentar em casas noturnas. Nem de longe, porém, imaginava que viria a se tornar dos ícones do samba paulista e, por extensão, nacional.

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Demorou um pouco, até o sucesso chegar para Jair. Isso ocorreu em 1964, depois que Deixa isso pra lá (Alberto Paz e Edson Menezes), música considerada precursora do rap, invadiu as ondas do rádio de todo o país. Trecho da letra diz: ;Deixa que digam/ Que pensem/ Que falem/ Deixa isso pra lá/ Vem pra cá/ O que é que tem/ Eu não estou fazendo nada/ Você também;. Convidado para apresentações nos programas de tevê de maior audiência, ele fazia engraçada coreografia, utilizando as mãos.

A partir dali, uma sucessão de acontecimentos colocaram o cantor numa posição de relevo na MPB. Pertencente à geração que surgiu com destaque no período dos grandes festivais ; segunda metade de década de 1980 ;, dividiu palcos com Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina e Nara Leão. Um pouco antes, ele e Elis haviam conseguido um feito inimaginável: Dois na bossa, o LP que gravaram juntos, vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Emborafiel devoto do samba, Jair, ao longo de sua trajetória, flertou com outros gênero musicais. Tudo isso, tendo sempre o respeito do público, da crítica e dos companheiros de ofício.

Para celebrar 75 anos de idade e 55 de carreira, o cantor tido como uma ;força da natureza;, está lançando Samba mesmo, álbum duplo produzido por Jair Oliveira, em que interpreta 26 sambas. ;O Jairzinho propôs que eu gravasse sambas que ainda não tivessem registro na minha voz;, conta. A escolha recaiu, principalmente em clássicos, como Fita amarela (Noel Rosa), Luz negra (Nelson Cavaquinho), O mundo é um moinho (Cartola), Das rosas (Dorival Caymmi), Trem das onze (Adoniran Barbosa), Volta por cima (Paulo Vanzolini) e Apesar de você (Chico Buarque).

Foram adaptadas para a proposta do projeto algumas canções que nada têm a ver com o samba, mas pelas quais Jair nutre admiração e as quis nesse trabalho. É o caso de No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo), De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel), Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos), Eu não existo sem você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), que ele sempre gostou de ouvir na voz de Agostinho dos Santos. ;Ele foi um dos meus ídolos. Então, resolvi homenageá-lo, gravando essa música só na voz, sem nenhum acompanhamento;, revela.

Há, também, três faixas inéditas. Uma delas é Força da natureza, que Jair compôs em 1974 com os amigos Carlos Odilon e Orlando Marques. ;Eu nem me lembrava mais desse samba. Aí, fui fazer um show em Juiz de Fora, onde mora o orlando, e ele me cobrou, dizendo que eu nunca tinha gravado a nossa música.;


26
Quantidade de canções que Jair Rodrigues canta no disco Samba mesmo

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Samba mesmo
Álbum duplo de Jair Rodrigues, com 26 faixas, produzido por Jair Oliveira. Lançamento da Som Livre. Preço de cada volume R$ 24,90.


Trajetória

1962 ; ;Gravei meu primeiro disco, um 78 rotações que trazia a marchinha O marechal da vitória, de Alfredo Borba, em homenagem a Paulo Machado de Carvalho, dono da TV Record, que havia sido o chefe da delegação do Brasil, na conquista do bicampeonato mundial, no Chile.;

1963 ; ;Lancei O samba como ele é, o primeiro LP, pela Philips (atual Universal Music).;

1964 ; ;Deixa isso pra lá (Alberto Paz e Edson Menezes), que o Herbert Viana, tempos depois, disse ter sido o primeiro rap brasileiro, estourou nas rádios de todo o país.;

1965 ; ;Gravei com a inesquecível Elis Regina, no Teatro Paramount, em São Paulo, o LP Dois na bossa, produzido por Walter Silva, com um extenso pot-pourri de sambas. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias, recorde absoluto na época.;

1966 ; ;No primeiro Festival da Record, os jurados elegeram A banda, de Chico Buarque, como vencedora; e o público escolheu Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, interpretada por mim. O júri, por sugestão de Chico, deu o pimeiro lugar para as duas músicas, que foram aclamadas ao final;.

De 1965 a 1968
; ;Com Elis apresentei o programa O fino da bossa, na TV Record, por onde passaram, Dorival Caymmi, Ataulfo Alves, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Agostinho dos Santos, e os iniciantes Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Nara Leão.;

1970 ; ;Fui convidado para gravar Irmãos Coragem, tema de abertura de novela homônima da TV Globo, que se transformou num enorme sucesso.;

Entre 1973 e 1983
; ;Por sugestão da Philips, gravei Antologia de serestas, produzido por Luis Roberto, do grupo Os Cariocas.;

1999 e 2000 ; ;Pela Trama lancei dois álbuns sob o título 500 anos de folia, com sambas e marchinhas, comemorativos dos 500 anos do Brasil.;

2014 ; ;Lançamento do álbum duplo Samba mesmo. Com eles, comemoro meus 75 anos e 55 anos de carreira, cheio de vigor.;


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