Diversão e Arte

Eduardo Sacheri fala ao Correio sobre relação entre futebol e ditaduras

O escritor argentino fará palestra nesta quarta-feira (16/4) na 2ª Bienal do Livro

postado em 16/04/2014 09:17

Eduardo Sacheri , escritor Argentino
O futebol faz parte do universo ficcional do escritor argentino Eduardo Sacheri. Graduado em história, ele trabalhava como professor universitário nos anos 1990. Até que, aos 26 anos, começou a escrever relatos de meninos de um bairro em Buenos Aires que se relacionam por meio do futebol. Os contos eram lidos em um programa transmitido pela Radio Continental. Em Brasília para uma palestra hoje sobre a relação entre futebol e as ditaduras latino-americanas, Sacheri fala ao Correio.



Entrevista / Eduardo Sacheri

Como a ditadura e o futebol se relacionam?


Acredito que as ditaduras ; não só na América Latina ; souberam explorar, com objetivos publicitários, os grandes eventos esportivos. Penso, por exemplo, na Alemanha nazista e na Itália fascista. Claro que no nosso continente, o futebol, ao estar tão associado a nossa identidade, foi um veículo preponderante para esse uso. A Copa do Mundo de 1978, em meu país, é um exemplo muito profundo desse aparato do governo.

[SAIBAMAIS]A ditadura militar é certamente um fator histórico que influenciou de maneira forte a criação artística e literária tanto no Brasil quanto na Argentina. Qual a relevância disso, mesmo décadas depois?


Aqui respondo sob a ótica da minha formação em história: a memória social, a construção coletiva das lembranças é essencial para definir a maneira como as culturas constroem seu presente e seu futuro. Nesse sentido, creio que a reflexão sobre o nosso passado, sobre o modo como o toleramos, processamos e enfrentamos ; ou não ; a essas ditaduras é uma chave para saber quem somos.

Você ganhou projeção mundial com o sucesso de La pregunta de sus ojos. Na história, é a paixão pelo futebol que desenlaça a trama. O futebol também está presente em outras histórias suas e é um dos temas que você vai abordar na bienal. É uma das suas paixões?


Sem dúvida, é um dos temas que cruzam a minha vida. Como jogador amador e torcedor fervoroso do Independiente (time argentino), o futebol marca minhas lembranças e vivências desde menino. E eu suponho que será assim até a minha morte.

O roteiro de Metegol, que teve sua participação, foi bastante elogiado pela crítica no ano passado. Como foi a experiência de traduzir para as telas toda a paixão por este esporte?


Acho que o maior desafio foi respeitar o espírito de Roberto Fontanarrosa, esse grande escritor argentino cujo conto Memorias de un wing derecho foi a base que usamos para o roteiro do filme. O outro desafio foi não cair no caminho fácil de usar a paixão pelo futebol como uma chave para todas as portas emocionais pura e simplesmente. Tentamos abrir outras portas, outros caminhos para enbasar a profundidade emocional dos personagens.

O que você pensa do Brasil e da Copa este ano no seu país vizinho? É um evento inspirador?


Apesar do sucesso de seu romance, a maioria da sua obra é composta por contos. Você prefere histórias mais curtas? Você sente que o público tem alguma preferência ?

A primeira coisa que penso é que sera muito difícil que vocês não ganhem a Copa! Quanto à possível inspiração literária, creio que deve-se deixar passar um tempo, para que as ações e as emoções se sedimentem. Só então vai ser possível decidir se a Copa do Mundo foi proveitosa nesse sentido de inspiração literária.

Por fim, tem algum autor brasileiro que você admira ?

Temo ser pouco original ao citar Clarice Lispector. Mas é ela mesmo. Quanto aos jogadores, são vários! O primeiro que me vem a mente é o gigante Ronaldinho. É um esteta da bola, um verdadeiro artista.

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