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Morrissey explora novos sons em 'World peace is none of your business'

Vegetarianismo, política e sexualidade guiam as letras bem construídas de novo álbum

Mariana Peixoto/Estado de Minas, Estado de Minas
postado em 21/07/2014 10:39
Vegetarianismo, política e sexualidade guiam as letras bem construídas de novo álbum
A paz mundial não é da sua conta. Só mesmo Morrissey para destilar tal ironia já no título. Disponível nos formatos digital e físico, ;World peace is none of your business;, 10; álbum solo de Steven Patrick Morrissey ; e o primeiro em cinco anos desde ;Years of refusal; ; é um dos trabalhos mais interessantes que você ouvirá neste ano.

Com trajetória recente cheia de altos e baixos ; aí incluídos problemas de saúde que fazem com que suas turnês sejam cada vez mais erráticas ;, o velho Moz, do alto de seus 55 anos, continua mostrando que ainda tem muito a dizer. Mesmo que não se concorde com tudo o que ele diz.

O novo álbum chega na esteira de sua ruidosa autobiografia, com a promessa de ser lançada este ano no Brasil. Produzido e gravado na França por Joe Chiccarelli (vencedor de três Grammys por trabalhos com Café Tacvba, White Stripes e The Raconteurs), o disco foi antecipado por clipes de algumas faixas como ;Istanbul; e ;Earth is the loneliest place;.

A demora em lançar um trabalho inédito é compensada pela variedade de canções. ;World peace...;, por sinal, tem diferentes formatos: o álbum oficial conta com 12 canções; há uma versão de luxo com seis faixas-bônus.

O rock, a quem seu nome sempre estará ligado graças aos Smiths, ganha aqui outros ecos. Tem guitarra flamenca (;Earth is the loneliest planet; e ;The bullfighter dies;) como também música clássica (;Oboe concerto;). Um dos últimos grandes letristas do rock, Morrissey destila no novo álbum suas próprias idiossincrasias. Para uma maioria que se formou por meio dos versos irônicos, amorosos, dolorosos e por vezes também contraditórios tanto dentro quanto fora dos Smiths, ;World peace...; é um prato cheio, pois abrange todo o universo de Morrissey: política, vegetarianismo e sexualidade.

Ouça a faixa ;Earth is the loneliest planet;:
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A canção-título, que remonta aos Smiths, dispara: "Each time you vote, you support the process/ Brazil, Bahrain, Egypt, Ukraine/ So many people in pain" (;Cada vez que você vota, você apoia o processo/ Brasil/ Barein/ Egito/ Ucrânia/ Tanta gente em agonia"), acompanhada por belo solo de guitarra. Na sequência, ;Neal Cassady drops dead; relata a reação do poeta beat Allen Ginsberg ao tomar conhecimento da morte de seu antigo companheiro. Aqui a guitarra vai ganhando camadas distintas no decorrer da canção, até cair num solo quase choroso.

Morrissey canta a morte de um toureiro, defendendo a vitória do touro (;The bullfighter dies;) e, dizendo-se cansado de homens e mulheres, já que nunca matou ou comeu um animal, coloca-se acima deles: ;I;m not a man/ I;m something much bigger and better than/ A man;. Trocando em miúdos: é algo maior e melhor do que um homem. Este é Morrissey. Melhor ou pior, não dá para ser indiferente a ele. Ainda bem.

Na primeira pessoa


Lançada em outubro de 2013 na Inglaterra, a autobiografia de Morrissey, antes mesmo de vir a público, levantou polêmicas. Foi publicada pela Penguin Classics, editora reconhecida por editar clássicos. No livro de 450 páginas ele descreve a infância dolorosa em Manchester e suas brigas com a gravadora Rough Trade. Também fala de rancores do passado, como com o baterista Mike Joyce, a quem dedica 50 páginas. Dá mais espaço para a vida pessoal do que ao processo criativo. ;Não sou mais infeliz do que qualquer outra pessoa;, afirma. No Brasil, a autobiografia será lançada pela Globo Livros. Mas não há data confirmada.

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