Diversão e Arte

Cartunista trabalha com vinicultor e registra experiência em graphic novel

Durante mais de um ano, Étienne Davodeau ficou nos vinhedos e na adega do produtor francês Richard Leroy, que, em troca, mergulhou no mundo das HQs

postado em 23/07/2014 08:31
Durante mais de um ano, Étienne Davodeau ficou nos vinhedos e na adega do produtor francês Richard Leroy, que, em troca, mergulhou no mundo das HQsO francês Étienne Davodeau é autor de HQs há mais de 20 anos e não sabia muita coisa sobre o mundo do vinho. Richard Leroy é vinicultor, quase nunca leu quadrinhos e não fazia ideia de como eram produzidas as histórias que costumam encantar crianças. Durante mais de um ano, Étienne foi trabalhar nos vinhedos e na adega de Richard, que, em troca, mergulhou no mundo das HQs sob a orientação de Étienne. A troca de experiências foi registrada em forma de livro, Os ignorantes (Ed. Martins Fontes).

Davodeau acredita que existem tantas maneiras de fazer um livro quantas de produzir vinho. Ele constata que ambos têm o poder, necessário e precioso, de aproximar os seres humanos. ;Foi um dos melhores anos da minha vida, trabalhando nas vinhas e bebendo;, conta. Em contrapartida, compartilhou um pouco da história de como são feitos as HQs e levou Richard para a gráfica onde são impressos seus livros. ;Eu acho que os quadrinhos são um canal para se falar sobre tudo que existe;, diz.



Conhecido por sua série Lulu Femme Nu que ganhou adaptação para o cinema no ano passado, Davodeau garante que o mesmo não deve acontecer com Os ignorantes. ;Foi uma experiência pessoal. Não quero ver nenhum ator fazendo o meu papel ou o do Richard no cinema;, brinca. Em entrevista ao Correio, ele contou um pouco sobre o processo criativo, o atual momento dos quadrinhos e sobre novos projetos.

Quatro perguntas para Étienne Davodeau

Foi fácil convencer o vinicultor Richard Leroy do seu plano? Como foi essa troca de experiências?

Por uma feliz coincidência, quando eu propus a ele essa troca de experiências, ele estava mesmo pensando em escrever sobre o próprio trabalho. Claro, eu não sabia disso. Mas meu projeto chegou em um bom momento. Então, ele concordou facilmente, exatamente como eu descrevo nas primeiras páginas do meu livro.

Você considera que os quadrinhos são um bom canal para se falar de enologia e gastronomia?

Eu acredito que os quadrinhos são um bom canal para se falar sobre absolutamente qualquer coisa nesse mundo. Hoje é uma arte maior, ao lado de filmes e romances. Nós, autores de quadrinhos, não devemos ter complexos e só produzir histórias de humor ou sagas de super-heróis. Documentários, biografias, autobiografias, reportagens jornalísticas;os quadrinhos podem servir para tudo, se os autores assim quiserem. Na Europa, assim como na América do Sul, é um momento muito excitante para a produção de HQs. Tudo é possível.

Um dos seus livros, Lulu Femme Nu, foi recentemente adaptado para o cinema. Como foi esse processo? O mesmo poderia acontecer com Os ignorantes?

Faz alguns anos que os cineastas franceses e produtores audiovisuais começaram a adaptar histórias em quadrinhos. Eles entenderam que as HQs são um ótimo lugar para achar grandes histórias. Foi isso que aconteceu com o meu livro Lulu Femme Nu. Dois produtores diferentes vieram até mim propondo adaptações. Sólveig Anspach, o diretor do Lulu femme nu, havia feito alguns filmes ótimos, com toques pessoais num universo bem humano. Não tive hesitações em dar minha permissão. Eu disse a ela para criar a própria história a partir da minha personagem Lulu. Dessa forma, a minha Lulu e a dela não são exatamente a mesma. Mas são como duas boas amigas, e isso é o mais importante. Agora, novamente, um produtor francês me pediu os direitos para fazer um filme a partir de Os ignorantes. Mas eu recusei a proposta. Essa história é sobre vinho e quadrinhos. E é uma história feita especificamente para ser em quadrinhos. Eu não quero ver nenhum ator me representando;ou no papel de Richard.

Você consideraria fazer o mesmo tipo de livro a partir de outra experiência de troca de vivências?

Quando eu estava trabalhando nas últimas páginas deste livro, um novo vizinho se mudou para a minha rua. Ele fabrica instrumentos de corda. Eu o observei fazer violinos, violas e baixos. Esse é um trabalho fascinante. Eu tenho certeza que seria um livro incrível sobre isso. Mas, como autor, um dos meus maiores medos é me repetir. Então, eu não posso fazer outro projeto de troca de experiências. Devo fazer outros livros de não ficção, mas eu preciso primeiro encontrar uma outra forma de fazê-los.

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